A jornalista Paula Schmitt, colunista de Oeste, é a única mulher do mundo a ter entrevistado com exclusividade Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, grupo oficialmente designado como terrorista desde 1997 por vários governos, particularmente o dos Estados Unidos. Ela também entrevistou o outro lado desse “desamor mútuo”: Shabtai Shavit, ex-chefe do Mossad, acusado de “terrorismo de Estado” por vários grupos armados. Anda entrevistou para a mesma revista israelense a primeira mulher a sequestrar um avião de carreira, Leila Khaled, membro da Frente Popular de Libertação da Palestina.
“Cito esses trabalhos para dizer, com toda convicção e conhecimento, que o que aconteceu em Brasília não foi terrorismo, e dizer o contrário é de uma ignorância extrema — ou desonestidade vexaminosa”, escreve Paula, e artigo publicado na da Revista Oeste.
O que é o terrorismo
“Para que não reste dúvida: quem destrói patrimônio, público ou privado deve pagar por isso. Depredação é crime, e sempre me manifestei contra ela: desde a derrubada de ‘estátuas terroristas’ (feitas por agitadores se fazendo passar por manifestantes), quanto à depredação de lojas por arruaceiros de aluguel, que em vários lugares dos EUA destruíram o trabalho suado de microempresários negros ao se manifestar contra a ‘opressão branca’, como mostra essa reportagem da NPR. O que vimos em Brasília, contudo, é uma das coisas mais desprezíveis já cometidas por autoridades em uma democracia: a prisão de inocentes sem qualquer flagrante ou evidência de crime, e um misterioso desinteresse por quem de fato foi pego cometendo atos de vandalismo e depredação.
Aqui, neste vídeo, é possível ver uma manifestante filmando o que parece ser um agitador, ou infiltrado, tentando causar um incêndio contra a vontade de quem estava à sua volta. Aqui, aqui, aqui e aqui, vídeos sem edição, feitos no calor do momento, deixam claro que a maioria das pessoas presentes não tinha intenção nenhuma de causar estrago ao patrimônio público. Alguns dos vídeos chegam a mostrar infiltrados sendo perseguidos e capturados pelos manifestantes. É possível ouvir alguns reclamando que, se o agitador for entregue à polícia, sua identidade jamais será revelada. Aqui, neste outro vídeo, feito por uma câmera de segurança interna, um homem vestindo uma camiseta com o rosto de Bolsonaro destrói um relógio antigo, inexplicavelmente posando para a câmera e assim garantindo que sua camiseta seja devidamente filmada.
Esse vídeo é especialmente interessante porque o vândalo está usando uma calça caída abaixo da bunda, expondo todo o seu traseiro, algo que nem nos devaneios mais delirantes eu imaginaria ver num protesto de pessoas de direita. Essa exposição descomedida, frequentemente vista como uma imitação de rappers ou criminosos, é uma moda inspirada nas prisões norte-americanas. Alguns acreditam que isso começou como uma espécie de sinalização de ‘disponibilidade’, uma comunicação não verbal feita por prisioneiros que se ofereciam para ser sodomizados. A teoria mais aceita, no entanto, parece ser que os uniformes na prisão às vezes são largos demais, e as calças caem porque cintos aumentam a chance de suicídio, e portanto não são distribuídos junto com o uniforme de presidiário.
Parece existir uma certa confusão sobre qual lei enquadraria os crimes cometidos contra o patrimônio público no dia 8 de janeiro. Em casos anteriores similares, ou até mais dramáticos e violentos, ninguém foi preso por terrorismo, e os crimes foram tratados pela imprensa como vandalismo, arruaça, baderna.
A definição de “terrorismo” vem sendo ampliada por governos de vários países, para incluir mais alvos e restringir liberdades individuais. A ideia é englobar atos domésticos, especialmente os de cunho ideológico, porque assim é fácil controlar e perseguir a oposição. Além disso, o selo de ‘terrorista’ ajuda a vender mais jornais do que a pecha de ‘arruaceiro’. Crianças, a mídia em geral e pessoas menos inteligentes e mais facilmente impressionáveis são alvos fáceis para esse tipo de propaganda. Existe ainda uma outra vantagem: o combate ao terrorismo justifica muita coisa, principalmente coisas injustificáveis.”
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Fonte: revistaoeste