A medida adotada pelo governo dos Estados Unidos incluiu sobretaxas sobre diversos produtos brasileiros, entre eles madeira beneficiada. Segundo Blasiu, ainda não está totalmente claro se pisos de madeira maciça com ou sem verniz e o decking estão de fato incluídos, mas o setor já freou embarques diante do risco.
Antes do tarifaço, o setor florestal mato-grossense projetava exportar mais de U$ 20 milhões em 2024, com base nos contratos firmados e no desempenho do primeiro semestre, que já havia atingido U$ 8,6 milhões. Os produtos exportados eram, majoritariamente, de alto valor agregado.
90% da exportação travada e contêineres encalhados
Blasiu estima que 90% da exportação para os Estados Unidos será perdida. “O mercado americano compra basicamente produto linha-prêmio, como pisos de madeira maciça com e sem verniz e decking. Tudo já pronto para instalação”, explica.
Com a paralisação repentina, cerca de 500 contêineres já estão prontos ou em fase final de produção. Esses produtos, segundo ele, somam mais de U$ 8 milhões, o equivalente a aproximadamente R$ 45 milhões. A especificidade das medidas e padrões exigidos pelos EUA gera muita dificuldade de realocação para outros mercados a destinação a outros mercados, como o europeu ou asiático.
Os produtos voltados ao mercado americano exigem alto padrão de acabamento e geram muita mão de obra qualificada. Desde o manejo florestal até a secagem e pintura final, cada tábua passa por múltiplas etapas técnicas com mão de obra treinada. A perda do mercado americano implica em transferir essa estrutura para produtos de menor valor agregado.
“Você preparou toda a sua estrutura, o seu faturamento está voltado para um produto americano. De repente, da noite para o dia, devido a um tarifaço, você perde totalmente a sua fonte de receita”, resumiu Blasiu.
A crise pode ser o estopim de uma série de paradas industriais em unidades especializadas. Segundo o Cipem, muitas fábricas localizadas em cidades como Aripuanã, Alta Floresta, Sinop e Juína têm estrutura voltada quase exclusivamente à produção de pisos e decks para os EUA, sem alternativa de redirecionamento imediato.
Essas indústrias, embora concentradas no Nortrão, recebem matéria-prima de ao menos 60 municípios mato-grossenses, formando uma cadeia produtiva ampla e interdependente. Além disso, fábricas da região metropolitana, incluindo unidades em Cuiabá, também podem ser afetadas pela quebra do fluxo de exportação.
Fonte: Olhar Direto