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Ciência & Saúde

Colônia de cupins mais antiga do mundo: desde os neandertais até hoje

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Em Namaqualândia, uma região deserta perto do Rio Buffels, na África do Sul, 27% da paisagem é ocupada por pequenos montes de areia. Essas montanhinhas apelidadas de heuweltjies (“pequenas colinas” em afrikaans) são na verdade cupinzeiros.

Eles possuem uma rede subterrânea de túneis e ninhos de cupins colhedores do sul (Microhodotermes viator) que existem ali desde a época em que os neandertais ainda andavam pela Terra. Um estudo recente analisou que essas colônias, além de velhas, são responsáveis por fazer o deserto florir – e podem ter uma solução para o armazenamento de gás carbônico. 

A descoberta começou por acaso. Três anos atrás, uma equipe de cientistas pesquisava o solo ao redor do Rio Buffels, tentando entender por que as águas subterrâneas daqueles rios são salgadas. Foi quando perceberam que a salinidade da água estava diretamente ligada à localização dos cupins. Assim, optaram por fazer a datação de radiocarbono da região, para identificar quando os minerais armazenados nos cupinzeiros teriam penetrado nas águas do solo.

A resposta surpreendeu os pesquisadores. Eles descobriram que as colônias eram muito mais antigas do que qualquer outra registrada, com cerca de 34 mil anos. O resultado desbancou o antigo campeão: um cupinzeiro brasileiro de 4 mil anos.

O estudo, publicado no Science of The Total Environment, trouxe descobertas sobre a participação dos cupins no ciclo de carbono. Estudando as colônias, cientistas podem entender como reservar carbono e aplicar essa estratégia nos dias atuais para reverter mudanças climáticas.

Sequestro de carbono 

A área deserta de Namaqualândia é reconhecida como um hotspot: locais com muita biodiversidade e espécies únicas, que enfrentam forte pressão humana. Mesmo com o solo árido e pouca reserva de água ou águas salinas no subsolo, na primavera o espaço se enche de flores

As chuvas que ocorrem lá raramente são intensas. Nesses casos, as tocas de cupins servem como caminho para o fluxo de água, que coletam e canalizam o líquido para os heuweltjies

“Isso faz com que os sais que se acumularam nos montes ao longo de milhares de anos sejam descarregados no sistema de águas subterrâneas através de caminhos criados pela construção de túneis das térmitas, empurrando os minerais dissolvidos cada vez mais fundo”, explica Michele Francis, autora principal do estudo para o The Conversation

Esse processo enterra o carbono que estava armazenado no centro das colônias, vindo de plantas coletadas por cupins ao longo dos anos.

Como os cupins fazem isso?

Essa habilidade funciona assim: o inseto leva matéria orgânica (como plantinhas e gravetos) para a toca, abaixo da superfície. Assim, as novas fontes de CO2, liberadas por essa matéria orgânica, são acrescentadas continuamente em um recinto de profundidade menor que um metro. Esse armazenamento, feito pelos cupinzeiros, diminui as chances do carbono orgânico ser liberado na atmosfera. 

E não é só no aterramento de carbono que esses animais contribuem. O carbono orgânico se dissolve pelos túneis da colônia, se transformando em carbono inorgânico ou calcário calcítico, responsável por neutralizar a acidez do solo e ajudar no crescimento de plantas. Ou seja, os cupins são os grandes responsáveis pela primavera florida do espaço desértico. Em Namaqualândia, os cupins colaboram com 44% do estoque de carbono nos solos.

“Isso destaca a contribuição desproporcional que os cupinzeiros dão aos estoques de carbono nesses ambientes semiáridos,” diz Francis sobre a importância desses animais para o globo. “Estas descobertas são mais uma prova de que os isópteros [cupins] merecem plenamente a sua reputação como engenheiros de ecossistemas.” 

O estudo sugere que as estratégias observadas nos heuweltjies deveriam ser replicadas em modelos de carbono, focando em florestas e oceanos, para melhorar o entendimento do comportamento global do CO2.

Fonte: abril

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