📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Bactérias específicas do intestino estão relacionadas ao Alzheimer, desenvolvendo processos neuroinflamatórios por meio do eixo microbiota-intestino-cérebro
  • Uma análise divulgou 10 gêneros de microbiota com uma ligação significativa com o Alzheimer, nos quais quatro estavam associados à apolipoproteína, que é um gene que contribui para o risco de desenvolvimento dessa doença
  • Entre eles estava também o gênero pró-inflamatório Collinsella, que está relacionado ao Alzheimer, ao diabetes tipo 2, à aterosclerose e à artrite reumatóide
  • O gene Collinsella pode elevar o risco de Alzheimer, aumentando a expressão de citocinas inflamatórias e a permeabilidade intestinal
  • Alguns membros do filo Firmicutes eram protetores contra o Alzheimer, pois metabolizavam o butirato dos carboidratos. Ele é anti-inflamatório, tem como função diminuir a permeabilidade intestinal e ativar a secreção do fator neurotrófico derivado do cérebro, em que os níveis reduzidos têm sido ligados ao Alzheimer

🩺Por Dr. Mercola

Embora 6 milhões de adultos vivam com Alzheimer, a sua causa permanece indefinida. O intestino, incluindo a sua composição única de habitantes microbianos, pode cumprir um papel importante.

Uma análise publicada na Scientific Reports descobriu algumas bactérias intestinais específicas que podem estar relacionadas ao Alzheimer, desenvolvendo processos neuroinflamatórios por meio do eixo microbiota-intestino-cérebro.

Algumas bactérias intestinais podem contribuir para o desenvolvimento do Alzheimer

Um desequilíbrio na microbiota intestinal foi relacionado à doenças neurodegenerativas, incluindo o Alzheimer. Alguns micróbios podem secretar toxinas e ácidos graxos de cadeia curta que contribuem para que o intestino fique mais permeável ou que a função imunológica seja alterada. Também foi descoberto que pessoas com Alzheimer podem possuir menos diversidade nas bactérias intestinais, contribuindo para o surgimento de outras doenças.

Do mesmo modo, os investigadores escreveram na Scientific Reports: “Descobrir a base genética da abundância microbiana e o seu efeito no Alzheimer, poderia sugerir mudanças no estilo de vida que podem reduzir o risco de um indivíduo desenvolver a doença.” A equipe utilizou dados do maior estudo de associação genômica da microbiota intestinal, analisando registros de 119 gêneros bacterianos.

De início, 20 gêneros de microbiota intestinal destacaram-se por sua relação com o Alzheimer. Uma pesquisa mais aprofundada demonstrou 10 gêneros com uma relação significativa ao Alzheimer, em que 4 estavam ligados à apolipoproteína, um gene que pode elevar o desenvolvimento da doença.

Entre eles estava o gênero pró-inflamatório Collinsella, que está relacionado ao Alzheimer, ao diabetes tipo 2, à aterosclerose e à artrite reumatóide. Segundo o estudo:

“No geral, os fatores genéticos do hospedeiro que influenciam os dez géneros estão relacionados ao Alzheimer, sugerindo que esses gêneros podem servir como biomarcadores e alvos para o tratamento e intervenção da doença. Nossos resultados destacam que a microbiota intestinal pró-inflamatória pode promover o desenvolvimento da DA através da interação com a apolipoproteína.”

Micróbios intestinais interagem com seu sistema nervoso

Existem mais de 100 trilhões de células microbianas em seu corpo, 95% das quais estão no intestino. 7 Os micróbios intestinais interagem com o sistema nervoso central (SNC) através do eixo microbiota-intestino-cérebro, envolvendo vias neurais, imunológicas, endócrinas e metabólicas.

Certas bactérias intestinais podem liberar lipopolissacarídeos (LPS) e amilóides, que contribuem para a inflamação no cérebro, podendo provocar Alzheimer. LPSs são bactérias mortas ou, mais para ser mais específico, as paredes celulares de bactérias mortas. Seu sistema imunológico monta defesas contra eles, tratando-os como invasores por percebê-los como invasores.

LPSs foram encontrados em placas amilóides nos cérebros de pacientes com Alzheimer. Ao promover citocinas pró-inflamatórias, as bactérias também podem apresentar um papel no dano à integridade do eixo microbiota-intestino-cérebro e da barreira hematoencefálica.

Dos 10 géneros de microbiota intestinal descobertos com uma ligação significativa à doença de Alzheimer, 6 foram associados de maneira negativa ao Alzheimer, o que significa que eram menos comuns em pessoas com doença de Alzheimer do que naquelas sem a doença e podem, portanto, apresentar um efeito protetor.

Os 4 restantes foram associados de maneira positiva à doença de Alzheimer, o que significa que eram mais abundantes em pessoas com Alzheimer, tornando-os um fator de risco para a doença. Sendo específico:

  • As bactérias protetoras contra o Alzheimer incluíam o filo Firmicutes (grupo Eubacterium nodatum, grupo Eisenbergiella e Eubacterium fissicatena), bem como Actinobacteria (Adlercreutzia, Gordonibacter) e Bacteroidetes (Prevotella9)
  • As bactérias ligadas ao Alzheimer incluem: Firmicutes (Lachnospira e Veillonella), Actinobacteria (Collinsella) e Bacteroidetes (Bacteroides)

As bactérias intestinais podem ser protetoras ou patogênicas

A Collinsella apareceu como um fator de risco para o Alzheimer em ambas as fases do estudo e já foi encontrada em certa abundância em ratos e pessoas com Alzheimer. O gene Collinsella pode elevar o risco de Alzheimer, aumentando a expressão de citocinas inflamatórias e a permeabilidade intestinal.

Quanto às bactérias protetoras, certos membros do filo Firmicutes metabolizam o butirato dos carboidratos. O butirato ativa a secreção de um fator neurotrófico derivado do cérebro, cujos níveis reduzidos têm sido ligados ao Alzheimer. Além disso, a equipe explicou:

“O butirato é um importante metabólito SCFA no cólon que pode ser um mediador crítico da resposta inflamatória do mesmo. Junto com as suas propriedades anti-inflamatórias, o butirato também é crucial na manutenção de junções estreitas que podem prevenir a permeabilidade intestinal disbiótica.”

Apesar dos seus benefícios em relação ao butirato, o Eubacterium nodatum e Eisenbergiella já foram ligados a doenças neurodegenerativas, mostrando a complexidade das interações da microbiota intestinal no corpo.

“Isso sugere que as populações orais e intestinais dos mesmos táxons microbianos podem ter etiologias diferentes com a mesma doença… somos os primeiros a relatar uma ligação protetora entre a abundância geneticamente prevista de Eisenbergiella, do grupo Eubacterium nodatum e do grupo Eubacterium fissicatena com a AD,” segundo os pesquisadores.

Bactérias intestinais ligadas a depósitos amilóides no cérebro

O Alzheimer é caracterizada por um acúmulo de placas beta-amilóides e emaranhados neurofibrilares no cérebro. Existe um debate sobre se a beta-amilóide é um sintoma do Alzheimer, e não uma causa, e poderia ter um papel protetor no processo da mesma.

Uma equipa de investigadores suíços e italianos descobriu uma relação entre o desequilíbrio da microbiota intestinal e o desenvolvimento de placas amilóides no cérebro. Os pesquisadores utilizaram imagens PET para medir a deposição de amiloide em seus cérebros e, em seguida, mediram marcadores de inflamação e proteínas produzidas por bactérias intestinais, como LPSs e SCFAs, no sangue.

Níveis elevados de LPS, de acetato e valerato de SCFA foram associados a grandes depósitos de amiloide no cérebro, enquanto o butirato parecia apresentar um efeito protetor; altos níveis de butirato foram ligados a menos amiloide.

Probióticos e jejum trazem proteção para a saúde do cérebro

Com as fortes associações entre a saúde intestinal e o Alzheimer, é possível que um “coquetel bacteriano” possa ser administrado para auxiliar a retardar a progressão da doença ou preveni-la. Não só os estudos realizados em animais sugerem que os probióticos, junto com o exercício, podem reduzir a progressão do Alzheimer, alterando o microbioma, porém, diversos estudos descobriram que os probióticos representam uma opção terapêutica viável:

“Os estudos disponíveis mostraram que a administração de probióticos trouxe benefícios neuroprotetores, podendo também minimizar os défices cognitivos e modular a disbiose da microbiota intestinal, que pode estar relacionada com vias oxidativas e inflamatórias… Assim, os probióticos parecem ser uma abordagem para combater a AD, que deve estudada de maneira mais profunda.”

Mudanças no intestino também podem ajudar a explicar o porque do jejum ser benéfico para doenças neurodegenerativas. O jejum ativa a autofagia, que inicia o processo de regeneração de células-tronco, e jogar fora o que seu corpo não precisa. Isso também pode ter uma conexão com os LPS e dar um descanso ao seu estômago dando um descanso dessas proteínas pró-inflamatórias para seu intestino pelo fato de que o jejum pode ser curativo, como explica o Dr. Steven Gundry em nossa entrevista em 2017:

“Nós temos um sistema de reparos maravilhoso que começa a trabalhar quando você está em jejum. E pelo menos, deixa seu intestino descansar. Colocar as paredes do intestino para descansar, não ter que absorver nutrientes, nem lidar com os fluxos constantes de lectinas ou toxinas é uma das coisas mais inteligentes que podemos fazer.

Penso que o mais importante é que fornece ao seu corpo a oportunidade de fazer uma limpeza no seu cérebro… O Alzheimer e o Parkinson possuem uma causa unificadora, sendo o cérebro que se defende contra ameaças percebidas, muitas das quais são LPSs. Se você deixar seu intestino descansar, então não tem LPSs entrando no seu sistema, e quanto mais tempo você conseguir manter isso, melhor para a sua saúde.

O jejum intermitente é ótimo; ter uma alimentação com restrição de calorias é ótimo, mas, na técnica, é muito mais fácil parar de comer… O segundo nível da minha pirâmide alimentar modificada é “Não coma nada”, como diria Jason Fung.”

A ligação do intestino com a ocorrência de Parkinson fica mais forte

É interessante que Gundry mostre a causa unificadora entre Alzheimer e Parkinson, já que ambos podem começar no intestino. A hipótese do “intestino em primeiro lugar” afirma que o Parkinson é resultado de proteínas anormais e mal dobradas no trato gastrointestinal.

“Segundo a hipótese, o agente estimulador, essa proteína mal dobrada, começa nos nervos da parede intestinal e sobe até o cérebro, provocando as alterações patológicas que levam ao Parkinson,” disse o Dr. Pankaj J. Pasricha, chefe de medicina interna da Clínica Mayo, ao The Washington Post.

Pasricha e colegas descobriram que 4 problemas gastrointestinais, obstipação, dificuldade em engolir, atraso no esvaziamento do estômago e síndrome do intestino irritável, estão ligados à ao Parkinson e podem ser preditivos do diagnóstico.

Os sintomas relacionados ao intestino começam, em geral, anos antes dos sintomas típicos do Parkinson, como tremores e rigidez, mas uma pesquisa de 2003 do neuroanatomista alemão Heiko Braak, sugeriu pela primeira vez que o Parkinson pode ter sua origem no trato gastrointestinal.

Pesquisadores injetaram alfa-sinucleína desdobrada no intestino de camundongos saudáveis e depois a acompanharam para ver onde terminaria. A alfa-sinucleína é um tipo de proteína encontrada de maneira natural no corpo humano. Quando as proteínas são desdobradas, elas podem se aglomerar e causar danos às células nervosas que levam a áreas de matéria cerebral morta chamadas corpos de Lewy.

Essas regiões com células cerebrais mortas levam aos sintomas do Parkinson, como problemas de movimento e fala. Após 1 mês, a alfa-sinucleína apareceu no tronco cerebral dos ratos, enquanto depois de 3 meses viajou para a amígdala e o mesencéfalo do cérebro. Dentro de 7 a 10 meses, havia aparecido em ainda mais regiões do cérebro.

Em seguida, os pesquisadores injetaram as proteínas desdobradas no intestino de camundongos que tinham o nervo vago cortado. Após sete meses, não havia presença de nenhuma morte celular no cérebro dos camundongos, e parecia que as proteínas não haviam conseguido avançar até o cérebro. O estudo também avaliou mudanças comportamentais, como a capacidade de construir ninhos, nos grupos de camundongos.

Depois de sete meses, os camundongos que tinham o nervo vago intacto e que receberam as proteínas desdobradas em seu intestino construíram ninhos menores e bagunçados, um sinal de problemas com o controle motor. Os camundongos que não receberam a injeção e aqueles que receberam a injeção, mas tinham o nervo vago cortado, tiveram uma pontuação mais alta nas atividades de construção de ninho.

Problemas de memória e ansiedade também surgiram nos camundongos que tinham o nervo vago intacto e que receberam as proteínas desdobradas no intestino, o que não foi visto nos outros grupos de camundongos. Se o Parkinson de fato começar no intestino, ele abrirá caminho para o tratamento precoce e uma possível prevenção, semelhante ao Alzheimer.

Como deixar o intestino mais saudável

Embora ainda tenha muito a ser descoberto a respeito do papel do intestino em doenças como Alzheimer e Parkinson, você pode tomar medidas para nutrir a microbiota do seu corpo.

A fibra é “o componente mais importante da dieta para alimentar o microbioma,” diz Gloria Dominguez-Bello, presidente do The Microbiota Vault, mas está quase 100% ausente nos alimentos ultraprocessados ​​que constituem a maioria das dietas dos americanos. Produtos químicos no abastecimento de alimentos como o herbicida glifosato, também destroem os micróbios.

O consumo de alimentos integrais está ligado a uma maior diversidade da microbiota intestinal, assim como o consumo de ervas e especiarias como canela, orégano, gengibre, pimenta preta e pimenta caiena. Em outro estudo, a diversidade de bactérias intestinais aumentou após quatro semanas de consumo de ervas e especiarias, em doses diárias de três quartos de colher de chá ou 1,5.

Consumir alimentos fermentados é outra opção sólida para otimizar a saúde do seu microbioma intestinal. Um estudo com 36 adultos que consumiram uma alimentação rica em alimentos fermentados ou em fibras por 10 semanas. Aqueles que consumiam alimentos fermentados tiveram um aumento na diversidade do microbioma como reduções nos marcadores de inflamação.

A questão é que muitos americanos não consomem esses alimentos integrais saudáveis ​​de forma regular, em vez disso, consomem junk food processado, desprovido de fibras e nutrientes e repleto de aditivos.

Os adoçantes artificiais também podem alterar as bactérias do intestino de formas adversas. Você também deve evitar antibióticos, a menos que seja de fato necessário e, se utilizá-los, replantar bactérias benéficas em seu intestino consumindo alimentos fermentados ou um suplemento probiótico de alta qualidade.