Um recente retrato da qualidade de vida em Mato Grosso, capturado pelas lentes do Índice de Progresso Social (IPS) do Imazon, coloca Cuiabá no topo do ranking estadual, com uma pontuação de 68,47. Longe de ser um passaporte para a complacência, esse índice revela uma capital que, embora lidere em “necessidades humanas básicas” impulsionada por avanços notáveis na saúde pública, ainda patina em questões cruciais para um bem-estar social pleno e equitativo.
A metodologia do IPS, meritória por desviar o foco exclusivo do PIB e mergulhar em dimensões como nutrição, moradia, segurança e acesso a direitos, escancara uma Cuiabá de contrastes. Se por um lado a atenção primária em saúde floresce, irrigando a capital com indicadores positivos de cobertura e prevenção, e o acesso à água potável se expande, minimizando perdas, por outro, a cidade tropeça nos alicerces do bem-estar e nas oportunidades oferecidas a seus cidadãos.
Apesar do verniz de progresso, a educação municipal ainda clama por atenção, lutando contra a evasão no ensino fundamental II e as persistentes lacunas de aprendizado, sequelas de um período pandêmico desafiador. No plano ambiental, a aridez de áreas verdes por habitante e a sombra do crescimento desordenado, pairando sobre a qualidade do ar, corroem a pontuação geral da metrópole.
Ao desviar o olhar para o mapa regional, a liderança cuiabana empalidece frente ao brilho de capitais do Sul e Sudeste, onde o IPS ultrapassa a barreira dos 75 pontos. Essa disparidade sugere que o “melhor” em Mato Grosso ainda se encontra a léguas de distância de um patamar ideal de desenvolvimento social, um farol que Cuiabá precisa urgentemente avistar.
A lupa da desigualdade intraurbana revela feridas ainda mais profundas. Enquanto o centro e a zona leste da cidade concentram investimentos e desfrutam de serviços robustos, a periferia, personificada em bairros como Altos da Serra e Dr. Fábio, clama por infraestrutura básica, segurança e um sistema de transporte público digno. Essa fissura social não apenas macula o progresso da capital, mas também expõe a urgência de políticas públicas que transcendam o asfalto das áreas nobres e alcancem as reais necessidades de toda a população.
A chave para desbloquear um desenvolvimento social genuíno em Cuiabá reside na tecelagem de políticas públicas integradas, que conectem educação, juventude, mobilidade, cultura e meio ambiente em um projeto coeso e de longo prazo. O fortalecimento dos conselhos municipais e a abertura de canais efetivos para a participação popular não são meros apêndices, mas sim o fio condutor para decisões estratégicas que realmente reflitam os anseios e as necessidades da diversidade cuiabana.
Com seus mais de 600 mil habitantes e seu papel de epicentro regional, Cuiabá possui o potencial latente para se transformar em um modelo de cidade inclusiva e sustentável. No entanto, essa metamorfose dependerá de uma visão que priorize a equidade, de um planejamento urbano que abrace a totalidade do território e de uma sensibilidade aguçada para as vozes que ecoam das margens do progresso. A liderança no ranking estadual é apenas o primeiro passo de uma longa jornada em direção a um futuro onde a qualidade de vida não seja um privilégio, mas um direito de cada cidadão cuiabano.
Fonte: cenariomt