Terra das cerâmicas, das lavandas e dos fuscas, Cunha também esconde uma vocação gastronômica, favorecida pelo uso criativo de ingredientes cultivados localmente. Divididos entre o centro da cidade e a Estrada Paraty-Cunha (SP-171), os restaurantes geralmente têm ambientes despretensiosos e talvez por isso surpreendam ainda mais pela qualidade do que chega à mesa. Com uma variedade cada vez maior, a gastronomia pode ser por si só um bom motivo para percorrer os 220 km que separam São Paulo de Cunha, imersa na Serra da Bocaina. Veja, a seguir, sete restaurantes imperdíveis e, no bônus, endereços para fazer uma pausa no meio da tarde:
1. La Taverne Bistrô
Estrada da Pedra da Macela
Consulte os dias e horários de funcionamento no Instagram
O La Taverne não é nenhum segredo: na ativa há vinte anos, o bistrô é um dos clássicos consagrados de Cunha. Ainda assim, ao final da refeição é bem provável que você fique com a sensação de ter descoberto um tesouro. Um tanto escondido na estrada que leva até a Pedra da Macela, o restaurante é tocado pelo casal Carlos e Ana Maria. Ele recebe os visitantes no salão de poucas mesas e sugere vinhos para harmonizar, enquanto ela é o talento por trás dos pratos criativos que utilizam ingredientes locais, com destaque para os cogumelos.
A dica é começar pelo delicioso patê de shimeji, que de tão bom tive que perguntar se também vendem para levar (não vendem, infelizmente). A pastinha é acompanhada por um pão de fermentação natural, também feito na casa, quentinho e irresistível. Outra opção de entrada é a elogiada linguiça de cogumelos.

O menu principal muda de tempos em tempos e, na ocasião da minha visita, celebrava o aniversário do restaurante com uma seleção de pratos que fizeram sucesso ao longo de suas duas décadas. Escolhi o sorrentino de massa de espinafre recheado com polenta de milho verde e queijo meia cura de Cunha, ao molho de ragú de shiitake e portobelo. Com uma combinação tão especial de ingredientes, o prato foi o melhor da viagem e também uma das coisas mais gostosas que já comi na vida.

A pedida do meu marido não ficou muito atrás. Alérgico a camarão, ele encontrou no La Taverne uma ótima oportunidade de saborear um bobó. Nesse caso, feito com shiitake e shimeji e acompanhado de arroz de coco. Provei uma garfada – ok, foram algumas garfadas – e, olha, achei melhor que qualquer bobó de camarão.

2. Átrio
Avenida Antonio Luiz Monteiro, 570
Quarta e quinta-feira, das 18h às 22h30; sextas, sábados e domingos, das 12h às 22h30
Novidade no centro de Cunha, o Átrio possui um cardápio a la carte de cozinha latino-americana, mas vêm chamando atenção principalmente por uma proposta inédita no Brasil: um menu degustação de culinária venezuelana (necessário reservar pelo Whatsapp). Dividida em seis tempos, a experiência conduz os comensais em um passeio por diferentes regiões da Venezuela, terra natal dos irmãos e donos do restaurante Rosa María e Christian. Existe ainda a possibilidade de optar pelo menu degustação com harmonização de bebidas, que incluem cerveja e vinhos produzidos em Cunha.

A primeira metade da refeição foi a minha favorita. O “Rompe colchón”, de dar água na boca, já inicia bem os trabalhos prestando homenagem ao mar: o trio de camarão, mexilhão e lula são marinados em molho caribenho e complementados por pedaços de abacate, pó de frutas cítricas e azeite de coentro. Para acompanhar, há viciantes chips de banana da terra e a gelada criada pela cervejaria local Blackfin em parceria com o Instituto A.MAR, que apoia práticas de pesca sustentável. A harmonização resulta em gostinho de praia.
Na sequência, o “Pastel de Chucho” foi o prato que mais surpreendeu. Pincelada com molho de rapadura, uma fatia fina de banana da terra envolve pedaços de peixe e queijo defumado, decorados com delicadas flores comestíveis e um molho de pimentão. Achei que o sabor do peixe acabaria ficando escondido e me enganei: todos os sabores se equilibram com maestria. A bebida escolhida para acompanhar é uma refrescante Kombucha da Cá, marca de Piracicaba, no sabor maracujá.

Em homenagem à imigração italiana na Venezuela (cerca de 16% da população tem algum grau de ascendência italiana), o terceiro prato é uma burrata produzida com leite de vaca pela Laticinios Fior d’Italia, de Cunha. A criação delicada leva geleia de caju e creme de castanha de caju, além de vir acompanhada por pedaços de um pão crocante, chamado “casabe”, e um chá gelado de hibisco.
A refeição continua com um prato que, conforme Christian me explicou, é um clássico do Natal na Venezuela: lagarto marinado em vinho tinto por 24 horas, com purê de batatas e quiabo. O preparo foi harmonizado com um syrah da 1300estate, vinícola de Cunha.

O menu degustação termina abraçando o estômago. A proposta é espalhar a manteiga artesanal de Cunha por cima de uma arepa quentinha, recheada com queijo defumado, ao mesmo tempo que se experimenta o guarapo, uma bebida derivada da cana-de-açúcar típica dos Andes Venezuelanos. É parecido com o nosso caldo de cana, só que quente e com o sabor mais intenso.
Fecha com chave de ouro o mousse de cacau venezuelano coroado com doce de mamão verde. Uma viagem pela Venezuela em plena Serra da Bocaina.

3. Kallas da Serra
Estrada Cunha-Paraty, km 64
Quarta a segunda-feira, das 9h às 17h
Um dos restaurantes pioneiros na Estrada Cunha-Paraty, o Kallas da Serra fica dentro de uma propriedade que é também uma bonita plantação de copos-de-leite. Por isso, é irresistível se sentar em uma das mesas na varanda, para comer enquanto admira o tapete branco formado pelas flores.

Focado na comida típica de roça, o restaurante tem como carro-chefe o porco na lata, um preparo tradicional em que a carne de porco é cozida lentamente na própria banha e depois conservada em latas. Vale a pena começar pedindo a porção de bolinhos de porco na lata com molho barbecue de framboesa, que são aquele tipo de friturinha que não dá vontade de parar de comer.

Como prato principal, o porco na lata é acompanhado por torresmo, arroz, feijão, farofa e mandioca frita. Essa última, aliás, consegue a proeza de ser crocante por fora e cremosa por dentro. Resultado: comida simples e extremamente saborosa. Não deixe de pedir a soda caipira de framboesa, colhida lá mesmo.
Para ficar ainda melhor, o serviço é super simpático e atencioso e há redes para descansar sob a sombra das árvores depois da refeição, escutando o barulho de um riacho que passa bem atrás.

4. Il Pumo
Praça Coronel João Olímpio, 9
Diariamente, das 12h às 23h
Nascido em uma cidadezinha na região da Puglia, Vito Consoli é mestre queijeiro e segue a receita de seu pai para produzir burratas tipicamente puglieses, que são feitas com leite de vaca. Com sabor muito mais suave do que as variantes feitas com leite de búfala, o queijo é protagonista no restaurante Il Pumo, que ocupa um bonito casarão histórico no centro de Cunha.

É indispensável, portanto, começar a refeição provando a burrata suave, que vem acompanhada de pão, presunto cru, tomates e azeitonas.

Dentre os pratos principais, se destacam duas criações de Vito. O spaghetti com creme feito de rúcula e pistache pode ser finalizado com uma burrata, que dá mais cremosidade, ou com guanciale (corte de carne de porco curada, feito com a bochecha do animal), que confere mais crocância.
Já o gnocchi chama atenção por levar creme de mascarpone, mais comum nas sobremesas italianas. Mas o prato não tem nada de doce: com linguiça artesanal, blend de queijos defumados, alho e cebola refogados e pinoli, surpreende pelo sabor.

5. Suzana Shiitake
Estrada Municipal do Monjolo, km 7,5
Combinar a visita pelo Whatsapp
O Suzana Shiitake não é bem um restaurante, mas uma imersão no reino Fungi. Especialista no cultivo de cogumelos há mais de vinte anos, Suzana abre as portas de seu sítio para os visitantes interessados em conhecer as duas estufas onde brotam seus shiitakes e shimejis, que são os protagonistas dos pratos servidos depois, em um gostoso deck de madeira.
Ao chegar na propriedade, uma simpática funcionária me conduziu pelas estufas e explicou as diferenças no cultivo dos shiitakes, que brotam em toras de madeira, e dos shimejis, que nascem em sacos contendo uma mistura de bagaço de cana e grama. Ali, vi pela primeira vez o bonito shimeji salmão, bem grande e de coloração rosada.

Depois, fui conduzida a um deck de madeira e fiquei observando o vai-e-vem de vacas e galinhas enquanto abria o apetite com uma gostosa conserva de cogumelos, feita com shiitake, shimeji, tomate seco e ervas finas – uma delícia!
Entre os pratos principais, só há elogios para a moqueca de cogumelos, que foi vencedora do Festival Sabores de Cunha na categoria cozinha contemporânea. Mas dessa vez experimentei o maravilhoso risoto de funghi, que ficou ainda melhor quando Juliana, braço direito da Suzana, elencou todos os benefícios de incluir cogumelos na dieta.
Além de serem ricos em fibras e, portanto, ótimos para o sistema digestivo, há estudos preliminares que sugerem que eles podem ter impactos positivos no controle do colesterol e diabetes e até na prevenção do câncer, como explica essa matéria da Veja Saúde.

E a boa notícia é que dá para levar essas delícias para casa. O sítio vende não só os cogumelos em natura como também em conserva, desidratados e até em um kit de risoto pré-pronto (para preparar, é só adicionar à mistura vinho branco, água quente, queijo e manteiga).

O sítio fica em uma região mais afastada tanto do centro de Cunha quanto da Estrada Paraty-Cunha, mas por outro lado é bem próxima da Cachoeira do Pimenta, então vale combinar os dois passeios. É preciso reservar a visita (gratuita) e a refeição na Suzana Shiitake com pelo menos 24 de antecedência pelo direct do Instagram ou pelo Whatsapp.
6. Quebra Cangalha
Rua Manoel Prudente de Tolêdo, 540
Quinta a terça-feira, das 12h às 18h
Desde 1996, o Quebra Cangalha é outro cantinho gostoso para almoçar em Cunha e desfruta de uma ótima localização: no centrinho, mas já quase no começo da Estrada Paraty-Cunha. O destaque é o deck externo de madeira, com vista para o verde e mesas sob a sombra de guarda-sóis.


O menu destaca ingredientes locais, como cogumelos e truta, e também tem ótimos cortes de carne, como bife ancho, T-bone, bife de chorizo e prime rib. Optei por um clássico: o picadinho de mignon com batatas fritas e arroz, com um adicional de tutu de feijão. Simples, gostoso e muito bem servido.

7. Porco & Pizza
Rua Doutor Casemiro da Rocha, 90
Segunda a quinta-feira, das 15h às 23h; e às sextas, sábados e domingo, das 12h às 23h
O Porco & Pizza é comandado pelo simpático Robson e investe em ingredientes de qualidade, incluindo insumos italianos, para compor suas pizzas de massa de fermentação natural. As redondas são no tamanho individual, com 30 cm de diâmetro, e a minha margherita estava impecável.

Mas, como o nome sugere, não há só pizzas no cardápio. O porco aparece entre as entradas, como torresmo, costeleta e linguiça artesanal, e também em pratos para serem divididos, como a leitoa assada à pururuca e o joelho de porco.
Localizado bem no centro, é um dos restaurantes onde eu vi mais movimento em Cunha, então vale chegar cedo para garantir uma mesa às sextas-feiras e sábados.

Bônus: Gelataio e Moara Café
No centrinho de Cunha, vale pegar um sorvetinho no Gelataio (Rua Professor José Maria Amato, 10) e passear com o seu cone em mãos pela praça da Paróquia Nossa Senhora da Conceição. As casquinhas são feitas na própria sorveteria e os sabores são rotativos, mas costumam incluir opções feitas com produtos locais.




Fonte: viagemeturismo