Em 30 anos, a agricultura brasileira cresceu em média 2,59% ao ano, enquanto o uso de insumos cresceu 0,97% ao ano. O crescimento é resultado principalmente dos investimentos em pesquisa e educação. A anålise foi apresentada pelo pesquisador Steven Helfand, da Universidade da Califórnia, durante o seminårio Mundo Agro, que reuniu lideranças da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), na tarde de terça-feira (29/07/25).
A partir da coleta de dados de 1985 a 2017, considerando uma escala de 0 a 5, os pesquisadores verificaram um crescimento de 2,59% ao ano na agricultura brasileira e de 1,56% ao ano na produtividade. Contudo, o crescimento nĂŁo foi uniforme em todos os biomas: enquanto na Caatinga o crescimento em produtividade foi prĂłximo a zero, na AmazĂŽnia foi de 1%, na Mata AtlĂąntica foi de 1,25% e no Cerrado chegou a 2,43%.
No componente educação, a mĂ©dia de crescimento por bioma foi: Caatinga 0,16; AmazĂŽnia 0,17; Mata AtlĂąntica 0,27; e Cerrado 0,30. âO crescimento estĂĄ diretamente relacionado aos investimentos em pesquisa agropecuĂĄria e educação no campo. Verificamos que a maioria dos produtores com baixa produtividade na dĂ©cada de 1980, permanece com a mesma situação 30 anos depois. Entre os produtores que se mantiveram na baixa produtividade, 80% estĂĄ na Caatinga. Entre os produtores que obtiveram baixa e aumentaram a produtividade no perĂodo, 60% estĂŁo no Cerradoâ, afirma Steven Helfand.
Uma anålise dos dados mostra que, até a década de 1990, o componente animal se destacava na produção agropecuåria brasileira. A partir de 1996, as culturas anuais, especialmente a produção de grãos, despontaram no crescimento da agricultura brasileira.
O pesquisador AntĂŽnio Buainain, da Unicamp, lembra que o crescimento da agricultura no Cerrado nĂŁo ocorreu ao acaso, mas como resultado de polĂticas pĂșblicas e muito planejamento: âO crescimento da agricultura no Cerrado nĂŁo partiu das empresas privadas. As bases foram determinadas pela Embrapa atravĂ©s do investimento do poder pĂșblico em pesquisa. Foram decisĂ”es polĂticas tomadas muito tempo atrĂĄs que refletem o cenĂĄrio que estamos vivendo agoraâ. Ele lembra que as açÔes regionais tambĂ©m resultaram em crescimento, como a produção de maçãs na RegiĂŁo Sul e de flores no Sudeste, por exemplo, mas nada se assemelha Ă s dimensĂ”es econĂŽmicas e territoriais alcançadas no Cerrado do Brasil Central.
De forma genĂ©rica, os pesquisadores traçaram uma linha do tempo para avaliar os resultados dos investimentos em pesquisa: âOs investimentos em pesquisa começam a aparecer apĂłs 4 anos, alcançam o auge aos 12 anos e se mantĂȘm impactando dos 14 aos 22 anos, quando entram em declĂnio. O planejamento precisa ser de longo prazoâ, explica Steven.
Conforme os pesquisadores, as desigualdades geradas pelo desenvolvimento intenso, desuniforme e heterogĂȘneo das Ășltimas dĂ©cadas dependem do poder pĂșblico para ampliar os resultados da pesquisa a produtores que continuam na baixa produtividade. Estima-se que 10% dos produtores rurais concentram 85% da produção no Brasil e sĂŁo esses produtores que determinam o crescimento da agricultura brasileira.
âEstamos assistindo a uma crise na agricultura familiar que se reproduz em muitos paĂses, inclusive nos Estados Unidos. Mas Ă© na agricultura de subsistĂȘncia dos paĂses latino-americanos que estĂĄ acontecendo com mais intensidade. AlĂ©m do baixo acesso a polĂticas pĂșblicas e Ă educação, a agricultura familiar Ă© a que mais sofre com os efeitos do climaâ, conta Buainain.
E conclui: âA empresa pĂșblica precisa investir em pesquisas que nem sempre gerem retorno financeiro imediato, em ĂĄreas administradas pelo setor privado. O papel de uma empresa pĂșblica como a Embrapa Ă© o desenvolvimento da agricultura brasileira nas diferentes esferasâ.
Para Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, o encontro foi uma oportunidade para avaliar como a pesquisa pĂșblica realizada na Embrapa pode contribuir para que o Brasil continue crescendo na agropecuĂĄria com equilĂbrio econĂŽmico, social e ambiental: âO papel da pesquisa Ă© atender a demanda da população na produção de alimentos e, como empresa pĂșblica, a Embrapa estĂĄ sempre atenta aos cenĂĄrios que afetam o produtor rural no presente, sem perder o olhar nas tendĂȘncias do futuro. necessĂĄria para a melhor orientação das linhas de pesquisa da Embrapaâ.
Fonte: cenariomt