A derrota da Seleção Brasileira para a Bolívia, por 1 a 0, nas Eliminatórias da Copa do Mundo, não pode ser vista apenas como um tropeço circunstancial em razão da altitude ou de polêmicas de arbitragem. O resultado escancara uma série de fragilidades que vêm marcando o futebol brasileiro nos últimos anos, tanto dentro de campo quanto fora dele. A classificação garantida em quinto lugar, com a pior campanha da história do Brasil nas Eliminatórias, é um sinal de alerta que não pode ser ignorado.
O peso das escolhas técnicas
Carlo Ancelotti, em seu primeiro revés à frente da Seleção, decidiu poupar titulares e testar um time alternativo em El Alto. A escolha é compreensível do ponto de vista físico, mas escancara um problema recorrente: a falta de entrosamento e de um estilo de jogo consolidado. A equipe parecia desconectada, sem articulação ofensiva e vulnerável na defesa. O talento individual, marca histórica do futebol brasileiro, não foi suficiente para superar a organização e a intensidade boliviana.
Dependência do talento individual
Se no passado o Brasil se destacava pela soma de talentos individuais que se encaixavam em esquemas coletivos eficientes, hoje a dependência de jogadas isoladas se tornou um risco. A ausência de Neymar, lesionado, deixou clara a dificuldade da Seleção em criar alternativas ofensivas. O protagonismo recai sobre jovens promessas ainda em processo de afirmação, como Rodrygo e Endrick, sem que haja uma engrenagem coletiva capaz de potencializar seus desempenhos.
Gestão e bastidores turbulentos
As críticas do presidente da CBF após a partida, chamando o cenário de “verdadeira várzea”, mostram que a instabilidade não se limita ao campo. A falta de planejamento, somada a uma estrutura administrativa frequentemente envolvida em polêmicas, mina a confiança da torcida e afeta o ambiente da Seleção. Reclamar da arbitragem e da recepção no estádio boliviano pode até ter fundamento, mas não resolve o problema maior: a incapacidade de o Brasil se impor em jogos decisivos.
O que esperar até a Copa do Mundo?
Com a classificação assegurada, o desafio agora é transformar a instabilidade em aprendizado. O ciclo até a Copa exige:
- Consolidação de um padrão de jogo: Ancelotti precisa definir uma espinha dorsal, independentemente de quem esteja em campo.
- Fortalecimento do setor ofensivo: o Brasil precisa reduzir a dependência de Neymar e distribuir responsabilidades criativas.
- Aposta em jovens talentos: Endrick, Vini Jr. e outros nomes promissores devem ganhar protagonismo, mas dentro de um contexto coletivo.
- Preparação física e mental: jogos em condições adversas, como na altitude, devem ser encarados como testes estratégicos.
- Gestão equilibrada: a CBF precisa blindar a Seleção das turbulências políticas e administrativas.
Um Brasil em transição
O futebol brasileiro vive um momento de transição. A geração que brilhou no início da década passada envelheceu, e as novas promessas ainda não consolidaram uma identidade própria. A derrota para a Bolívia é apenas um sintoma de uma Seleção que precisa se reinventar para voltar a ser protagonista no cenário mundial.
O caminho até a Copa do Mundo não será fácil. O Brasil chega classificado, mas com muitas dúvidas sobre sua capacidade de competir de igual para igual contra seleções estruturadas como França, Inglaterra e Argentina. A derrota em El Alto precisa servir de alerta. A Seleção ainda é forte, tem nomes talentosos e um técnico renomado, mas precisa transformar potencial em resultados. Caso contrário, corre o risco de repetir campanhas frustrantes recentes e ver o sonho do hexacampeonato mais distante.
Fonte: cenariomt