No período Colonial, três ruas deram início à história de Cuiabá, cidade que se ergueu das margens de um córrego que teria ouro.
As ruas de Cima, do Meio e de Baixo, hoje possuem outros nomes, mas há quem se lembre de como elas significaram, na época, a divisão social entre ricos e pobres, negros e brancos.
Hoje, com mais de 650 mil habitantes, Cuiabá é um tanto diferente da pacata cidade colonial dos anos de 1780.
Mas, ela ainda carrega traços do passado que podemos enxergar atualmente, como nos grandes casarões preservados nas Rua de Cima, de Baixo e do Meio – que mais tarde foram renomeadas como Rua Pedro Celestino, Galdino Pimentel com Sete de Setembro e Rua Ricardo Franco, respectivamente.
Um dos mais antigos mapas de Cuiabá, por volta de 1780, mostra cinco diferentes divisões geográficas de quadras, bairros e lotes, todos erguidos como raízes do Córrego da Prainha, com características da tradição urbanística portuguesa.
O mapa, que você pode ver abaixo, está disponível no documento “Estudos das Quadras e Lotes em Cuiabá no Século XVIII“.
Acontece que a divisão que ocorria por essas ruas não era apenas estrutural, mas também social. Na Cuiabá antiga, transitavam pelas ruas de Baixo e de Cima as pessoas com melhores condições financeiras, como explica Carlos Alberto Rosa, em seu livro “A terra da conquista – História de Mato Grosso Colonial”.
Não é atoa que nessas ruas foram construídas os grandes casarões, imponentes, com fachadas requintadas, símbolos de poder.
Enquanto isso, na rua que mais tarde surgiu como “improviso”, passavam pela Rua do Meio os escravos, que acessavam as casas dos senhorios pelos fundos, e pessoas de baixa condição financeira.
Rua de Baixo
Para nos aprofundarmos, vamos relembrar a história por meio da primeira rua construída às margens do córrego, a Rua de Baixo, hoje composta pelas ruas Galdino Pimentel e Sete de Setembro.
Originalmente foi chamada de Rua do Oratório devido às rezas e orações que passavam por ali. Anos mais tarde, ela abrigou uma das primeiras igrejas da cidade, a Senhor dos Passos.
Os lotes eram estreitos com fachadas longas em comprimento, organizados paralelamente, ocupando um quarteirão inteiro. As grandes e sofisticadas casas dessa rua tinham a parte dos fundos voltadas para o Córrego da Prainha, de um lado, e para uma outra rua que mais tarde se chamaria Rua do Meio.
LEIA MAIS: Rua das Óticas: a história por trás do apelido que ganhou força entre cuiabanos
Rua do Meio
Quem passar pela Rua do Meio, hoje denominada Rua Ricardo Franco, poderá perceber como ela é estreita, característica de seu surgimento um tanto improvisado.
Ela foi criada devido à passagem de pessoas consideradas de baixa condição financeira, além de negros e escravos, que passavam pelos fundos das casas de Baixo e de Cima, por serem impedidos de caminhar ou entrar nos locais pelas portas da frente.
Era uma antiga ruela, que também já foi chamada de Rua das Pretas, com início no Largo da Matriz e acabando no Largo da Mandioca, onde hoje é a famosa Praça da Mandioca.
Os escravos que ali passavam, eram responsáveis por levar água das bicas ou do Córrego da Prainha para as casas dos senhorias.
Anos mais tarde, a rua teve seu significado aos poucos modificado, quando passou a abrigar nomes de personalidades cuiabanas como Mário Vieira, locutor do jornal Bandeirantes no Ar.
Rua de Cima
Na Rua de Cima, hoje Pedro Celestino, estavam as melhores casas da então província de Cuiabá, em um ponto alto em relação às outras ruas da época. Eram sobrados e grandes casas imponentes, com características aristocratas.
Nela esteve um dos mais importantes evento cívicos da cidade antiga, a instalação da Assembleia Legislativa Provincial, em um velho casarão situado na esquina com a rua que hoje chamamos de Campo Grande.
A Rua de Cima também era um acesso ao Largo da Mandioca.
Fonte: primeirapagina