O tema ‘ovários policísticos’ teve sua primeira abordagem relatada em meados de 1935 e, de lá para cá, muitas descobertas, mas, ainda assim, é uma doença cheia de repercussões e dúvidas.
Não muitos anos atrás, quando uma paciente chegava ao consultório com queixas relatadas na fisiopatologia da SOP (síndrome dos ovários policísticos), o diagnóstico e prognóstico eram bem mais rasos do que hoje em dia, reconhecida como uma síndrome que afeta a saúde da mulher em diferentes aspectos.
Estima-se que 10% da população feminina em menacme (período entre a menarca e a menopausa) tenha SOP, sendo essa a desordem endócrina mais comum.
A mulher com SOP pode ser acometida por duas diferentes, porém paralelas, condições: a SOP metabólica e a SOP reprodutiva.
Inicialmente, há de se distinguir que, enquanto um dos critérios para diagnóstico até poucos anos atrás era de hiperandrogenismo em mulheres, hoje nem todas as mulheres com SOP irão desenvolver ou possuem características claras dessa condição.
O hiperadrogenismo é uma condição de desregulação entre o eixo hipotálamo-hipófise-ovariano e possui efeito direto dos hormônios androgênicos, causando sinais e sintomas típicos, como:
- Hirsutismo (aumento da quantidade de pelos no corpo de mulheres, em locais onde não é comum, como barba e bigode);
- Acne;
- Pele oleosa
- Queda de cabelo;
- Sinais de virilização com clitoromegalia (aumento do clitóris);
- Alopecia androgênica.
O protocolo padrão usado clinicamente para o diagnóstico de SOP é o de Teede. Nele, a paciente deve apresentar dois dos três critérios de diagnóstico: oligoamenorreia (alteração menstrual), hiperadrogenismo clínico e/ou laboratorial (sem sinais visíveis, concreta-se nos exames bioquímicos) e, claramente, exames de ultrassonografia positivo para policistose ovariana (cistos).
Ou seja, nem sempre a mulher que recebe o diagnóstico de SOP precisa necessariamente ter os sinais claros de hiperadrogenismo —e isso muitas vezes confunde a paciente.
Uma vez que a SOP não possui apenas implicações na vida reprodutiva da mulher, a SOP metabólica ganhou mais visibilidade e estudos que direcionam o tratamento e melhoram a qualidade de vida da paciente, que sofre com problemas de ganho de peso, foco, energia, performance nos esportes, saúde da pele e dos ossos.
Existem quatro classificações para a SOP, que são quatro diferentes fenótipos que acometem a saúde da mulher de forma sistêmica, por isso é considerada uma síndrome:
- Fenótipos A são as de maior grau, em que a paciente possui hiperadrogenismo, disfunção ovulatória e ovários policísticos.
- Fenótipos B são de graus intermediários, em que há a presença de dois critérios, sendo o hiperandrogenismo e a disfunção ovulatória.
- Fenótipos C apresentam-se com hiperandrogenismo e ovários policísticos.
- Fenótipos D, em que não há hiperandrogenismo, apenas ovários policísticos e disfunção ovulatória.
Mulheres com o diagnóstico de SOP não possuem apenas disfunções ovulatórias. O grande risco na qualidade de vida dessas pacientes é justamente o fato de estarem dentro de uma síndrome metabólica, envolvendo maiores riscos de doenças cardiovasculares, diabetes, resistência à insulina e intolerância à glicose, dislipidemias, hipertensão, esteatose hepática e alterações também no comportamento (depressão, ansiedade).
Afinal, quais são as diferenças, então, entre a SOP metabólica e reprodutiva?
Esses termos estão sendo usados ainda com cautela. Cabe lembrar que com o avançar dos estudos na ciência é que novos protocolos e entendimentos são constantemente criados.
A SOP metabólica é onde se encontram os fenótipos A e B, acometendo a mulher com mais condições relacionadas à saúde metabólica.
Afeta diretamente sua resistência à insulina, o ganho de peso, alterações de triglicerídeos e colesterol, dislipidemia aterogênica (formas mais graves), diabetes e risco aumentado para esteatose hepática.
Nesses casos, a mulher pode começar a sentir os efeitos da síndrome ainda jovem e possivelmente passar por muitos anos de sua vida com outros diagnósticos.
O tratamento para a SOP metabólica consiste em mudanças do estilo de vida, controle alimentar para redução de peso e de fatores inflamatórios desencadeantes de respostas negativas ao metabolismo, assim como uso de medicamentos indicados pelo profissional —geralmente metformina e anticoncepcional oral combinados.
A SOP reprodutiva (ou ovulatória) é onde se encontram os fenótipos C, mais precisamente, e D, em sua forma mais branda.
Nestes fenótipos, há menor prevalência de hirsutismo, síndrome metabólica, níveis intermediários de andrógenos no sangue dosado (séricos) e resistência à insulina.
No fenótipo D (SOP não hiperandrogênica) ainda há menores níveis de testosterona livre, menores níveis de LH/FSH e os ciclos menstruais são mais regulares que nas outras classificações.
Esta, obviamente, também afeta diretamente a saúde ovulatória (ou reprodutiva) da mulher. Tipicamente, aqui as mulheres não enfrentam em níveis mais fortes as complicações metabólicas encontradas nas outras classificações, porém, o tratamento não exclui esses cuidados.
A mulher com SOP destes fenótipos poderá ser mais afetada em níveis de reprodução e ovulação, tendo o tratamento voltado para que haja controle da formação dos cistos, regulação do ciclo menstrual e também mudança nos hábitos de estilo de vida.
Fonte: uol
Colunista: @chefcarlosmiranda