Sophia @princesinhamt
Política

Por que a esquerda debate os memes: entenda as razões por trás da problematização

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Até mesmo quem não é ativo nas redes sociais já deve ter recebido um meme do “Taxadd”. O apelido “carinhoso” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, surgiu no início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando ele começou a anunciar medidas para impulsionar a arrecadação fiscal do país.

A brincadeira, no entanto, só foi viralizar nas últimas duas semanas, quando uma enxurrada de memes tomou conta da internet e conseguiu unir — por milésimos de segundos  — esquerda e direita. Montagens, edições de vídeo e até surgem e viralizam com a mesma rapidez de sua aparição.

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de Haddad caracterizado o goleiro Taffarel | Foto: Reprodução/Redes sociais
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‘Taxati e Taxalá’ mostra Haddad e Lula como os palhaços Patati e Patatá | Foto: Reprodução/Redes sociais
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Um meme mostra Haddad como Maísa, antiga apresentadora do Bom Dia e Companhia | Foto: Reprodução/Redes sociais
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Caixa de ‘Taxinhas’ com o rosto de Haddad | Foto: Reprodução/Redes sociais
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Montagem com pôster do filme Madagascar, da Dreamworks | Foto: Reprodução/Redes sociais
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Em clima olímpico: Haddad é o ‘Taxa Olímpica’ | Foto: Reprodução/Redes sociais
Memes com Fernando Haddad tomaram conta das redes sociais | Foto: Reprodução
Ministro da Fazenda também se tornou o revolucionário ‘Che Taxara’ | Foto: Reprodução/Redes sociais
Memes com Fernando Haddad tomaram conta das redes sociais | Foto: Reprodução
De acordo com este meme, Haddad ‘Taxa tudo por dinheiro’ | Foto: Reprodução/Redes sociais
Memes com Fernando Haddad tomaram conta das redes sociais | Foto: Reprodução
Haddad como o cacique da ‘Tribo Taxando’ | Foto: Reprodução/Redes sociais

O sucesso de Taxadd tem uma explicação simples: o povo não concorda com o aumento dos impostos. Quem costumava comprar na Shein, Shopee, AliExpress e outros sites da China agora terá que pagar . Na votação da nova reforma tributária, a carne só não foi taxada por causa de uma .

Neste último exemplo, o governo petista ainda tentou se apropriar do feito para divulgá-lo como se fosse uma medida própria, mesmo que o presidente Lula tenha defendido a taxação de “carnes chiques” algumas semanas antes da análise do projeto. 

Em vez de reconhecer seus erros e — quem sabe — entrar na brincadeira, o PT e seus apoiadores preferiram tentar difundir várias narrativas para descredibilizar as brincadeiras feitas pela população.

. Enquanto isso, a presidente nacional do PT, deputada e demonstram um suposto “desespero da oposição” diante do “avanço da economia”.

Em 19 de julho, até mesmo Lula saiu em defesa de Haddad durante um discurso e disse que .

, o episódio foi tido como a “principal evidência” da tese de financiamento. No fim das contas, .

Com todas as tentativas de tentar descredibilizar a crítica por trás dos memes do Taxadd, surge a pergunta: por que a esquerda problematiza os memes? 

Pesquisadores dizem que o uso do humor como protesto foi — coincidentemente — mais intenso e prolongado durante o regime autoritário da União Soviética (1922-1991) e seu controle sobre os países do Leste Europeu.

De acordo com o artigo Humour and Protest: Jokes under Communism, publicado em 2007, as piadas passaram a ser uma forma de protesto porque era a maneira que a sociedade encontrou para mostrar sua insatisfação com o regime comunista. À medida que os governantes perdiam poder, os cidadãos se sentiam mais à vontade para deixar as piadas de lado e se posicionar abertamente contra o regime, sem medo de represálias.

“As piadas agora se tornaram parte integrante de uma retórica séria de resistência”, diz o artigo. “As piadas não tornam a retórica mais persuasiva ou significativa, mas a animam. Elas não são uma espada, mas são uma decoração atraente na bainha. As piadas de resignação ressentida rapidamente se tornam as piadas que acompanham a resistência ativa.”

Esses cidadãos ridicularizavam não apenas seus governantes, mas também o modelo de sociedade imposto pelo marxismo. As brincadeiras eram restritas ao povo e não apareciam nos meios de comunicação da época.

As piadas sob o comunismo tinham uma importância pessoal, política, intelectual e histórica muito maior do que as piadas políticas em sociedades tradicionais ou democráticas.

Um velho bolchevique diz a outro: ‘Não, meu amigo, não viveremos o suficiente para ver o comunismo, mas nossos filhos… nossos pobres filhos!’”

Qual é a diferença entre um conto de fadas capitalista e um conto de fadas marxista?

Um conto de fadas capitalista começa com ‘Era uma vez…’, um conto de fadas marxista começa com ‘Algum dia, haverá…‘”

– Qual é a diferença entre a Índia e a Rússia?
– Na Índia, um homem passa fome pelo povo, e na Rússia, o povo passa fome por um homem [Stalin]”.

Qual é a diferença entre as Constituições dos Estados Unidos e da URSS? Ambas garantem a liberdade de expressão.

A Constituição dos EUA também garante a liberdade depois da expressão”.

Em 1927, o crime de “propaganda anti-soviética” foi incluso no código penal da República Socialista Federativa Soviética Russa e era punido, em alguns casos, com a . O humor era tão crucial como protesto que, mesmo sob os riscos, os cidadãos arriscavam-se a fazer piadas críticas.

Esse tipo de protesto continuou até 1989, quando o comunismo começou a cair nos países do Leste Europeu. As piadas se tornaram parte da cultura e algumas ainda são usadas hoje em dia.

Na cultura brasileira, o uso do humor no diálogo sobre política também é comum. Nas décadas de 80 e 90, o jornalista Alexandre Garcia colunista de usou o seu quadro de crônicas no programa Fantástico para trazer uma percepção bem-humorada dos acontecimentos políticos da semana.

Outros programas da brasileira, como o Casseta & Planeta e Pânico, também usavam a política como planos de fundo para seus quadros. Porém, com a popularização da internet, este tipo de humor começou a ser frequente nas plataformas digitais.

Talvez seja razoável sugerir que o PT problematize os memes com Haddad e tenha “flashbacks de ” devido à avalanche de piadas sobre a ex-presidente Dilma Rousseff durante seu segundo mandato.

Nesta época, redes sociais como Twitter/X, YouTube e Facebook foram tomadas por uma onda de memes que zombava das falas de Dilma e dos recém-descobertos casos de corrupção na Odebrecht.

O sucesso desses memes contribuiu para que muitos brasileiros desenvolvessem uma visão crítica sobre o governo de Dilma e, posteriormente, se manifestassem a favor do pedido de impeachment que retirou a petista do poder.

Antes de Haddad, Dilma Rousseff foi alvo de piadas nas redes sociais | Foto: Reprodução
Em um meme, Dilma assopra em um contêiner de vento | Foto: Reprodução
Antes de Haddad, Dilma Rousseff foi alvo de piadas nas redes sociais | Foto: Reprodução
Imagem faz alusão à fala de ‘dobrar a meta’ | Foto: Reprodução
Antes de Haddad, Dilma Rousseff foi alvo de piadas nas redes sociais | Foto: Reprodução
Trocadilho com o nome Dilma e a palavra mandioca | Foto: Reprodução
Antes de Haddad, Dilma Rousseff foi alvo de piadas nas redes sociais | Foto: Reprodução
Neste meme, quer pipoca para assistir o impeachment | Foto: Reprodução

Até hoje, memes que imitam as falas de Dilma ainda são usados para criticar declarações desconexas. Quando Lula comete gafes, por exemplo, é comum ver alguém afirmar que ele “dilmou” ou que se tornou o “Dilmo da Silva”.

Já em 2022, durante a disputa presidencial entre Lula e Jair Bolsonaro (PL), muitos internautas relembraram a prisão de Lula e criaram memes sobre o ocorrido. Jargões como “picanha e cervejinha” e “faz o L”, usados na campanha de Lula, também se popularizaram de forma irônica entre seus críticos.

A expressão “faz o L” é frequentemente usada em resposta a notícias negativas sobre o governo e também aparece em críticas ao ministro da Fazenda e sua política tributária. Apesar destas piadas terem caído na boca do povo, desde o impeachment de Dilma, o PT não lidava com uma “ameaça memística” tão grande quanto o sucesso de Taxadd.

Quando o humor é usado como protesto, os criticados ficam em uma posição desconfortável: tentar censurar as piadas os torna “ridículos,” e ignorá-las, assim como o motivo das críticas, é ainda mais ridículo. Ambas as reações foram observadas entre os esquerdistas durante a viralização dos memes sobre Haddad.

Até agora, o PT e outras figuras da esquerda não mostram sinais de reconhecer que os memes têm uma base crítica ampla e que o plano fiscal do governo afeta a todos, não apenas os “bolsonaristas,” frequentemente acusados de promover “campanhas de difamação” contra o governo Lula.

Porém, neste caso, a humildade não é necessária: o verdadeiro impacto dos memes do Taxadd será visto no futuro. E se o governo permanecer com a mesma mentalidade, este futuro pode estar mais próximo do que imaginamos.

Fonte: revistaoeste

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