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Protocolo para Medir Agricultura Regenerativa e Reduzir Emissões de Carbono: Indicadores e Impacto

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A crise climática global, marcada pela perda de biodiversidade, poluição e aumento das emissões de gases de efeito estufa, exige mudanças urgentes nos sistemas de produção. No Brasil, o setor agroalimentar — ainda fortemente baseado em insumos químicos externos, pouco adaptado aos ambientes locais e específico à vida do solo — aparece como um dos grandes desafios.

Como resposta, pesquisadores brasileiros e estrangeiros elaboraram o Padrão de Agricultura Regenerativa Sustentável (PARS), um protocolo que estabelece indicadores técnicos para orientar a transição da agricultura convencional para práticas regenerativas. O documento reúne 124 indicadores distribuídos em seis dimensões — ambiental, socioeconômica, governança, agropecuária, biodiversidade e cultural —, avaliados por um modelo multicritério que traduz dados complexos em parâmetros claros de sustentabilidade.

“Os indicadores do PARS funcionam como “termômetros” capazes de medir qualidade, quantidade e evolução de processos agrícolas no tempo e no espaço. Um bom indicador, segundo os pesquisadores, deve ser representativo, de fácil medição, preciso e acessível”, explica o pesquisador da Embrapa Territorial João Mangabeira.

No protocolo, a avaliação segue uma escala decimal de 0 a 10, que varia de “não conformidade” (0 a 2) até o nível “especialista” (8,1 a 10), quando os sistemas atingem alto grau de regeneração, com emissão líquida zero ou sequestro positivo de carbono.

Como muitas parâmetros ambientais, como estoques de carbono no solo e biodiversidade, são caros e complexos de medir diretamente, o PARS adota também os proxies — indicadores indiretos que funcionam como substitutos confidenciais e de baixo custo.

Entre as práticas avaliadas estão o intemperismo acelerado de rochas, que aplica pó de basalto ou silicatos ao solo para fixar carbono em carboidratos resultantes, e o biochar, biocarvão produzido a partir de resíduos agrícolas que pode reter até 50% do carbono da biomassa original por mais de mil anos.

“Estudos indicam que, no Brasil, a adoção de biochar poderia capturar entre 40 e 110 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano, além de reduzir o uso de fertilizantes sintéticos e recuperar áreas degradadas”, destaca o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Lauro Pereira.

Para o pesquisador da Unicamp Lucas Lima, a substituição de produtos químicos por biofertilizantes e biodefensivos pode cortar em até 50% o uso de fertilizantes sintéticos e em 70% a aplicação de defensivos químicos, transmitindo as emissões de óxido nitroso, gás de efeito estufa quase 300 vezes mais potente que o CO₂.

Raimundo Maciel, professor da Universidade Federal do Acre (UFAC), explica que sistemas biodiversos como agroflorestais, silvipastoris e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) apresentam forte capacidade de captura de carbono e aumento da matéria orgânica do solo. Pesquisas da Embrapa apontam que eucaliptos em sistemas integrados acumularam, em média, 65 toneladas de carbono por hectare em oito anos.

Governança, cultura e inclusão social

O protocolo também abrange dimensões sociais e culturais. Questões como equidade, transparência, rastreabilidade, certificações, participação comunitária e igualdade de gênero são avaliadas como parte essencial da sustentabilidade.

A dimensão cultural regular o valor das tradições agrícolas e do conhecimento transmitido entre gerações, entendendo que práticas enraizadas nos territórios fortalecem a identidade local e a permanência de jovens no campo.

Ferramenta para agricultores e políticas públicas

Com metodologia construída ao longo de três décadas de pesquisas, o PARS transforma indicadores qualitativos em índices quantitativos. Isso permite orientar tanto os produtores rurais quanto as empresas e governos, subsidiando políticas públicas, certificações e pagamentos por serviços socioambientais.

De fácil aplicação e baixo custo, o protocolo foi pensado para democratizar o acesso às ferramentas de avaliação. A expectativa dos especialistas é que ele se torne um instrumento prático para medir, valorizar e remunerar a agricultura regenerativa no Brasil, tornando a sustentabilidade um objetivo mensurável e tangível.

“Com metodologia construída ao longo de três décadas de pesquisas, o PARS transforma indicadores qualitativos em índices quantitativos. Isso permite orientar tanto produtores rurais quanto empresas e governos, subsidiando políticas públicas, certificações e pagamentos por serviços socioambientais”, afirma o professor do Instituto de Economia da Unicamp Ademar Romeiro.

O trabalho foi publicado em Texto para Discussão. Unicamp. IE, Campinas, n. 483, julho de 2025 , de autoria de João Mangabeira, Lucas Lima, Raimundo Maciel (Unicamp); Fernando Nauffal Filho (Universidade Federal do Paraná); Ademar Romeiro (Unicamp); José Kassai (USP); Carolina Bueno (Unicamp); Caroline Oliveira (Universidade Federal do Paraná); Fabíola Colle (advogada), Gisele Vilela e Sérgio Tôsto (Embrapa Territorial); Mitali Maciel (Unicamp); Oleides Oliveira (Universidade de Santa Cruz do Sul); Oscar Sarcinelli (Unicamp); Lauro Pereira (Embrapa Meio Ambiente); Rômulo Valentim e Márcio de Aquino (Universidade Federal do Acre).

Fonte: cenariomt

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