Dei início a este espaço falando sobre o que é um Micro-SaaS e o “vendendo” como um negócio pequeno, simples e promissor, ou seja, uma oportunidade de empreender.
Para dar continuidade a essa discussão, hoje vou aprofundar nesse tema do Micro-SaaS, explicando um pouco mais sobre esse termo que tem sido difundido no mundo empreendedor da tecnologia.
A essência do Micro-SaaS
Como já falei em outro momento, os Micro-SaaS, em sua essência, são negócios modestos, que costumam usar bootstrap (framework para criação de sites e aplicações de forma simplificada), têm baixo custo operacional e, principalmente, resolvem um ou dois problemas muito bem, para um nicho específico.
Por conta dessa essência “simples”, alguns empreendedores rotulam os Micro-SaaS como negócios pouco atrativos, especialmente aqueles investidores de risco.
Isso não está totalmente errado, já que o modelo de negócio a que os Micro-SaaS se propõem é o oposto do que o mundo das startups prega atualmente. Isso porque uma empresa de Micro-SaaS nasce para ser pequena, com baixo risco e maior foco em retorno.
Mas… quero trazer hoje a seguinte reflexão: quanto ao Micro-SaaS, será que pode ser considerado uma startup e entrar para a categoria de investimento de risco de alguma forma?
Para refletir sobre isso, vamos voltar rapidamente à origem do termo…
O pioneiro neste tema foi o empreendedor Tyler Tringas, que definiu Micro-SaaS como uma categoria de softwares que nasceram para ser pequenos desde sua fundação.
Dentre as características que Tyler definiu para o Micro-SaaS, estão: produto digital, focado em um mercado de nicho, gerenciado por uma pessoa ou por um pequeno time, com baixo custo, muito focado em resolver uma ou duas coisas muito bem, com uma pequena e dedicada base de usuários recorrentes e fieis, sem foco em investimento ou em crescimento rápido.
Tyler surgiu com essa perspectiva depois de ter passado por uma experiência não tão boa de uma startup que fundou e que acabou não dando certo depois de decidir receber investimento de risco. Ele fala que essa experiência impactou diversos aspectos da sua vida, como relacionamento, saúde, sanidade e conta bancária. A partir disso, resolveu montar mais um SaaS, mas, dessa vez, sem investidor.
A ideia inicial de Tyler era ter uma fonte de renda passiva enquanto viajava o mundo. Desejava poder desenvolver software no seu tempo livre, sem ter de ficar preso a uma rotina baseada em trabalho-homem-hora. Foi assim que surgiu o conceito de Micro-SaaS, vindo de Tyler, e também o seu primeiro Micro-SaaS: StoreMapper.
No primeiro ano, Tyler faturou mais de US$ 260.000 sem ter um funcionário ou grandes desafios no meio do caminho. Anos depois, o empreendedor acabou vendendo seu projeto por 6 dígitos.
Foi a partir disso que o conceito de Micro-SaaS começou a ser difundido no mercado e, hoje, está na boca de diferentes empreendedores, sobretudo daqueles que fazem parte da comunidade dos indie hackers.
Quem é a comunidade por trás deste movimento
A grande comunidade por trás dessa nova economia do Micro-SaaS é composta por indie hackers.
Os indie hackers são empreendedores independentes, que fazem tudo por conta própria, não dependendo de altos investimentos ou de uma equipe imensa. A grande diferença entre os indie hackers e os empreendedores tradicionais é que os indies buscam crescer de maneira sustentável e orgânica, sem pressa para captar investimentos e escalar.
Sua grande vantagem é usar de suas próprias habilidades para criar e sustentar seus produtos. Por isso, normalmente trabalham sozinhos ou em pequenas equipes.
A comunidade de indie hackers é bem diversificada. Em geral, é composta por desenvolvedores, designers, escritores, entusiastas de tecnologia, ou qualquer outro profissional liberal que tem uma ideia e a coragem de colocá-la em prática.
Como ser indie hacker não implica em ter um emprego fixo, um lugar de trabalho ou qualquer coisa que tenha a ver com uma vida profissional tradicional, o lifestyle dos indies tem muito a ver com liberdade e flexibilidade. Eles são os famosos “nômades digitais”.
Para essa comunidade, um Micro-SaaS tem três objetivos:
- Resolver um problema muito específico, para um grupo específico;
- Trabalhar de qualquer lugar do mundo;
- “Ramem profitability”: a meta é gerar uma renda adicional e chegar até o ponto de pagar o salário do fundador. Chegando a esse estágio, prova-se que o Micro-SaaS tem pernas para caminhar sozinho – e que vale a pena investir nele.
O que a comunidade diz sobre montar um Micro-SaaS
Muito tem se falado e aprendido dentro desse tema. Mas, aí vão algumas dicas gerais e importantes para quem está querendo ingressar nessa nova economia:
Seja 5x melhor do que os clientes já usam ou pagam
Você precisa ser 5 vezes mais barato ou 5 vezes melhor do que as soluções que já existem por aí. Afinal de contas, você precisa oferecer algo de diferente e vantajoso para alguém querer comprar o que você oferece, certo? Se você montar um Micro-SaaS nice-to-have, que faz o que uma planilha de Excel resolveria, então, provavelmente, esse não é um bom começo.
Quanto mais concorrentes, melhor
No mundo do Micro-SaaS, você não precisa seguir a metodologia do Zero to One e criar algo completamente novo e extraordinário. A ideia é: se há concorrência, isso é um ótimo sinal! É claro, faça um estudo do mercado para entender se há viabilidade no seu produto, mas, se não houver um produto ou serviço que resolva o problema, ou ao menos que tente resolver o problema, isso é um sinal de que talvez o mercado não seja muito bom ou de que seja muito caro para começar ali algo do zero. Educar o cliente é caro – e isso leva tempo.
Na minha opinião, um bom mercado é aquele que já possui concorrentes e em que as funcionalidades oferecidas pelos produtos dos concorrentes sejam tão abrangentes que acabem deixando os clientes insatisfeitos. Daí surgem oportunidades de se criar produtos em cima da insatisfação.
Tenha um canal para captar os primeiros 10 a 1.000 clientes
Assim que você tiver definido o problema que seu produto vai resolver, você precisa, na sequência, validar essa “dor”, buscando pelo menos 25 clientes que testem o seu MVP (Produto Mínimo Viável). Achar um canal e ter claro quem é o seu usuário (persona) é crucial.
Por isso, recomendo que, no primeiro momento, você tenha um nicho para focar. Assim, além de entender melhor a dor que seu produto resolve, você poderá testar canais de aquisição de clientes (orgânicos e pagos) com mais foco e clareza nos testes.
Qual a diferença entre um SaaS e um Micro-SaaS
A verdade é que não existe uma diferença clara entre um SaaS e o Micro-SaaS. Pelo menos, não para mim. Em tese, a diferença mais óbvia seria em relação ao tamanho do negócio, que passa a ser menor quando falamos de Micro-SaaS. Contudo, quando me pego pensando nisso, chego à conclusão de que qualquer pessoa pode intitular o seu SaaS como um Micro-SaaS.
Fato é que, na minha concepção, a palavra “Micro” está muito mais atrelada ao que o empreendedor busca do que ao tamanho do negócio em si.
E, para terminar esse artigo de hoje, eu deixo algumas características que fazem de um Micro-SaaS efetivamente “Micro” – e o comparam ao lado de um SaaS “comum”.
- Nasce para ser pequeno por natureza;
- Tem um mercado nichado (cauda longa) – o tamanho do mercado é irrelevante;
- Tem custos enxutos e margem alta;
- Prevê menos crescimento e mais retenção – Do things that don’t scale, literalmente;
- Foca em dividendos;
- Usa um Centro de Serviço Compartilhado (a partir de “freelas”), com menos contratação de pessoas.
Por fim… para mim, o Micro-SaaS é uma alternativa para quem está em early-stage. É um movimento que está se fortalecendo cada vez mais – e que está trazendo alternativas para esses empreendedores. Entendo essa oportunidade como uma alternativa que não é somente para “pegar rodada atrás de rodada”, mas que, sim, traz a possibilidade de montar um negócio pequeno e rentável que, naturalmente, vai crescer de forma orgânica.
Fonte: gazzconecta