No TikTok, bebidas que supostamente ajudam a limpar o organismo e melhoram o trato gastrointestinal têm viralizado como “internal shower” (ou ducha interna, em português). A receita mais recente consiste em misturar água, suco de limão, sementes de chia e uma quantidade pequena de sal. Mas será que funciona?
Desses ingredientes, o que de fato pode contribuir com a digestão e trânsito intestinal é a chia, rica em fibras. “Mas não é milagrosa, não é isso que vai detoxificar, remover toxinas do organismo”, afirma Andréa Ferrara, nutricionista da Clínica Bottura (SP) com especialização pelo Hospital das Clínicas da USP.
Segundo a nutricionista, a chia forma uma goma, ou gel, que auxilia na eliminação de substâncias pelo bolo fecal, além de reduzir a absorção de gordura e açúcar. Porém, classificar a ação dela como “ducha interna” é exagero; fora que ingerida em grandes porções, por conter muita fibra, provoca desconforto gastrointestinal.
Cautela com essa e outras fórmulas
Ainda sobre a mistura de chia com limão, água e sal, há o alerta médico de que o consumo em excesso de sódio é ruim, sobretudo para hipertensos. No TikTok, há quem diz usar uma colher de chá de sal em um copo da bebida ou em drinques caseiros pré-treino, garantindo melhor performance na execução de exercícios.
“Esse uso de sal é completamente desnecessário diante do excesso de sódio que uma dieta ocidentalizada já costuma possuir”, adverte Larissa de Brito Medeiros, professora do curso de nutrição do Unipê (Centro Universitário de João Pessoa). A OMS recomenda menos de 5 g de sal por dia, o que daria menos de uma colher de chá rasa.
Sobre outras receitas tidas como eficazes, Ana Luísa Vilela, nutróloga especialista em obesidade e gastroenterologia pela Beneficência Portuguesa (SP), destaca:
Beber água morna com limão: não desincha ou emagrece, e pode piorar quadros de refluxo e gastrite;
Comer apenas melancia por três dias: pode fazer perder massa magra e levar a quadros de fadiga, já que a fruta tem alto índice glicêmico e pouca fibra;
Fazer jejum intermitente longo: não é uma boa escolha para diabéticos.
Dietas e receitas prontas definitivamente não funcionam e podem ser perigosas. É fundamental fazer adaptações a realidades específicas, para diabéticos, atletas, quem tem doenças inflamatórias, do trato gastrointestinal, alérgicos. Quanto mais personalização, melhores serão os efeitos. Ana Luísa Vilela, nutróloga
Vale apostar em alguns alimentos
Embora a “ducha interna” não exista, alguns alimentos, por suas características básicas, quando incorporados à dieta do dia a dia, podem ajudar. Seja no funcionamento do organismo, prevenindo até mesmo doenças, seja transformando compostos tóxicos em menos tóxicos.
“O consumo de sucos de misturas de hortaliças e frutas pode ser benéfico para esse propósito (aliado a outras medidas), mas não há comprovação como uma mágica para a detoxificação, sobretudo se consumidos de forma isolada, como normalmente são divulgados”, explica a professora de nutrição Larissa de Brito.
Uma sugestão é pegar cinco alimentos de cores diferentes, batê-los juntos como uma bebida e consumir diariamente, sem coar. “Por exemplo, limão com acerola, cranberry, gengibre e brócolis e adoçar com suco de maçã”, comenta Vilela.
Já a indicação de Andréa Ferrara é incorporar à dieta uma porção cozida por dia de algum vegetal da classe das crucíferas, como repolho, couve-manteiga, couve-de-bruxelas, brócolis, couve-flor. “São ricos em enxofre, que se transforma em substâncias anticancerígenas, anti-inflamatórias, antioxidantes, atuantes no sistema imune e que auxiliam na desintoxicação hepática”, explica a nutricionista.
Complemente com outras medidas
Além de uma alimentação colorida, variada e o mais natural possível, a ingestão adequada de água (cerca de 2 litros ao dia) é um dos fatores mais importantes para se evitar prisão de ventre, inchaços e retenção de toxinas. Estando saudável, nosso corpo é capaz de se “purificar” sozinho.
“Para que intestino, rins e, principalmente, fígado continuem a funcionar bem e se detoxifiquem, transformando e excretando substâncias que não são úteis pelas fezes, suor e urina, evite consumo de álcool, noites mal dormidas e pratique regularmente atividades físicas”, aconselha a nutróloga Maria Luísa Vilela.
O que existe e exige empenho é adotar um estilo de vida regrado. E lembre-se: o que pode ser bom para o outro pode não ser para você, pois temos necessidades específicas. “Com queixas (que ainda incluem azia, enjoo, cólicas, diarreia), não demore para procurar um especialista”, orienta a nutricionista Andréa Ferrara.
Fonte: uol
