As cooperativas de crédito consolidam-se como um dos principais motores de inclusão e desenvolvimento regional no Brasil. Presente em mais de três mil municípios, o setor demonstra um crescimento notável, superando o ritmo do sistema financeiro tradicional, mesmo operando sob o rigoroso controle do Banco Central (BC).
O tema foi detalhado por Adalberto Felinto da Cruz Junior, chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias (Desuc) do BC, e Ivens Arua Neves de Miranda, chefe-adjunto, em uma recente LiveBC. O programa teve um significado especial, coincidindo com o Ano Internacional das Cooperativas (declarado pela ONU em 2025) e o 20º aniversário de criação do Desuc.
Os representantes do BC ressaltaram que o setor cooperativo está alinhado à “agenda positiva” da autarquia, a Agenda BC#, e intrinsecamente ligado à missão do Banco Central de promover a eficiência e a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
Crescimento Anticíclico e o “Dono” Cooperado
Os dados mais recentes do Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) revelam a força do setor. No exercício de 2024, o SNCC registrou um crescimento de 21% no ativo total, quase o dobro do sistema financeiro convencional, que cresceu apenas 13%.
Este crescimento acelerado é acompanhado por uma atuação anticíclica, especialmente em períodos de crise. Enquanto o sistema tradicional se torna mais restritivo na concessão de crédito, as cooperativas demonstram maior resiliência e permanecem ativas. O Chefe do Departamento, Adalberto Felinto, explicou a razão central dessa estabilidade:
“O cooperado não é cliente, ele é dono. Existe uma relação de muita proximidade à instituição financeira, no caso, entre a cooperativa de crédito e o cooperado. E, naquele momento de maior necessidade, as cooperativas redobraram a sua atenção.”
Essa proximidade gera confiança, fortalece a governança democrática e permite que os ganhos das instituições sejam devolvidos à comunidade por meio de sobras ou investimentos locais.
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Inclusão Financeira Onde o Banco Não Chega
O papel das cooperativas na inclusão e no desenvolvimento regional é notório. O sistema de cooperativas, com mais de dez mil postos de atendimento e mais de vinte milhões de cooperados em todo o Brasil, atua em um contrafluxo em relação aos bancos tradicionais.
Felinto destacou que, enquanto o sistema financeiro tradicional reduz o número de agências, as cooperativas expandem sua atuação. Cerca de quinhentos municípios brasileiros não contam com instituições bancárias tradicionais, dependendo exclusivamente das cooperativas para acesso a serviços financeiros.
O modelo cooperativo, por sua natureza solidária e relacional, tem um impacto que transcende o financeiro. Segundo dados citados do Sebrae, “municípios com atuação de cooperativa de crédito são mais ricos”, o que demonstra que a presença cooperativa garante que o recurso gerado permaneça na localidade, promovendo o desenvolvimento e reduzindo a pobreza. O setor se destaca, ainda, na concessão de:
- Crédito para pessoa física sem consignação.
- Empréstimos para micro e pequenas empresas (MPEs).
- Crédito rural, nichos onde o sistema tradicional tende a ser mais conservador.
Rigor na Regulação e o Desafio Digital
Os representantes do BC reforçaram que, apesar do crescimento e do foco social, o sistema cooperativo de crédito está sujeito às mesmas regras prudenciais do sistema financeiro tradicional, incluindo requisitos de capitalização e liquidez, e normas internacionais (parâmetros de Basileia).
Além da intensa supervisão do Banco Central, o modelo de cooperativas possui camadas adicionais de controle, como:
- Supervisão pelas centrais de crédito.
- Auditorias independentes.
- Proteção do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que assegura depósitos até R$250 mil.
Ao abordar o futuro, o principal desafio apontado é a conciliação da base local do cooperativismo com a necessidade de digitalização. O BC vê a atuação híbrida — mantendo a expansão física para garantir a inclusão em áreas remotas, mas investindo na eficiência digital — como o caminho ideal. Essa inclusão, no entanto, deve ser acompanhada por educação financeira para evitar o superendividamento e garantir o uso consciente dos produtos.
Assista à live:


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Fonte: cenariomt






