Cult of the Lamb é um jogo que traz bichinhos fofos realizando rituais satânicos — e já está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X, Xbox Series S, Nintendo Switch e PC. Sim, o novo game da Massive Monster e Devolver Digital transborda polêmica, mas não merece ser resumido apenas por isso.
O título mistura a rapidez do roguelike, com combates frenéticos divididos por salas, com a morosidade do gerenciamento de comunidade — é preciso investir no seu acampamento e manter seus seguidores crentes e saudáveis. É como se fossem dois jogos diferentes, com ritmos bastante contrastantes, mas ainda indispensáveis e indissociáveis.
Você controla um carneirinho sem nome que, no começo do game, está prestes a ser sacrificado em um ritual orquestrado pelos Bispos da Antiga Fé. Logo após ser morto, você volta à vida graças a uma entidade chamada “Aquele que Espera”, uma figura demoníaca que lembra um gato preto, preso por algemas.
Mas é claro que a ressurreição não viria sem um preço: você precisará se tornar o líder de um culto e libertar seu mestre. A entidade pergunta se você aceita o pacto, e… bem, há apenas duas respostas possíveis: “sim” e “certamente”.
Como missão dada é missão cumprida, é hora de honrar nosso pacto com o diabo. A ovelhinha recebe uma espécie de coroa que lhe concede a sobrevida e poderes sobrenaturais. E você, que era tão inocente há alguns segundos atrás, logo se transforma em um líder astuto, esperto e impiedoso. Mas ainda fofinho.
Hora de explorar e matar alguns falsos profetas
O gameplay de Cult of the Lamb é dividido entre duas partes: o combate e o gerenciamento de colônia. Na primeira parte, você começa com uma arma aleatória — como espadas, machados e adagas, que têm diferentes velocidades e potencial de ano — e com uma maldição — a qual serve como um ataque especial. As maldições têm usos limitados e são recarregadas conforme você coleta pontos vermelhos derrubados pelos inimigos.
Elas podem ser bombas, projéteis, tentáculos que aparecem em um formato de “x”, entre outros. Conforme você progride, às vezes encontra armas diferentes para experimentar ou, inclusive, a mesma arma com um nível superior. Cabe a você testá-las e encontrar a que mais se adequa ao seu estilo de jogo.
Você também pode encontrar Clauneck, um NPC (personagem não jogável) que tira cartas de tarot que lhe concedem poderes temporários. Cada vez que você o encontra pelo mapa aleatoriamente, ele saca duas novas cartas; você escolhe uma e permanece com ela até o fim da jogada.
As explorações são geradas proceduralmente, ou seja, são aleatórias. Elas são divididas em fases, e cada fase é dividida em salas. Ao derrotar todos os inimigos de uma sala, você abre um baú repleto de moedas e, às vezes, materiais extras. No fim de uma fase, é possível escolher um caminho específico para trilhar; uma pode lhe dar mais madeira, outra mais moedas de ouro, outra um seguidor extra para seu culto, entre outros recursos. Independentemente do caminho escolhido, todos eles irão lhe levar para o mesmo destino: uma luta contra um chefão.
O combate é bem parecido com Hades ou Death’s Door, outro jogo publicado pela Devolver Digital: você enfrenta hordas de inimigos com diferentes poderes e desvia de obstáculos do próprio cenário. Os chefões são um pouco mais complexos, mas todos costumam seguir um padrão de movimento. A melhor estratégia é não partir para a porradaria, mas sim atacar aos poucos, esquivar-se bastante dos ataques de curta distância e distanciar-se dos golpes que tomam o cenário inteiro.
Dê-me o que eu preciso (ou vá para o beleléu)
Após lutar nos campos dominados pela Antiga Fé, é hora de voltar ao seu acampamento e cuidar do seu rebanho. É necessário cozinhar, ordenar seus seguidores a fazer tarefas específicas e mantê-los com a fé inabalada. Não é tarefa fácil: os personagens são muito diferentes entre si, e alguns podem se rebelar, ficar doentes ou até morrerem. Cabe a você minimizar esses danos cumprindo tarefas que seus seguidores pedem, realizando rituais, pregando sermões ou… prendendo e sacrificando eles.
Quanto mais fiéis seus seguidores são, mais pontos de fé eles lhe concedem. É com esses pontos que você desbloqueia novas construções para o seu acampamento, como cabanas para dormir ou banheiros privativos. Os sermões diários também lhe ajudam a ficar mais forte na hora da batalha.
Algo que chamou minha atenção é a monstruosidade simpática de Cult of the Lamb. Aquele Que Espera sempre lembra o jogador que as caridades e benevolências não são feitas porque somos bonzinhos, mas sim porque precisamos doutrinar nossos seguidores. Não vai me dar o que eu quero? Talvez seja melhor sacrificá-lo e ter um problema a menos (ou até mesmo matá-lo, sem que os outros fiéis vejam).
E apesar do gerenciamento ser a parte mais calma do game, ela não é nada tranquila: os dias passam rapidamente, e sua comunidade pode desandar em questão de minutos. Se tudo der errado, limpe sua base, enterre os corpos e eleve a fé dos seguidores restantes; os próprios desenvolvedores afirmam que esses momentos podem trazer narrativas mais interessantes aos jogadores.
Eu fiquei chocado em várias partes do game: são inúmeras figuras ocultistas, monstruosas, sangue sendo derramado… mas tudo com um visual fofinho e encantador. Mas vale ressaltar: o game não traz uma história sobre o bem contra o mal, ou Deus contra o Diabo. O universo do jogo é baseado em diferentes crenças e religiões, e calhou de nós sermos o líder de uma delas.
É por este motivo que Cult of the Lamb não merece ser resumido a um jogo sobre ocultismo, sacrifícios e pentagramas invertidos: trata-se de um game com um combate primoroso, mecânicas divertidas de sobrevivência e um excelente gerenciamento de recursos. Além disso, o jogo conta com uma direção de arte de pôr qualquer um de joelhos. Caso você não seja sensível a temas religiosos, pode ser um excelente jogo para você experimentar — e um dos indies mais promissores do ano.
Cult of the Lamb pode ser zerado entre 12 e 24 horas, dependendo do seu estilo de jogo. A Devolver Digital promete duas atualizações grandes e gratuitas após o lançamento.
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