A investigação sobre os casos de alergia de pele registrados por frequentadores de praças públicas em Lucas do Rio Verde trouxe uma explicação inédita em Mato Grosso. O laudo preliminar da Vigilância Estadual, divulgado nesta segunda-feira (1º), aponta a presença do ácaro de aves, popularmente conhecido como “ácaro do pombo”, como agente causador da dermatite que vem incomodando moradores em diferentes bairros da cidade.
A primeira notificação ocorreu na praça do bairro Bandeirantes, onde surgiram relatos de vermelhidão, coceira e irritações na pele após caminhadas ou atividades físicas. No entanto, segundo a secretária municipal de Saúde, Fernanda Heldt Ventura, a análise mostrou que o problema não se restringe ao local. “Quando interditamos a praça do Bandeirantes, logo percebemos que havia pessoas com sintomas que nunca tinham frequentado aquele espaço. Isso acendeu o alerta de que não estava restrito a uma praça. Por isso ampliamos a investigação, com o apoio da Vigilância Estadual, e em sete pontos avaliados encontramos o mesmo agente”, detalhou.
Três técnicos estaduais estiveram no município para realizar novas coletas e confirmaram a presença do ácaro em todos os locais analisados. “É importante esclarecer que o laudo definitivo ainda não foi emitido, mas diante das informações já obtidas, não poderíamos esperar. Temos a responsabilidade de alertar a população e orientar sobre os cuidados necessários”, reforçou a secretária.
Aves silvestres
Fernanda explicou que o ácaro está associado não apenas a pombos, mas também a aves silvestres que frequentam áreas urbanas. “Ele fica nas penas, que se desprendem e acabam no chão, na grama das praças, e podem entrar em contato com a pele das pessoas. Infelizmente, não existe um produto capaz de eliminar completamente essa presença. A dermatite que causa é autolimitada, não é transmissível e responde bem a tratamentos simples com anti-histamínicos. É incomodativa, mas não leva a complicações graves ou necessidade de internação”, disse.
Ela destacou ainda a influência do clima. “Estamos no período da seca, que favorece a permanência e dispersão desse ácaro. A boa notícia é que, com a chegada das chuvas, a tendência é que os casos diminuam consideravelmente. Até lá, nossa orientação é de prevenção: evitar levar alimentos para as praças, não deixar restos de comida, utilizar roupas que protejam melhor o corpo durante caminhadas e esportes ao ar livre”, completou.
A Secretaria de Saúde já encaminhou orientações às unidades básicas para registro e manejo dos casos, embora o número exato de pessoas acometidas seja incerto, já que muitos não procuram atendimento médico. “Temos relatos de situações mais leves, em que a pessoa sente a coceira mas não vai até a unidade de saúde. Isso dificulta o levantamento preciso, mas reforçamos que quem tiver sintomas pode procurar atendimento para receber orientação e tratamento”, acrescentou Fernanda.
Mudança de hábitos
O secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Felipe Palis, reforçou a necessidade de cautela no enfrentamento da situação. “É fundamental não transformar isso numa guerra contra as aves. Elas têm papel ecológico essencial, como a polinização, o controle populacional de outras espécies e a dispersão de sementes. O ectoparasitismo, essa relação do ácaro com as aves, é algo que existe há milhares de anos, não surgiu agora. O que acontece é que a proximidade dos animais silvestres com os ambientes urbanos facilita esse contato com as pessoas”, explicou.
Para ele, a chave do enfrentamento está na mudança de hábitos da população. “Não devemos alimentar animais silvestres. Quando oferecemos pão, milho ou qualquer resto de comida, estamos atraindo aves para as praças. E não apenas aves: todo animal que perde a barreira natural da distância com o ser humano pode gerar desequilíbrios. O primeiro passo é deixar de oferecer alimento. O segundo é cuidar melhor do nosso resíduo: se fiz um piquenique e sobrou comida, preciso levar de volta para casa ou descartar em lixeiras fechadas. Com o tempo, as aves entendem que não há alimento disponível e se afastam naturalmente, reduzindo também a presença do ácaro”, alertou.
Palis também comentou sobre soluções imediatas. “Existem alguns repelentes voltados para carrapatos que podem auxiliar, porque o ácaro é um parente próximo. Mas não se trata de uma solução definitiva. O mais eficaz será a conscientização coletiva, diminuindo a disponibilidade de alimento e abrigo para os animais silvestres. Essa é uma construção de médio e longo prazo”, afirmou.
A Prefeitura deve instalar placas e reforçar campanhas de orientação nos espaços públicos, mas tanto Saúde quanto Meio Ambiente destacam que não há risco de interdição generalizada. “As praças seguem aptas ao uso. O que pedimos é atenção redobrada com os cuidados pessoais. Não podemos parar a vida na cidade, mas podemos adotar medidas simples para conviver melhor com essa realidade até que as chuvas tragam alívio”, concluiu a secretária Fernanda Heldt Ventura.
Fonte: cenariomt