“Eu vi tantas coisas que vocês, humanos, jamais poderiam imaginar… Naves de guerra em chamas, saindo do ombro de Órion… Vi raios C brilhando na escuridão, perto do Portão de Tannhäuser… Todos esses momentos se perderão no tempo… como… lágrimas na chuva… É hora de morrer”.
Quem não se arrepiou quando ouviu pela primeira vez Roy Batty (Rutger Hauer) declamar esse monólogo em Blade Runner? “É provavelmente o solilóquio de morte mais comovente da história do cinema”, escreveu o crítico de cinema Mark Rowlands em seu livro The Philosopher at the End of the Universe (O Filósofo no Fim do Universo).
Dirigido em 1982 por Ridley Scott, Blade Runner causou uma impressão duradoura com sua estética pegajosa e atmosfera cyberpunk fria e austera. Adaptado do romance de Philip K. Dick, Do Androids Dream of Electric Sheep (Os Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas), o enredo nos leva a um futuro próximo. Milhares de homens e mulheres partiram para conquistar o espaço, fugindo de megalópoles que se tornaram insalubres.
Nas colônias, uma nova raça de escravos está surgindo: os replicantes, androides que são indistinguíveis dos seres humanos. Los Angeles, 2019. Depois de massacrar uma tripulação e assumir o controle de uma nave, os replicantes do tipo Nexus 6, o modelo mais avançado, são agora declarados “foras da lei”.
No entanto, quatro deles conseguem escapar e entrar em Los Angeles. Um agente de uma unidade especial, um blade-runner, é encarregado de eliminá-los. De acordo com a terminologia oficial, não se trata de uma execução, mas de uma remoção.
UM FILME, 5 VERSÕES!
É um fato relativamente raro que existam nada menos que cinco versões de Blade Runner. A primeira foi usada na exibição de teste oferecida aos espectadores de cinema; hoje é praticamente impossível encontrá-la. A segunda cópia é a versão mais polêmica e incriminada, pois corresponde ao corte pretendido pelo estúdio Warner, em detrimento da visão de Ridley Scott.
A versão europeia do primeiro corte é significativamente diferente, acrescentando várias cenas violentas. Em 1989, um executivo da Warner Bros., Michael Arick, descobriu por acaso uma cópia do filme em 70 mm enquanto pesquisava sobre Gypsy. O filme foi exibido em vários festivais e foi um grande sucesso, com rumores circulando de que era a versão original de Blade Runner.
Depois de assistir ao filme, o diretor Ridley Scott insistiu que não se tratava de sua versão como diretor. Devido ao sucesso das exibições, a Warner decidiu financiar um relançamento do filme em 1992, com um novo corte. Embora tenha sido rotulado como corte do diretor, o cineasta não teve controle, mesmo que essa versão estivesse mais próxima da que ele sempre quis.
Enquanto os fãs esperavam em vão por uma versão final para o 20º aniversário do filme em 2002, foi somente em dezembro de 2007 que Ridley Scott finalmente entregou a versão definitiva dessa obra-prima absoluta da ficção científica. É essa versão, o verdadeiro corte do diretor, que está sendo encaminhada para relançamento em 7 de junho de 2023. Sua duração é de 1 hora e 57 minutos.
HARRISON FORD IMPERIAL
É claro que Blade Runner não seria tão memorável sem seu personagem principal, Rick Deckard, conhecido por ser interpretado por Harrison Ford. “Deckard é Philip Marlowe”, disse Ridley Scott, revelando uma referência mais do que explícita ao personagem criado por Raymond Chandler, imortalizado na tela por Humphrey Bogart em O Grande Sono (Howard Hawks, 1946).
O diretor injeta muitos códigos do filme noir em Blade Runner, incluindo o inconfundível mackintosh usado com a gola levantada, a chuva, a sujeira, a noite, o cinismo dos personagens… Até mesmo a narração em off lembra os monólogos clássicos dos filmes desse gênero.
CORRENDO NO LIMITE
Observe que o título do filme não é o mesmo da obra de Philip K. Dick da qual ele foi adaptado. A obra original é intitulada Do Androids Dream of Electric Sheep? Literalmente, Blade Runner significa “Aquele que corre no fio da navalha”.
O nome foi comprado do autor William S. Burroughs. Na década de 1950, Burroughs escreveu um livro curiosamente intitulado Blade Runner: The Movie. A segunda fonte de inspiração para o título veio de outro romance de ficção científica escrito na década de 1970 por Alan Nourse, intitulado… The Bladerunner!
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UMA TRILHA SONORA FASCINANTE
A trilha sonora do filme é um personagem em si, tanto que se infiltra em sua mente. A trilha sonora do filme inclui um dos temas musicais mais famosos do cinema. Ela foi composta por Vangelis, que trabalha quase exclusivamente com instrumentos eletrônicos.
Em 1981, ele ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora por Carruagens de Fogo, outra obra lendária no mundo das trilhas sonoras de filmes. Ele foi indicado para dois Globos de Ouro, o primeiro em 1982 por Blade Runner e o segundo em 1993 por 1492: A Conquista do Paraíso, outro filme marcante de Ridley Scott. O músico morreu em 2022, aos 79 anos de idade.
O Blade Runner Final Cut será relançado em alguns cinemas ao redor do mundo. Em 1982, o filme atraiu 2 milhões de espectadores. Sua sequência, Blade Runner 2049, dirigida por Denis Villeneuve, atraiu 1,2 milhão de espectadores curiosos em 2017. No entanto, ainda não se sabe se o filme terá exibição nos cinemas brasileiros, mas a versão do diretor está disponível para streaming na HBO Max.
Fonte: adorocinema