O volume de brasileiros com o nome negativado voltou a crescer em junho de 2025, alcançando a marca de 71,28 milhões de pessoas com contas em atraso. Isso significa que 42,89% da população adulta está inadimplente, de acordo com dados divulgados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
A elevação consolida uma tendência de agravamento do endividamento das famílias, com aumento anual de 7,73% em comparação ao mesmo mês do ano passado. Em relação a maio, o avanço foi de 0,93%. O ritmo de crescimento da inadimplência, tanto na variação mensal quanto anual, mostra que cada vez mais consumidores enfrentam dificuldades para manter seus compromissos financeiros em dia.
Endividamento avança apesar de melhora nos indicadores macroeconômicos
Mesmo com sinais positivos em alguns indicadores econômicos, como desaceleração da inflação e leve aquecimento do mercado de trabalho, o alívio ainda não chegou ao bolso do consumidor. A avaliação é do presidente da CNDL, José César da Costa:
“A inadimplência segue em níveis alarmantes. A combinação de juros elevados, perda de renda e encarecimento do custo de vida tem empurrado milhões de brasileiros para o endividamento crônico. Precisamos de ações estruturais que ofereçam alternativas para a renegociação de dívidas e mais acesso à educação financeira”, afirmou.
Perfil do inadimplente: jovens, dívidas antigas e valores menores
A maior parte dos inadimplentes tem entre 30 e 39 anos, faixa etária que representa 23,7% do total — o equivalente a mais de 17,6 milhões de pessoas. Neste grupo, mais da metade (51,91%) já está negativada. A inadimplência também é dividida quase igualmente entre os sexos: 51,15% são mulheres e 48,85% são homens. A idade média dos devedores é de 44,8 anos.
Outro dado relevante é o tempo médio de atraso: 28,1 meses, ou pouco mais de dois anos, evidenciando o acúmulo e a persistência das dívidas. Cresceu especialmente o número de pessoas com dívidas entre 3 e 4 anos de atraso — alta de 46,54% neste perfil.
Mesmo com o agravamento do quadro, a maioria das dívidas continua concentrada em valores mais baixos: 30,24% devem até R$ 500, enquanto 43,48% têm dívidas de até R$ 1.000. O valor médio devido por inadimplente é de R$ 4.786,83.
Setores credores: bancos lideram com folga
O setor bancário continua dominando a lista dos principais credores, com 66,89% das dívidas registradas. As instituições financeiras também puxaram o maior aumento de débitos em atraso na comparação anual de junho: +16,51%, avanço superior ao registrado em maio (14,37%).
Outros setores também apresentaram crescimento nas dívidas atrasadas, como Água e Luz (+6,44%). Por outro lado, setores como Comunicação (-1,23%) e Comércio (-0,22%) mostraram retração nos registros de inadimplência.
Em média, cada consumidor negativado acumula dívidas com 2,21 empresas diferentes, número que vem subindo levemente mês a mês.
Centro-Oeste lidera crescimento da inadimplência entre as regiões
O Centro-Oeste brasileiro apresentou o avanço mais significativo no número de inadimplentes, tanto no recorte anual quanto na proporção da população afetada.
Em junho, a região registrou aumento de 9,78% no número de negativados em relação ao ano anterior — índice superior aos 8,19% de maio. No total, 46,28% da população adulta do Centro-Oeste está inadimplente.
Outras regiões também apresentaram crescimento, com destaque para o Sul (+8,03%), Norte (+6,12%), Sudeste (+5,93%) e Nordeste (+5,61%). Já em relação ao total de dívidas em atraso, o Centro-Oeste também lidera com alta de 15,98%, seguido pelo Sul (13,86%) e Norte (12,24%).
A região Sul permanece com o menor percentual de adultos negativados (37,59%), o que reforça sua maior resiliência financeira em comparação com outras partes do país.
Panorama preocupante exige resposta efetiva
Para Roque Pellizzaro Junior, presidente do SPC Brasil, os dados reforçam a urgência de políticas públicas voltadas à recuperação do poder de compra e ao combate ao endividamento crônico:
“Estamos diante de um problema estrutural que não se resolve apenas com medidas pontuais. O aumento recorrente da inadimplência compromete o consumo, afeta o crédito e prejudica o crescimento da economia. Precisamos de estratégias consistentes, com foco na renegociação de dívidas, educação financeira e ampliação do acesso a crédito responsável”, destacou.
Fonte: cenariomt