Uma análise de 189 estudos diferentes realizados entre 2002 e 2024 mostrou que punições corporais não trazem nenhum tipo de benefício para crianças de países de média e baixa renda, como o Brasil. A conclusão da pesquisa segue os resultados de outros estudos similares em países mais ricos, que também não encontraram nenhum efeito positivo para o ato de bater em crianças como bronca ou castigo.
Essa metanálise combinou os resultados de 92 países diferentes para chegar a uma conclusão sobre o tema. A pesquisa foi conduzida por psicólogos de algumas das melhores universidades dos Estados Unidos, como Harvard, Yale e a Universidade de Nova York (NYU), e publicada no periódico Nature Human Behaviour.
Antes desse estudo, era difícil extrapolar as conclusões obtidas em países de alta renda para o resto do mundo. A ciência global tem um problema de viés que a gente já explicou aqui na Super: a maioria das pesquisas são feitas em países ricos, e particularidades de um ou outro local podem ter muita influência nos resultados.
Alguns pesquisadores haviam sugerido que as palmadas poderiam ter efeitos diferentes em países onde elas eram mais socialmente aceitas, mas não dava para saber o que era universal e o que era cultural sem uma análise dos estudos realizados em países de baixa ou média renda. Agora, os psicólogos podem dizer com propriedade: não há benefício algum em bater em crianças e adolescentes, independentemente da cultura ou do país.
Não faz bem para ninguém
Os castigos corporais foram associados de forma negativa a diversas categorias estudadas. As palmadas estão ligadas a relacionamentos piores entre pais e filhos, mais prática e aprovação de violência, mais problemas de saúde mental e uso de substâncias, notas piores na escola, problemas de comportamento e uma pior qualidade do sono.
A metanálise só não encontrou relações entre punições corporais e habilidades cognitivas, motoras e probabilidade de praticar trabalho infantil. Nenhum resultado positivo foi associado aos castigos físicos.
Os resultados são tão fortes e consistentes, em tantos estudos diferentes, que dá para sugerir que “punições físicas são universalmente prejudiciais para crianças e adolescentes”, de acordo com depoimento de Jorge Cuartas, principal autor do estudo e pesquisador da NYU.
O estudo segue critérios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apelidada de “clube dos países ricos”, que mantém uma lista de países de baixa e média renda atualizada de três em três anos. Um país de renda alta tem um PIB per capita de, pelo menos, US$ 14 mil (R$ 80 mil). O Brasil se encontra na classe média dos países, com renda per capita anual de um pouco mais de US$ 10 mil.
Entre os países de alta renda, que também concentram a maioria das pesquisas sobre punição corporal, já era consenso científico que bater em crianças não trazia benefícios. Em 2006, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que a prática fosse proibida. 65 países já tem legislações com proibições parciais ou completas, mas a maioria deles faz parte dessa classe alta das nações.
Fonte: abril