📝RESUMO DA MATÉRIA
- Pesquisadores da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, testaram óleo de rícino no tratamento da síndrome do olho seco, e obtiveram resultados promissores.
- Pessoas com blefarite, uma inflamação das pálpebras que é uma causa comum da síndrome do olho seco, aplicaram uma formulação de óleo de rícino 100% prensado a frio na pálpebra de um olho duas vezes ao dia durante quatro semanas.
- Houve uma melhora significativa nos sintomas de olho seco nos olhos tratados com óleo de rícino.
- Os olhos tratados com óleo de rícino apresentaram redução do inchaço das pálpebras, vasos sanguíneos visíveis, cílios emaranhados, perda de cílios, flocos semelhantes a caspa e inflamação das pálpebras.
- A aplicação tópica do óleo de rícino tem uma variedade de usos benéficos para a saúde da pele e do cabelo, infecções fúngicas, dores musculares e articulares e muito mais.
🩺Por Dr. Mercola
O óleo de rícino vem das sementes da planta de mamona, Ricinus communis. É um líquido amarelo-claro com sabor e odor característicos, composto sobretudo de ácido ricinoleico, que representa cerca de 90% do seu teor de ácidos graxos.
Conhecido por seus diversos usos industriais, medicinais e cosméticos, o óleo de rícino tem sido utilizado há séculos. Na indústria, o óleo de rícino é usado como lubrificante e na produção de sabões, tintas e ceras. Na medicina, é comum ele ser usado como laxante para aliviar constipação ocasional. Pesquisadores da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, também testaram o óleo no tratamento da síndrome do olho seco, e obtiveram resultados promissores.
Síndrome do olho seco aumentando em jovens e idosos
A síndrome do olho seco, também conhecida como doença do olho seco ou ceratoconjuntivite seca, é uma condição comum que ocorre quando os olhos não produzem lágrimas suficientes ou quando as lágrimas evaporam muito rápido. Isso resulta em inflamação e danos à superfície do olho, causando desconforto e problemas de visão.
Em todo o mundo, a prevalência pode chegar a 50% em certas regiões, com o risco aumentando a partir dos 50 anos. Outros fatores de risco incluem menopausa, doenças autoimunes, tempo prolongado em frente às telas e uso de lentes de contato.
Na Nova Zelândia, estima-se que 58% das pessoas com mais de 50 anos tenham síndrome do olho seco, enquanto nos EUA a condição está aumentando tanto em adultos jovens quanto idosos, “tornando imperativo que os médicos descubram a melhor forma de tratá-la”, observou a Academia Americana de Oftalmologia.
A blefarite, uma inflamação das pálpebras, sobretudo na base dos cílios, é uma das causas mais comuns da síndrome do olho seco, sendo responsável por mais de 80% dos casos, de acordo com a Universidade de Auckland.
“Hoje em dia, os pacientes enfrentam sintomas de secura, sensação de areia e, em alguns casos, olhos lacrimejantes que causam desconforto e afetam a qualidade de vida e produtividade no trabalho”, explicou a principal pesquisadora clínica do estudo, Catherine Jennings. “Muitas vezes, os pacientes se sentem impotentes ao tentar gerenciar uma condição crônica”.
Embora existam medicamentos antibacterianos e anti-inflamatórios disponíveis para tratamento, a resistência antimicrobiana e os efeitos colaterais significativos, tornam eles inadequados para uso a longo prazo. Pesquisadores da Universidade de Auckland testaram óleo de rícino prensado a frio enriquecido com óleos de mānuka e kanuka, aplicado com um aplicador de bola rolante, para tratamento.
Estudo mostra que o óleo de rícino melhora a blefarite e a síndrome do olho seco
O estudo envolveu 26 pessoas com sinais de blefarite. Eles aplicaram uma fórmula 100% de óleo de rícino prensado a frio na pálpebra de um olho, duas vezes ao dia, durante quatro semanas.
No início, não houve diferenças entre os olhos tratados e os olhos de controle. Entretanto, após quatro semanas de tratamento, houve uma melhora significativa nos sintomas de olho seco nos olhos tratados com óleo de rícino. Os olhos tratados apresentaram redução do inchaço das pálpebras, vasos sanguíneos visíveis, cílios emaranhados, perda de cílios, flocos semelhantes a caspa e inflamação das pálpebras.
O tratamento com óleo de rícino também resultou em menos formação de crostas estafilocócicas e seborreicas nos cílios em comparação com os olhos de controle. Além disso, não foram relatados efeitos colaterais negativos. Segundo o estudo:
“A aplicação tópica de óleo de rícino resultou em melhorias significativas nos sinais e sintomas da superfície ocular em pacientes com blefarite. O perfil terapêutico favorável sugere que o óleo de rícino demonstra potencial como um possível tratamento para blefarite e apoia a realização de novos ensaios de eficácia com acompanhamento mais longo”.
Os pesquisadores estão agora conduzindo um estudo duplo-cego, randomizado e controlado por placebo para analisar com mais detalhes os efeitos do óleo de rícino no olho seco e na formação de crostas nos cílios. A autora do estudo, Jennifer Craig, chefe do Laboratório de Superfície Ocular da Universidade de Auckland, afirmou:
“O óleo de rícino foi proposto como um produto natural que pode oferecer uma alternativa segura, eficaz e fácil de usar às terapias existentes.
Minha esperança é que este estudo produza orientações baseadas em evidências para os médicos com relação a oferecer óleo de rícino como uma possível opção de tratamento para pacientes que sofrem de blefarite, para que eles continuem desfrutando de uma ótima qualidade de vida, leiam os livros que amam, sejam produtivos em seu ambiente de trabalho e apreciem outros hobbies visuais”.
Craig e seus colegas escreveram uma revisão em 2020 sobre o potencial terapêutico do óleo de rícino no tratamento de blefarite e olho seco, além da disfunção da glândula meibomiana (DGM), que causa secura nos olhos, observando:
“O óleo de rícino é considerado seguro e tolerável, com fortes propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias, antinociceptivas, analgésicas, antioxidantes, cicatrizantes e vasoconstritoras. Seu principal constituinte, o ácido ricinoleico, possui estrutura molecular bipolar que promove a formação de ésteres, amidas e polímeros.
Esses compostos podem suplementar lipídios deficientes no filme lacrimal fisiológico, permitindo características aprimoradas de espalhamento de lipídios e reduzindo a evaporação aquosa da lágrima. Estudos revelam que o óleo de rícino de aplicação tópica na superfície ocular tem um tempo de permanência prolongado, facilitando o aumento da espessura da camada lipídica do filme lacrimal, a estabilidade, a melhora da coloração da superfície ocular e dos sintomas”.
O óleo de rícino tópico tem muitos usos
O óleo de rícino é considerado um dos medicamentos mais antigos do mundo, talvez mais conhecido por seus efeitos laxantes e capacidade de induzir o parto em mulheres grávidas, embora eu não recomende usá-lo para este último propósito.
Aplicado de forma tópica, o óleo de rícino pode ajudar a reduzir a inflamação e combater infecções. Às vezes, ele também é utilizado para tratar condições como artrite e pequenas infecções cutâneas. E o óleo pode promover a cicatrização de pequenos cortes e abrasões devido às suas propriedades antimicrobianas.
“O estudo piloto anterior, conduzido por nossa equipe de pesquisa, foi o único na aplicação de óleo de rícino nas pálpebras, sendo que o produto não é conhecido por ser usado em nenhum outro lugar do mundo para tratar blefarite”, disse Jennings. Além disso, relatos sugerem que aplicar uma pequena quantidade de óleo de rícino nas pálpebras pode ajudar a adormecer, enquanto o óleo de rícino tópico é muito usado para diversos fins de cuidados com os cabelos e a pele.
O óleo de rícino tem uma variedade de usos cosméticos e é um ingrediente popular em produtos para a pele, devido à sua capacidade de hidratar a pele de maneira profunda. Ele é usado com frequência para tratar pele seca e condições como eczema e psoríase, além de ser incluído em produtos para cuidados com os cabelos para auxiliar no crescimento dos fios, reduzir a caspa e hidratar o couro cabeludo.
Massagear óleo de rícino morno no couro cabeludo (e até nas sobrancelhas) pode estimular os folículos e resultar no crescimento extra de cabelo. Você verá resultados em no mínimo duas semanas, se fizer isto todas as noites. O óleo de rícino também pode funcionar em áreas afetadas pela alopecia.
Os ácidos graxos do óleo de rícino podem nutrir o folículo capilar, além de oferecer efeito hidratante aos cabelos. O ácido ricinoleico também ajuda a proteger haste do cabelo contra infecções fúngicas e microbianas e o couro cabeludo. Ele pode inibir a prostaglandina D2 sintase, que inibe o crescimento do cabelo, pois também penetra na pele.
Óleo de rícino para cuidados com a pele e infecções fúngicas
Algumas pessoas usam óleo de rícino para reduzir o aparecimento de rugas e linhas finas devido às suas propriedades hidratantes e anti-inflamatórias. Os ácidos graxos do óleo de rícino ajudam a nutrir e hidratar a pele seca. Ele permanece firme e penetra no tecido da pele, devido à sua natureza viscosa. O óleo de rícino é considerado um hidratante oclusivo, que forma uma barreira na pele, ajudando a prevenir a evaporação da água.
Ele também pode ter alguns efeitos benéficos em marcas na pele, acne e verrugas, devido às propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias do óleo de rícino. O óleo de rícino pode ter efeitos positivos contra a dermatite ocupacional, conforme um estudo publicado no Journal of International Toxicology.
O óleo de rícino pode até ser útil para aliviar infecções comuns, como micose, coceira na virilha (tinea cruris) e pé de atleta. Pesquisas também sugerem que compostos fitoquímicos no óleo essencial de rícino podem aliviar infecções causadas por fungos Cunninghamella bertholletiae, assim como medicamentos antifúngicos comuns.
Para usar, basta esfregar uma colher de chá de óleo de rícino entre as palmas das mãos e aplicar na pele. Para reduzir qualquer risco de irritação, você também pode misturar óleo de rícino com óleo carreador.
Para que mais serve o óleo de rícino?
Se você precisa de um laxante natural, o óleo de rícino é “em geral considerado seguro e eficaz” para uso como laxante estimulante, de acordo com a Food and Drug Administration dos EUA. A ingestão oral de óleo de rícino pode “limpar” o trato digestivo em um período de duas a cinco horas.
Lembre-se de ingeri-lo na dose adequada, no entanto. Enquanto as crianças de 2 a 12 anos devem receber apenas 1 a 2 colheres de chá, os adultos podem tomar 1 a 2 colheres de sopa. São aconselhados a não tomar mais do que uma colher de chá por vez, bebês menores de 2 anos. Experimente misturá-lo com suco espremido na hora para ficar mais palatável, ao dar para crianças.
A aplicação tópica de ácido ricinoleico encontrado no óleo de rícino também pode exercer “efeitos analgésicos e anti-inflamatórios notáveis”. É útil para aliviar dores musculares, dores nas articulações e “pode ser usado como uma terapia eficaz” entre pacientes com osteoartrite no joelho.
Você pode tentar esfregar óleo de rícino nos músculos após o treino para promover a circulação sanguínea e aliviar a dor, ou massageá-lo nas articulações para aliviar a dor. O ácido ricinoleico presente no óleo de rícino também tem um efeito descongestionante no sistema linfático, responsável por coletar resíduos dos tecidos e transportá-los para a corrente sanguínea para eliminação. O óleo de rícino, de aplicação tópica na pele, pode ajudar a estimular o sistema linfático.
O óleo de rícino é venenoso?
A semente de mamona tem propriedades anti-inflamatórias, anti-helmínticas, antibacterianas, cicatrizantes e laxantes, mas também contém ricina, um veneno que pode inibir a síntese de proteínas nas células, levando à morte celular. É por isso que se você mastigar e engolir sementes de mamona, será intoxicado. A ricina também está presente na polpa das sementes que permanece após ser prensada para extração de óleo, mas ela não é encontrada no óleo de rícino.
Segundo o International Journal of Toxicology: “O óleo de rícino não contém ricina porque a ricina não se dissolve no óleo”. Pode ser que o veneno das sementes de mamona seja o que tem o uso mais longo. De acordo com a revisão publicada na Toxins:
“A planta de mamona é conhecida desde tempos imemoriais e seu uso na era pré-histórica foi evidenciado por achados arqueológicos como o da Caverna da Fronteira, na África do Sul. Traços de cera contendo ácidos ricinoleico e ricinelaídico foram encontrados em um fino pedaço de madeira, que foi sugerido ser um aplicador de veneno, datando de cerca de 24.000 anos atrás”.
A ricina impede a síntese de proteínas e causa a morte celular através da ingestão oral, nasal ou transfusão intravenosa. Ela é tão potente que ingerir ou inalar apenas 1 miligrama pode ser fatal, assim como comer de quatro a oito sementes de mamona pode levar à morte. Não há antídoto para a ricina, e é por isso que ela é usada até como agente químico de guerra.
Como usar óleo de rícino com segurança
Embora a semente de mamona seja altamente tóxica, o óleo de rícino é seguro nas doses recomendadas. No entanto, a ingestão de grandes quantidades pode causar sérios problemas gastrointestinais, incluindo diarreia grave e desidratação. O uso excessivo também pode prejudicar o equilíbrio eletrolítico, por isso é importante seguir as dosagens recomendadas para uso interno e testar a sensibilidade da pele antes da aplicação tópica.
Além disso, mulheres grávidas não devem usar óleo de rícino devido à sua capacidade de induzir contrações. Mesmo em estágio avançado da gravidez, eu não recomendo o uso do óleo de rícino para estimular o parto. Um estudo relatou que todas as mulheres grávidas que tomaram óleo de rícino sentiram náuseas depois.
Outro estudo também alertou que as contrações induzidas pelo óleo de ricino podem levar à passagem de mecônio (as primeiras fezes do bebê) ainda no útero, colocando-o em risco de aspiração de mecônio, o que pode resultar em dificuldade respiratória neonatal.
Se você sofre de problemas digestivos como síndrome do intestino irritável, úlceras, cólicas, diverticulite, colite ou hemorroidas, aconselho evitar o uso deste óleo. Também devem evitar o uso de óleo de rícino aqueles que passaram por uma cirurgia recente. E ao escolher um produto para usar, procure óleo de rícino orgânico de uma fonte confiável.
Muitos óleos de rícino comerciais contêm resíduos de pesticidas e são processados com solventes e outros produtos químicos. Para obter o óleo da mais alta qualidade, livre de contaminantes e com seus componentes benéficos intactos, procure óleo de rícino orgânico.
Fonte: mercola