SAÚDE

Quando e como prever um terremoto com antecedência?

2025 word1
Grupo do Whatsapp Cuiabá

Na madrugada desta terça-feira (29) para quarta-feira (30), um terremoto de magnitude 8,8 atingiu a Península de Kamchatka, no Extremo Oriente da Rússia. O tremor, que ocorreu por volta das 8h da manhã no horário local, foi o mais intenso registrado no mundo desde o desastre de Fukushima, no Japão, em 2011. 

O impacto foi suficiente para gerar alertas de tsunami em diversos países do entorno do Oceano Pacífico, como Japão, Chile, México, Equador, Peru e Estados Unidos.

Ondas chegaram a atingir trechos do litoral russo e de ilhas do Pacífico, provocando evacuações em massa, suspensão de atividades marítimas e orientações para que a população evitasse áreas costeiras. Até o momento, não há registro de mortes, mas as autoridades seguem monitorando o risco de novas ondas e tremores secundários.

O episódio reacendeu uma pergunta recorrente sempre que catástrofes naturais como essa acontecem: com que antecedência é possível prever um terremoto? 

 

Apesar dos avanços tecnológicos e do acúmulo de dados sobre a atividade sísmica do planeta, a previsão precisa – com hora, local e magnitude – continua fora do alcance da ciência. 

“Nem o USGS (Serviço Geológico dos EUA), nem qualquer outro cientista já previu um grande terremoto”, afirma um trecho direto do site da agência, que acrescenta: “Não sabemos como prevê-lo, e não esperamos ter essa informação em um futuro próximo”.

Uma das maiores dificuldades está na própria natureza dos terremotos. Eles não são eventos graduais ou previsíveis como uma tempestade. “Um terremoto não é como um trem lento que começa a ganhar velocidade. É um evento súbito e acelerado”, explicou Ben van der Pluijm, professor de geologia da Universidade de Michigan, à NBC News em 2023.

As placas tectônicas estão em constante movimento, acumulando tensão por décadas ou séculos. Quando o ponto de ruptura é alcançado, a liberação de energia ocorre em segundos, sem sinais claros de que isso vai acontecer.

“Sabemos por que um terremoto ocorre – movimentos repentinos ao longo de falhas geológicas –, mas prever tal evento é algo que não esperamos saber em um futuro próximo”, destacou Lucy Jones, sismóloga com mais de três décadas no USGS, em entrevista à BBC.

Essa assimetria entre o tempo de acumulação de estresse (que pode durar milênios) e o tempo de liberação (poucos segundos ou minutos) torna o desafio técnico quase intransponível. 

“Alguém pode dizer que uma falha não teve um grande terremoto em 100 anos. Eu, como geólogo, diria: isso é normal. Isso não significa que está atrasado, apenas que tem as condições apropriadas para gerar um terremoto”, disse Harold Tobin, professor de Ciências da Terra da Universidade de Washington, à Al Jazeera, em 2023.

Sinais precoces existem?

Diversos estudos buscaram identificar precursores confiáveis, como emissões de gás radônio, mudanças no comportamento animal ou aumento da atividade sísmica leve. Mas, até agora, não há um padrão consistente. 

“Alguns desses sinais acontecem por outros motivos, e alguns terremotos ocorrem sem nenhum desses sinais”, resume um artigo da Nature publicado em 2023.

Dados que se acumulam com o uso de satélites, sensores GPS e imagens de radar (InSAR) ajudam no entendimento do que já ocorreu, mas não em alertas antecipados. 

“Só nos últimos 20 anos tivemos tecnologia para medir com precisão como a tensão se acumula nas falhas”, relatou Tim Wright, diretor do Centro de Observação e Modelagem de Terremotos, Vulcões e Tectônica do Reino Unido (COMET), à Al Jazeera.

Esses dados permitem estimativas probabilísticas – algo como “há 70% de chance de um terremoto de grande magnitude ocorrer nessa região nos próximos 30 anos” –, mas não permitem dizer quando, de fato, o evento vai acontecer.

O campo da previsão sísmica tenta compensar suas limitações com ferramentas de inteligência artificial e modelagem computacional. Equipes de pesquisa vêm desenvolvendo algoritmos de aprendizado de máquina alimentados por leituras sísmicas e dados de deformações da crosta terrestre.

Os chamados modelos de nowcasting tentam estimar o risco atual de um terremoto com base em padrões anteriores. Mas os obstáculos ainda são grandes: falta de dados consistentes sobre sinais precursores, lacunas nos registros históricos e dificuldade de modelar com precisão a complexidade do interior da Terra.

O artigo da Nature destaca que a maioria dos dados sísmicos digitalizados só passou a ser coletada a partir dos anos 1990, o que limita a base de dados usada pelos algoritmos.

Apesar da impossibilidade de previsão exata, sistemas de alerta precoce conseguem detectar que um terremoto começou e emitir avisos com poucos segundos de antecedência. Nos Estados Unidos, o sistema ShakeAlert cobre Califórnia, Oregon e Washington e envia alertas por rádio, televisão e celular avisando que tremores fortes estão a caminho.

“Vinte segundos parece pouco, mas é tempo suficiente para se esconder debaixo de uma mesa”, disse Ben van der Pluijm. Esses segundos podem ser decisivos para salvar vidas, interromper trens, fechar válvulas de gás ou preparar serviços de emergência.

No entanto, mesmo esses sistemas têm limitações. Funcionam melhor em regiões com redes densas de sensores e, em muitos casos, o alerta chega quase junto com o tremor. Além disso, falsos alarmes geram descrédito e custos desnecessários. 

“Garantir que as previsões sejam o mais precisas possível enquanto se minimizam esses riscos é uma tarefa assustadora”, afirma o artigo da Nature.

Diante das limitações da previsão, o foco das autoridades e pesquisadores tem sido a mitigação de danos. Isso inclui o reforço de edifícios, a criação de sistemas de evacuação eficientes, a educação da população e o desenvolvimento de estruturas resilientes – construídas para resistir e continuar funcionando após um abalo.

Na Universidade de Buffalo, em Nova York, engenheiros testam diariamente modelos de pontes e prédios em plataformas que simulam terremotos. “É possível construir estruturas que sobrevivam”, disse Michel Bruneau, do Laboratório de Engenharia Estrutural e Simulação de Terremotos (SEESL, na sigla em inglês), à Al Jazeera. 

A ideia é que edifícios sejam projetados para concentrar os danos em peças substituíveis, reduzindo perdas e facilitando a recuperação.

Wendy Bohon, geóloga e estrategista de comunicação da NASA, destacou à NBC: “O que precisamos fazer é garantir que entendemos o que pode acontecer e construir para suportar isso. Temos que garantir que nossas cidades sejam resilientes diante desses riscos. Não basta sobreviver ao terremoto. É preciso sobreviver ao que vem depois”.

Fonte: abril

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.