O ataque que chocou a região
Na manhã do dia 21 de abril, Jorge Avalo, um trabalhador dedicado e experiente, realizava tarefas rotineiras em uma propriedade rural a cerca de 230 km de Campo Grande. Nada indicava que aquele seria seu último dia. Sem aviso, a selva rompeu sua quietude com um rugido feroz — e Jorge não teve chance. Foi surpreendido por uma onça-pintada em busca de alimento, um predador no auge da fome, talvez estressado pela perda de território, talvez apenas seguindo seus instintos.
Relatos dão conta de que o felino, como que marcado pelo cheiro ou por lembranças da presa fácil, retornou ao local do ataque no dia seguinte. Foi aí que começou a contagem regressiva para sua captura.
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Quem era Jorge Avalo?
Homem simples, Jorge era conhecido pela comunidade local como um verdadeiro guardião da terra. Seu convívio com a natureza era de respeito e admiração. Tinha 60 anos de história cravada naquele solo, e partiu de forma brutal, arrancando lágrimas até dos mais calejados peões da região.
A caçada: precisão e respeito
Mobilizando a Polícia Militar Ambiental, veterinários, biólogos e especialistas em fauna silvestre, a operação teve como foco capturar o animal sem causar mais danos — nem à onça, nem ao equilíbrio já frágil do ecossistema pantaneiro. Foi como procurar uma agulha num palheiro enlameado, mas com o faro da ciência e a paciência de quem entende que a natureza não se dobra a pressa.
Quando o felino foi finalmente localizado e sedado, uma onda de alívio percorreu a equipe. O macho, pesando 94 quilos, estava abaixo do peso — um sinal claro de que seu comportamento agressivo podia ter sido motivado por dificuldades para caçar e sobreviver.
Destino: CRAS de Campo Grande
Agora, o animal será encaminhado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, onde passará por exames e avaliações detalhadas. O objetivo é entender seu estado de saúde, possíveis traumas e avaliar se é possível um dia devolvê-lo à natureza — em segurança para ele e para os humanos.
O que é o CRAS?
O CRAS é uma das instituições mais respeitadas do Brasil quando se fala em cuidados com a fauna silvestre. Ali, animais resgatados de situações de risco, como tráfico, maus-tratos ou, como nesse caso, conflitos com humanos, recebem atendimento veterinário e psicológico.
Convivência perigosa: quem invadiu o território de quem?
Esse não foi o primeiro caso de ataque de onça a humanos no Pantanal — e, se nada mudar, infelizmente não será o último. A pergunta que ecoa entre as árvores e nos noticiários é sempre a mesma: quem está no lugar errado? O felino ou o homem?
A resposta é mais incômoda do que se gostaria. A expansão agrícola, a pecuária e o avanço do desmatamento estão empurrando os animais cada vez mais para dentro das propriedades humanas. Para eles, é uma questão de sobrevivência. Para nós, de segurança. Para ambos, de convivência mal resolvida.
Um chamado à consciência
Especialistas ambientais têm reforçado, repetidamente, que a melhor maneira de evitar tragédias como essa é com prevenção e conscientização. Isso inclui desde o cercamento adequado de áreas de risco até a educação de comunidades sobre como agir em caso de encontros com grandes predadores.
Legado de dor, esperança de mudança
A morte de Jorge Avalo é um daqueles acontecimentos que deixam marcas. Marcas que não se apagam com o tempo, mas que podem — e devem — servir de combustível para transformações urgentes. O Pantanal, berço da biodiversidade, está em desequilíbrio. E cada ataque como esse é um sinal de alerta.
Como sociedade, precisamos escolher: vamos continuar empurrando os limites da natureza até ela reagir com violência? Ou vamos aprender a coexistir com respeito e equilíbrio?
O que você pode fazer?
Se mora em área de risco:
- Evite deixar restos de comida e animais domésticos soltos;
- Use cercas reforçadas em locais vulneráveis;
- Informe-se sobre comportamento de felinos e compartilhe esse conhecimento com vizinhos.
Se está longe, mas se importa:
- Apoie projetos de preservação ambiental e centros de reabilitação animal;
- Compartilhe informações confiáveis sobre o tema;
- Pressione autoridades por políticas públicas que garantam a preservação dos biomas brasileiros.
Considerações finais
A história da onça-pintada e de Jorge Avalo é mais do que uma tragédia — é um espelho. Um reflexo de como temos tratado nossos espaços naturais, nossos animais, nossos próprios semelhantes. É um lembrete de que a selva e a cidade não são tão separadas quanto parecem. No fim das contas, ou aprendemos a caminhar juntos, ou todos perdemos.
Fonte: cenariomt