Sophia @princesinhamt
Política

‘Oportunidade: Vagas abertas para Ministros do STF’

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O triste acontecimento de 13 de novembro, objetivamente falando, foi que um infeliz compatriota resolveu cometer suicídio explodindo-se na Praça dos Três Poderes. Poderia mesmo movê-lo um sentimento de raiva contra as autoridades do país, contra os deputados brasileiros, contra os ministros do . Certamente o moviam seus próprios problemas psicológicos. Nada justifica o que fez. Lamentamos por isso e nos solidarizamos com quem houver sido afetado por essa tragédia, esse desfecho tão deplorável para uma biografia.

Para o país, porém, o mais trágico foi o espetáculo circense que sobreveio. Não nos parece necessário enfatizar uma vez mais que os “vândalos” armados com estilingues e bolinhas de gude do 8 de janeiro de 2023 não dispunham de nenhuma condição de derrubar aqueles que então estavam — e ora estão — no poder e que o Brasil não passou nem perto de um golpe ou revolução naquele dia.

Já o dissemos por vezes demais e deveria ser óbvio para qualquer um com senso de proporções e de realidade. Não apenas os ministros do STF, porém, retomaram essa esquizofrênica narrativa de que as instituições nacionais estiveram por um fio e foram salvas por suas providenciais intervenções vincularam o evento do dia 13 àquela ocorrência já distante, bem como a um suposto profundo mal-estar de nosso tempo — como se suicídios e fanatismos fossem uma absoluta novidade.

O pensador pacifista , em seu nobre discurso, foi o primeiro a resgatar a mitologia do 8 de janeiro ao asseverar que o 13 de novembro demonstrou a necessidade de punição severa dos culpados para pacificação do país. Perguntou-se ainda, filosofando, “onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência” (que o digam as Revoltas Federalistas do Rio Grande do Sul, a Revolução Constitucionalista de 1932, a luta armada no período militar e tantos outros casos de nossa História que desmontam facilmente tal imagem idílica).

Defendeu a necessidade de uma “pequena revolução ética e espiritual” para a nação e garantiu que o Supremo Tribunal Federal nunca se furtará de defender a Constituição e a convivência democrática, respeitando o espaço de todas as . Nem parecia aquele orador entusiasmado que subiu ao em evento da União Nacional dos Estudantes para se envaidecer de ter sido um dos protagonistas na luta para derrotar o bolsonarismo — como se o campo de batalha político coubesse a um magistrado!

Ministro Gilmar Mendes defendeu o STF | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Ministro Gilmar Mendes Defendeu O Stf | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Depois do pronunciamento desse filósofo da paz, foi a vez do comentarista político e investigador policial . Em sua fala, ele criticou o governo federal anterior, sentenciando que foi responsabilidade da gestão Bolsonaro estimular “o discurso de ódio, o fanatismo político e a indústria de desinformação”, bem como o “sectarismo infértil” que levaram até este estado de coisas.

Inequivocamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, a explosão de 13 de novembro é um capítulo de uma história mais antiga, disse Mendes, mediante a qual “a ideologia rasteira que inspirou o golpe de Estado” se desenvolveu. O trágico evento foi “mais um ataque às instituições democráticas do nosso país”. Por sua vez, Alexandre de Moraes garantiu que “o que ocorreu (…) não é um fato isolado”, pois teve um contexto iniciado “quando o famoso gabinete do ódio começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o Supremo Tribunal Federal, principalmente”. 

Filósofos verborrágicos, comentaristas políticos, militantes partidários, investigadores policiais apurando a natureza de casos violentos; ministros do Supremo Tribunal Federal, na função de juízes que discretamente zelam pelo império da lei e da Constituição? Procuram-se esses tais, pois foram tudo o que não se encontrou nessa abertura de sessão que mais pareceu uma espécie de propaganda orquestrada da “intervenção redentora” da toga.

Atentado STF
Stf Foi Evacuado Na Noite De Quarta-Feira 13 De Novembro | Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Não faz muito tempo, . A pregação apocalíptica dos formadores de opinião “progressistas” naquele país diante da hipótese de seu triunfo eleitoral não foi acusada pelos nossos analistas de toga e nossos formadores de opinião de esquerda no Brasil de estar destruindo a democracia americana em função daquele ato violento.

O próprio Jair Bolsonaro, por sua vez, para nos voltarmos a um caso nacional, sofreu a notória facada de Adélio Bispo em 2018. Em ambas as ocasiões, ocorreram atentados à democracia — e contra aqueles que os pensadores e comentaristas que vimos falando na tarde do dia 14 acusariam de serem os fomentadores da cizânia e da violência. 

Vimos ministros de nossa Suprema Corte fazendo empolados discursos sobre como a civilização está desmoronando e a paz e o amor só virão se lhes permitirmos, sem contestação, sem protesto — e assim podemos traduzir com crueza o que certamente queriam dizer —, exercerem as nobres tarefas de determinar a “educação” das redes sociais, a “poda” de revistas como a Crusoé ou a multiplicação do ativismo judicial para suprir a inação dos malfadados representantes eleitos do povo, que estão ameaçando o bom funcionamento da democracia porque não fazem tudo o que os editores do país desejam. 

Se há algum discurso que estimule irresponsavelmente reações dos fanáticos e desequilibrados, é esse tipo de retórica surrealista. Ao preferirem brilhar nas manchetes a se aterem aos seus papéis, os ministros do STF não colaboram para a garantia do Estado de Direito que querem sustentar. Devemos nos manifestar contra qualquer tentativa de policiar ainda mais as nossas consciências explorando essa tragédia individual. A liberdade e a discussão aberta de ideias são e sempre serão o caminho para lidarmos com nossas diferenças.

Fonte: revistaoeste

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