Um protocolo inédito para controle da doença de Chagas está em teste no Sertão do Pajeú, região de alta incidência da enfermidade em Pernambuco. A estratégia central é descentralizar o atendimento, permitindo que pacientes recebam diagnóstico e tratamento em seus próprios municípios, sem necessidade de deslocamento até centros de referência, como a Casa de Chagas, no Recife.
A doença, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida principalmente pelo barbeiro, é silenciosa na fase inicial e pode evoluir para complicações cardíacas graves. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 4,5 mil pessoas morrem por ano no Brasil em decorrência da enfermidade. Dados da Organização Panamericana da Saúde indicam que menos de 10% dos infectados nas Américas recebem diagnóstico e menos de 1% iniciam o tratamento.
O projeto-piloto, batizado de “Quem tem Chagas, tem pressa”, realizou capacitações e testes rápidos em Triunfo e Serra Talhada. Dos mil exames aplicados, 9% tiveram resultado positivo, índice acima da média nacional, que varia de 2% a 5%. Os testes rápidos, produzidos pela Fiocruz, fornecem resultados em minutos, agilizando o início do acompanhamento médico. Os casos confirmados ainda passam por sorologia para validação.
Em setembro, inicia-se a fase de tratamento próximo à residência dos pacientes. O médico Wilson Oliveira, coordenador do projeto, destaca que a proximidade é essencial para garantir adesão ao uso de medicamentos por 60 dias. A meta é reduzir diagnósticos tardios e evitar deslocamentos de até 800 quilômetros.
A iniciativa também chama atenção para a natureza negligenciada da doença, associada a condições precárias de moradia e vulnerabilidade social. Histórias como a do agricultor Roberto Barbosa, diagnosticado tardiamente e hoje dependente de marcapasso, reforçam a urgência de ampliar o acesso ao diagnóstico precoce.
O programa conta com parceria da Novartis Brasil, que vê potencial para replicar o modelo em outras áreas endêmicas, fortalecendo a atenção primária e promovendo equidade no cuidado.
Fonte: cenariomt