A luta pela preservação ambiental passa por diferentes entraves. Alguns desafios estão frequentemente ligados ao apagão de informações sobre as reais proporções da devastação em um determinado bioma, ou até mesmo a velocidade com que ações de preservação e restauração são colocadas em prática após a constatação de um dano. Mas, no que depender da Universidade federal do Paraná (UFPR), essas duas missões poderão ser um pouco menos árduas no futuro próximo. Por meio do Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), do departamento de Informática da instituição, e de uma parceria com os departamentos de Botânica e Biodiversidade, a universidade está colocando em funcionamento um sistema capaz de mapear áreas degradadas no estado e, assim, guiar planos de restauração ambiental junto ao poder público. O “supercomputador”, como passou a ser chamado, promete auxiliar pesquisadores e cientistas no processamento de terabytes (TB) sobre áreas em velocidade recorde, sendo até 24 vezes mais rápido que os sistemas tradicionais, segundo a UFPR.
Em outras palavras, o computador será responsável por processar um grande volume de dados ambientais, correlacionando a degradação ambiental ao desaparecimento de espécies nativas de flora e fauna no estado, que tem sofrido os impactos negativos do desmatamento — nos últimos cinco anos, foram 20 mil hectares de vegetação nativa perdidos, o equivalente a 20 mil campos de futebol, segundo dados do MapBiomas.
Uma vez mapeadas, essas áreas recebem uma certa ordem de prioridade capaz de nortear as ações de restauração dali em diante, conforme explica o pesquisador do departamento de Biodiversidade da UFPR e parceiro do projeto, Victor Zwiener. “O objetivo é identificar as áreas com maior potencial para conservação da biodiversidade e indicar ações de manejo, podendo ser a criação de novas unidades de conservação ou incentivo para restauração de áreas degradadas”, explica.
Corrida contra o tempo
Segundo Marco Zanata, professor e pesquisador do C3S, tais computadores não são raros em companhias privadas (especialmente multinacionais), mas a utilização em centros de pesquisa e universidades é o que pode determinar o sucesso de um denso projeto de pesquisa. “Para os pesquisadores que pensam em fazer experimentos utilizando grande quantidade de dados, o tempo se torna uma variável que muitas vezes pode inviabilizar o projeto”, diz.
Segundo o pesquisador, isso acontece porque, atualmente, há uma escassez de recursos computacionais capazes de dar vazão ao volume de cálculos necessários para que projetos de pesquisa dessa magnitude saiam do papel. Sendo assim, o supercomputador da UFPR será a solução para equalizar a velocidade com que os dados ambientais são processados e os planos de restauração são colocados em prática. De acordo com os responsáveis pelo projeto, o mapeamento das áreas degradadas, que levaria quase dois anos, será concluído em menos de um mês.
Paraná na vanguarda da proteção ambiental
Com a tecnologia computacional, o Paraná está dando um passo importante rumo à recuperação ambiental a partir do uso de tecnologia de ponta, já que, além de mapear as áreas degradadas, o projeto também permitirá a criação de planos de conservação e de restauração que poderão ser colocados em prática pelo poder público estadual no futuro. “Nosso objetivo é desenvolver uma estratégia regional no âmbito estadual que considere um contexto maior gerando um plano que possa ser utilizado pelo poder público”, diz Zwiener.
Futuro da pesquisa
O uso de tecnologias avançadas têm trazido agilidade e inovação a setores diversos, e não é diferente com a ciência aplicada em favor da biodiversidade. No caso do projeto da UFPR, o processamento ágil de dados irá potencializar o trabalho de centenas de pesquisadores, biólogos e especialistas, definindo as premissas de um cenário promissor de pesquisas ambientais no futuro, segundo Zwiener.
“Computadores potentes e tecnologias avançadas não irão substituir a coleta de dados por biólogos e especialistas. Vejo que as duas áreas devem avançar com investimentos de pesquisa e formação para podermos lutar pela preservação e restauração de forma eficiente e baseada na ciência de qualidade”, diz.
Segundo Zanata, da UFPR, o projeto também deve servir de inspiração para outras parcerias baseadas na união entre computação e ciência, dentro e fora do Brasil. “A pesquisa no Brasil vive um cenário de escassez de recursos para pesquisa, tais como recursos para financiar pessoal, material de consumo e também material permanente. Nesse ambiente árido, o apoio mútuo entre pesquisadores se torna fundamental. No mundo atual, onde a computação permeia praticamente todas as áreas de pesquisa, acreditamos que nossa iniciativa poderá inspirar outras parcerias interdisciplinares”, conclui.
Fonte: gazzconecta