Média-metragem que está prestes a estrear em Mato Grosso do Sul retrata a devoção da Cidade Branca, Corumbá, a São Cosme e Damião. Nascido após milagre pessoal da diretora, Louvação à Ibejada é um mergulho sensorial e afetivo na celebração de uma das festas mais populares e vigorosas da região, onde crianças correm pelas ruas em busca dos saquinhos de doces, enquanto promessas são renovadas em silêncio dentro dos barracões. O pré-lançamento integra a programação do Festival América do Sul e acontece no sábado, às 16h, com entrada gratuita.
Mais do que um registro de uma festa, o filme é uma carta de amor ao povo corumbaense — um retrato da resistência cotidiana, da doçura como política, da fé como gesto de partilha —, conta a diretora, Thayná Cambará.
“Essa festa não é só devoção, é também resistência. Cosme e Damião nos lembram que a fé se manifesta no gesto mais simples: partilhar. Ver as crianças esperando os saquinhos, os mais velhos preparando com carinho, as promessas sendo renovadas… tudo isso me fez entender que a identidade corumbaense é tecida entre fé, afeto e comunidade.”
Thayná Cambará.
O filme dá continuidade à websérie Encruzilhada de Estórias: Registro das Festividades Afro-Brasileiras de Corumbá e Ladário, em que Thayná documentou outras festas religiosas de matriz africana da região. Mas foi em meio à pandemia que a necessidade de filmar Cosme e Damião se impôs, explica a diretora.
“Eu tive o meu milagre, que é o bem-estar da minha filha. Então, somou-se a vontade de continuar o projeto com a promessa pessoal que eu tinha a cumprir.”
Thayná Cambará.
Thayná é umbandista e viveu o processo de criação do filme não apenas como cineasta, mas como filha de santo, adepta e devota. Gravado entre 2021 e 2022, o filme passou por anos de desafios, tentativas frustradas de lançamento e bloqueios criativos.
O trabalho compila dezenas de entrevistas para representar com o máximo de precisão a tradição. Thayná optou por um híbrido entre o cinema direto e o cinema-verdade, respeitando o tempo das pessoas, dos rituais, da rua.
Em meio a silêncios, cânticos, brincadeiras de rua e gestos de cuidado, Louvação à Ibejada revela como a espiritualidade afro-brasileira pulsa na vida corumbaense — e como essa cultura resiste e floresce mesmo em tempos de intolerância.
“Contar essa história é um ato de afirmação. Em tempos em que religiões de matriz africana ainda enfrentam preconceito e violência, mostrar a beleza, a doçura e a profundidade dessa tradição é um gesto político e afetivo. É dizer que essa fé também educa, forma e transforma.”
Thayná Cambará.
Na geografia pantaneira, onde as águas, ventos e matas são orixás em movimento, o filme costura a paisagem natural ao corpo, ao batuque, ao gesto coletivo de fé.
“Em Corumbá, a natureza é sagrada. As religiões de matriz africana celebram os elementos da criação porque cultuam orixás que são, em si, forças da natureza. No dia 27, quando celebramos São Cosme e Damião, Corumbá se transforma — a cidade inteira se torna um grande terreiro, onde a doçura, a fé e o axé se espalham pelas ruas.”
A pré-estreia do documentário Louvação à Ibejada integra a programação Rios de Memória Afro-Brasileira do Festival América do Sul Pantanal 2025.
Antes da exibição do documentário, a programação dedicada à cultura afro-brasileira inclui atividades formativas e artísticas que dialogam com o corpo, a palavra e o ritmo.
🕑 14h às 16h – Mesa de Diálogos: Raízes, Identidade e Mestres do Saber 📍 Local: Auditório do Centro de Convenções do Pantanal – R. Domingos Sahib, 570 – Centro, Corumbá
🕑 14h às 16h – O Reino Mágico dos Orixás, com Sarah Muricy – Uma Jornada de Aprendizado e Diversidade 📍 Local: Sala de apoio do Centro de Convenções do Pantanal – R. Domingos Sahib, 570 – Centro, Corumbá
🕓 16h – Lançamento do Documentário Louvação à Ibejada: Minha Fé em Curumim 📍 Local: Auditório do Centro de Convenções do Pantanal – R. Domingos Sahib, 570 – Centro, Corumbá
Domingo – 18/05
🕒 15h às 17h – Roda de Curimba e Oficina de Capoeira: Técnicas de Capitães de Areia 📍 Local: Orla do Porto Geral, próximo à âncora