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Taise Spolti – Por que sentimos tanta vontade de comer ao final do dia e como isso pode ser controlado? – Descubra agora!

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É unĂąnime: todos os pacientes que eu atendo e todas as pessoas com quem eu converso reclamam que o final do dia Ă© o ‘ponto fraco’ delas. Final de tarde, bate aquela fome, vontade de comer atĂ© ‘o pĂ© da mesa’. Mesmo que vocĂȘ more em uma cidade grande e esteja na rua, no metrĂŽ ou no carro, esse horĂĄrio provavelmente Ă© aquele em que mais sentirĂĄ necessidade de mastigar alguma coisa.

Vendo essa constĂąncia de reclamaçÔes e dificuldades, resolvi trazer alguns dados importantes para vocĂȘs neste artigo —afinal, estar munido de informação nos faz ficar menos suscetĂ­veis a errar por desconhecimento.

O ritmo biolĂłgico

VocĂȘ jĂĄ deve ter ouvido falar sobre nosso ritmo biolĂłgico (ou ciclo circadiano). NĂŁo Ă© o Ășnico ciclo que existe, mas Ă© nele que irei me concentrar.

Dentro dos nossos principais ritmos biolĂłgicos, temos quatro distintos:

Circadiano: nossas 24h do dia, e tudo que acontece nele dentro dessas 24h (o sono, o despertar, a produção hormonal, etc);

Ritmo diurno: nossa relação com o ritmo da noite e do dia (claro / escuro);

Ritmo ultradiano: se encontra dentro do ritmo circadiano, e tem uma maior frequĂȘncia dentro das 24h do dia, incluindo a fome e as idas ao banheiro;

Ritmo infradiano: sĂŁo ciclos mais longos e que acontecem apĂłs vĂĄrios dias, ou seja, demoram para se repetir, mas sempre se repetem. Um exemplo Ă© o ciclo menstrual.

Olhando para o ritmo circadiano —que envolve aquilo que acontece dentro das nossas 24h, todos os dias—, temos uma informação importante, que Ă© a produção de cortisol.

O cortisol começa a ser produzido de manhã, quando o sol nasce. Com ele, nossa glùndula pineal entende que é preciso acordar e fazer tudo funcionar corretamente.

Esse hormÎnio vai sendo liberado no nosso corpo para que possamos executar nossas funçÔes ao longo do dia, inclusive como uma forma de amenizar inflamaçÔes, dores e desconfortos. Não à toa, quando temos que realizar algum tratamento com ação anti-inflamatória muito potente, usamos corticoides sintéticos.

Nosso cortisol tem o mesmo papel desses medicamentos, porĂ©m nĂŁo com tamanha força. AlĂ©m disso, durante o dia ele sofre alteraçÔes —isso nĂŁo acontece com a versĂŁo sintĂ©tica, em que o nĂ­vel sĂ©rico estĂĄ sempre adequado, mesmo com o passar das horas.

Ao final do dia, quando ele começa a reduzir sua potĂȘncia, nosso corpo entende que estĂĄ na hora de ‘se recolher’.

Isso mesmo: conforme o sol se pĂ”e, nosso corpo tambĂ©m começa a se recompor para uma noite de sono reparadora. O cortisol perde sua força, jĂĄ que ele, junto com outros hormĂŽnios, como adrenalina e endorfina, nos mantĂȘm em alerta, alegres, despertos e energĂ©ticos.

Para que possamos produzir a melatonina, o hormĂŽnio do sono, serĂĄ necessĂĄrio reduzir o cortisol, e entĂŁo entra em cena sua precursora, a serotonina.

Tanto a serotonina quanto a melatonina sĂŁo os hormĂŽnios que nos trazem a sensação de relaxamento profundo e nos levam a dormir. TambĂ©m trazem uma sensação de bem-estar, de recompensa, de ‘operação cumprida’ —e Ă© aqui, que moram os perigos.

Existe uma janela, que quem Ă© pai e mĂŁe de criança pequena conhece bem, conhecida como ‘a hora da bruxa’. A hora da bruxa Ă© conhecida por acontecer Ă s 18h: crianças pequenas e bebĂȘs que passaram o dia bem, sem tosse, sem choros ou dores, começam a sentir tudo de uma vez nesse horĂĄrio. Ficam reativos, tristes, incomodados.

A ‘hora da bruxa’ tambĂ©m acontece com os adultos, e Ă© nesse horĂĄrio em que estamos no carro, no trĂąnsito, ou chegando em casa, cansados, exaustos, entre 17h e 19h.

Nesse momento, nosso corpo, pela queda do anti-inflamatorio natural dele, isto é, o cortisol, sente todas as dores, fome, sede, cansaço, fraqueza, irritação, ao mesmo tempo que se prepara para a produção e liberação da serotonina, que servirå como precursora da melatonina mais tarde.

Se vocĂȘ nĂŁo presta atenção no seu comportamento, Ă© neste momento que atacarĂĄ seu armĂĄrio sem perceber.

Esse estado de ‘anestesia‘ tambĂ©m faz com que nĂłs, ao mesmo tempo que busquemos comida ou algo para nos satisfazer, fiquemos beliscando qualquer item que esteja Ă  nossa frente. Imagine a situação: enquanto vocĂȘ faz uma fatia de pĂŁo com manteiga, vai caminhando pela cozinha em busca do que vai jantar mais tarde e entĂŁo, enquanto come alguma coisa em uma mĂŁo, na outra jĂĄ entra no app de delivery e vai escolhendo o que deseja comer depois.

Esse ciclo sem fim pode se repetir no dia seguinte, e no outro, e na semana seguinte, durante toda uma vida
Afinal, é o ritmo natural de como essas substùncias estarão agindo no nosso corpo. Evoluímos assim: deveríamos ir dormir quando o sol se pÔe, acordar quando ele nasce. Mas sabemos que a realidade é outra.

E afinal, como burlar esse sistema?

Se vocĂȘ estiver na rua, no carro, no trabalho: tenha algo pronto e acessĂ­vel para comer!

Antes de consumi-lo, beba bastante lĂ­quido. Se hidratar lentamente enquanto acalma essa impulsividade normal do momento Ă© uma boa saĂ­da para controlar o quanto e o quĂȘ vai comer.

Esse tempo serĂĄ usado para pensar e repensar melhor sobre como vocĂȘ irĂĄ agir. VocĂȘ ganha tempo.

Coma algo crocante, que precise ser bem mastigado, como amendoins, barra de proteína, cereais, frutas com casca como maçã e pera.

Se estiver em casa, antecipe o chå. Beba-o enquanto escolhe algo para consumir. Coma também alimentos que precisem ser bem mastigados e mastigue-os bem, como os amendoins e frutas com casca: isso acalma a impulsividade e gera saciedade. Além disso, beba bastante ågua.

Esse tambĂ©m Ă© o melhor horĂĄrio para praticar atividades fĂ­sicas. O treinamento de força Ă© uma boa opção, mas vocĂȘ tambĂ©m pode usar essa escapada para fazer uma caminhada leve, pois assim ficarĂĄ longe da tentação de atacar o que tiver no armĂĄrio de casa.

Fonte: uol
Colunista: @chefcarlosmiranda

Sobre o autor

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Carlos Miranda

Business consultant | Gastronomo | Chef Executivo | Pitmasters | Chef proprietĂĄrio OSSOBUCO Outdoor Cooking