Pesquisadores de Mato Grosso desenvolveram um sistema de diagnóstico rápido para identificar bactérias resistentes a múltiplos antibióticos em humanos e animais. O estudo analisou isolados bacterianos para verificar o perfil de susceptibilidade a antimicrobianos em diferentes populações, permitindo a padronização de um teste ágil para detecção de genes de resistência.
O novo sistema utiliza a técnica de diagnóstico rápido Lateral Flow Assay, que reduz significativamente o tempo e o custo dos exames. Essa inovação auxilia na prevenção do avanço da resistência bacteriana e viabiliza um sistema de informações sobre ocorrências de cepas MDR (Multi-Resistentes a Drogas) e os principais antibióticos, servindo como referência para profissionais da saúde humana e veterinária.
A pesquisa foi financiada pelo edital FAPEMAT 021/2022, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), com o projeto intitulado “Implantação do teste rápido Lateral Flow Assay em humanos e animais para detecção de bactérias multirresistentes a drogas – uma abordagem em Saúde Única”.
Segundo a coordenadora do projeto, Valéria Dutra, doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a resistência a antibióticos é uma ameaça crescente, exigindo ferramentas diagnósticas rápidas e precisas, especialmente em ambientes clínicos onde decisões ágeis são cruciais.
Ela explica que os métodos convencionais podem levar de 36 a 48 horas para fornecer resultados, o que dificulta a escolha rápida da terapia adequada. Com o novo sistema, os resultados ficam prontos em cerca de 2,5 horas, acelerando a definição do tratamento correto e reduzindo o impacto na saúde pública.
Durante o estudo, foram analisadas 172 amostras bacterianas de animais domésticos e silvestres e 50 de humanos. Os testes identificaram resistência a antibióticos como aminoglicosídeos, meticilina e carbapenêmicos. O teste rápido PCR, na versão LAMP-CRAS, apresentou uma taxa de identificação correta de 45,7% quando comparado ao antibiograma padrão, porém com a vantagem do tempo reduzido.
A resistência antimicrobiana (RAM) já é considerada uma das maiores ameaças globais. Um relatório da ONU, publicado em 2019, alertou que, sem ações efetivas, doenças resistentes a medicamentos poderão causar até 10 milhões de mortes anuais até 2050, além de provocar impactos econômicos catastróficos.
Estimativas apontam que, até 2030, cerca de 24 milhões de pessoas podem ser empurradas para a extrema pobreza em decorrência da resistência antimicrobiana. A pesquisadora reforça que medidas como o uso de testes rápidos e acessíveis são fundamentais para conter essa ameaça crescente.
Fonte: cenariomt