Durante o projeto Diálogos com a Sociedade em Rondonópolis, o promotor de Justiça Wagner Antonio Camilo afirmou que o racismo no Brasil se manifesta de forma sutil e “dissimulada”, diferentemente do modelo americano, que costuma ser mais direto.
O membro do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) ressaltou que, por não ser assumido, esse racismo se torna “covarde”, impedindo a autocrítica e a mudança de comportamento dos agressores.
O promotor explicou que o racismo não se limita à violência física e é praticado de diversas formas, incluindo ofensas verbais e o chamado “racismo recreativo” — que se disfarça de humor, mas humilha e perpetua conceitos discriminatórios. Ele destacou que, muitas vezes, o próprio agressor não se reconhece como racista, por acreditar que sua atitude é inofensiva.
Questão jurídica e histórica
Wagner Camilo diferenciou os crimes de injúria racial e racismo. Enquanto a injúria racial é direcionada a uma pessoa ou grupo específico, o racismo atinge coletivamente todos que compartilham de uma determinada identidade. O promotor usou o caso do humorista Léo Lins, condenado por racismo, como exemplo. Ele esclareceu que a condenação ocorreu não por causa do show, mas pela divulgação de trechos racistas nas redes sociais, que alcançaram milhões de pessoas e disseminaram o discurso de ódio.
O promotor também citou casos históricos, como o da bailarina norte-americana Katherine Dunham, que resultou na primeira lei contra o racismo no Brasil — que, infelizmente, era ineficaz. Ele lembrou que o Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por falhar em tratar o racismo com seriedade. Para Camilo, a luta contra o racismo é fundamental para resgatar a dignidade de uma população majoritariamente negra, que foi lançada à marginalidade após mais de 386 anos de escravidão.
Papel do Ministério Público de Mato Grosso
O promotor finalizou a conversa reforçando o papel do MPMT na repressão e prevenção do racismo. Ele enfatizou que, além de investigar e punir os crimes, a instituição atua na conscientização da sociedade para que essas condutas criminosas sejam cada vez menos frequentes. O promotor destacou que a instituição está de portas abertas para receber as denúncias da população.
Fonte: cenariomt