Tubarões não são exatamente símbolos de monogamia. Agora, a ciência tem um flagrante para comprovar: pela primeira vez, pesquisadores registraram dois tubarões-zebra (Stegostoma tigrinum) machos acasalando em sequência com uma fêmea na natureza.
O “ménage à trois” foi publicado no Journal of Ethology e pode ajudar a salvar a espécie, que está ameaçada de extinção.
O responsável pela filmagem foi o biólogo marinho Hugo Lassauce, da Universidade da Sunshine Coast, na Austrália. Ele passou um ano mergulhando semanalmente na Nova Caledônia para monitorar os tubarões e nunca tinha visto o ciclo completo de acasalamento.
“É raro testemunhar tubarões acasalando na natureza, mas ver isso com uma espécie ameaçada – e filmar o evento – foi tão emocionante que começamos a comemorar”, contou o biólogo em comunicado.
O episódio exigiu paciência. Lassauce avistou uma fêmea de cerca de 2,3 metros de comprimento acompanhada de dois machos. Pediu que o barco de apoio se afastasse para não atrapalhar e ficou sozinho, com seu equipamento de mergulho, observando-os quase imóveis no fundo do mar.
“Esperei uma hora, congelando na água, mas finalmente eles começaram a nadar.” O ménage foi rápido – 110 segundos, para ser preciso. O primeiro macho copulou com a fêmea por 63 segundos. Logo em seguida, sem nem pedir licença, o segundo assumiu a vez e concluiu em 47 segundos.
Depois, os dois machos permaneceram imóveis no fundo arenoso, enquanto a fêmea nadava ativamente. Entre tubarões, aparentemente, não existe aquela conversa pós-sexo.
Confira a seguir o registro do acasalamento:
Risco de extinção
O tubarão-zebra recebe esse nome pelas listras que os filhotes exibem, e está classificado como “em perigo” pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
A espécie, geralmente solitária, está distribuída em águas costeiras do Indo-Pacífico – entre a África Oriental e as ilhas do Pacífico, incluindo a Austrália.
A população global caiu drasticamente nas últimas décadas, pressionada pela pesca excessiva, pelo uso de redes de arrasto e emalhe, pela coleta para consumo humano, pelo comércio de barbatanas e óleo de fígado, além da degradação de habitats costeiros como recifes de corais.
Até agora, o que se sabia sobre o comportamento reprodutivo da espécie vinha quase todo de cativeiro. Por isso, o flagrante apimentado tem peso científico.
A pesquisadora Christine Dudgeon, que há mais de 20 anos estuda a espécie, destacou em nota que as novas evidências sugerem que a Nova Caledônia pode ser um habitat crítico para a reprodução.
Além de revelar comportamentos pouco documentados, o registro fornece dados importantes para programas de manejo, inseminação artificial e até reintrodução em ambientes naturais.
“Para tentar reintroduzir a espécie, você precisa de mais informações sobre a biologia e a ecologia do tubarão. Precisamos saber mais sobre o comportamento deles, até onde conseguem nadar, como se reproduzem… para garantir que sua reintrodução em novos ambientes seja um sucesso”, disse Lassauce à ABC News.
Fonte: abril