O governo Lula pede ao público pagante que acredite na seguinte história que está contando — ou que tentou contar. Foi tudo uma fake news da extrema direita para sabotar a ordem econômica.
Alguém já viu a Receita soltar uma portaria, uma única que fosse, para cobrar menos imposto? Alguém já viu o presidente Lula contar uma mentira, também uma única que fosse, ou dizer uma coisa e fazer outra? Ou seja: por que o medo?
Diante da vida pregressa que o governo tem em matéria de mentira e de verdade, já seria um milagre que a população acreditasse nas negativas coléricas sobre a cobrança de mais imposto. “Toca a Polícia Federal em cima deles”, exigiam as autoridades. “Chama a PGR. Chama a AGU. Chama o Xandão”. Mas se a revolta que explodiu nas redes sociais era fruto de fake news, e a decisão não tinha nada de errado, porque raios a portaria foi revogada?
É, mais uma vez, o governo sendo pego em flagrante delito — e recuando quando é descoberto. Ficaram todos revoltados com as redes, mas o problema não tem absolutamente nada a ver com redes, “discurso do ódio” e outras criações do seu estoque de mulas-sem-cabeça. Tem a ver unicamente com a morte e o enterro de qualquer credibilidade que o poder público possa ter no Brasil de hoje. Ninguém acredita mais em Lula, Janja, Haddad etc., nem leva a sério nada que venha do governo — é esse o drama.
Lula já disse que a picanha estava, sim, caindo de preço, que não haveria impostos nas “blusinhas” e que “ninguém” tem mais “responsabilidade fiscal” do que ele. Já prometeu arroz do governo a preço de liquidação. Já anunciou que “agora” chegou o momento da “colheita” — como assim, se não plantou nada? A questão, a essa altura, se reduz a uma pergunta só: qual a razão objetiva para uma pessoa normal acreditar em qualquer coisa que presidente diga, ou que o governo anuncie?
A única fake news legítima nessa história do Pix, na verdade, foi produzida pelo próprio governo, com a gritaria histérica contra as redes. É como se fossem elas, e não a máquina estatal, que tivessem escrito a ordem idiota — tão idiota que eles mesmos tiveram de revogar. Pior que o soneto parece ser a emenda. O nível desesperadamente baixo da linguagem do novo Ministério da Comunicação em sua tentativa de reagir ao desastre só mostra que eles continuam sem entender nada.
Fonte: revistaoeste