Pesquisadores na Austrália estavam gravando ninhos de pássaros da espécie Malurus cyaneus e descobriram algo interessante: as fêmeas cantavam para os filhotes dentro dos ovos. Mais tarde, quando os bebês nasciam, o som que usavam para pedir comida aos pais se parecia muito com a música que a mãe cantava.
Para ter certeza de que os filhotes estavam mesmo tendo aulas de canto pré-natais, os pesquisadores embaralharam os ovos entre ninhos. Quando chocaram, eles cantavam como filhotes do novo ninho, e não daquele de onde tinham sido tirados – o que indica um comportamento aprendido.
Um novo estudo realizado por alguns dos mesmos pesquisadores descobriu que esse comportamento se estende a sete outras espécies da família dos Maluridae. Em todas elas, os pesquisadores registraram as fêmeas cantando para ovos não eclodidos, geralmente começando por volta do 10º dia de incubação.
Os filhotes repetiam uma parte dessa melodia, conhecida como elemento B. As fêmeas também insistiam no aprendizado: de todas as outras partes, elas cantavam essa específica em 96% das vezes.
Como esperado, quando os cientistas tocavam gravações das músicas para os embriões, eles tiveram um aumento na frequência cardíaca – a resposta também foi mais forte ao tal elemento B.
Os pesquisadores não sabem ao certo porque eles aprendem tão cedo a cantar. Contudo, têm algumas teorias.
As músicas no ninho podem servir como uma espécie de palavra-mágica para diferenciar os filhotes de impostores. Cucos, por exemplo, põem seus ovos nos ninhos de outras aves.
Os ovos de cuco incubam mais rápido, só por alguns dias. Não dá tempo para que os invasores aprendam a música elaborada dos Maluridae australianos. Quando todos os ovos do ninho se abrem, a mãe pode checar quais são seus filhos de verdade, pois eles sabem a canção da família.
A outra hipótese tem a ver com a seleção sexual. Durante certo tempo, pensava-se que as fêmeas desenvolveram o canto a troco de nada – na maioria das espécies, as melodias mais elaboradas são usadas pelos machos no cortejo. Análises posteriores descobriram que não, não era uma exceção: 70% das fêmeas de aves canoras também cantavam, e isso tinha um papel importante para esses pássaros.
A teoria é de que a mãe esteja mostrando a seus filhotes os tipos comuns de cortejo. No futuro, esses passarinhos talvez deem preferência para certos traços de vocalização – tanto ao cantar, no caso dos machos, quanto ao receber, para as fêmeas. Essa tradição seria passada para as próximas gerações como uma canção de família.
Fonte: abril