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Ciência & Saúde

Os anéis de Saturno: saiba por que podem desaparecer em março

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A ideia de Saturno perder seus anéis icônicos pode parecer absurda, mas está prestes a acontecer – pelo menos temporariamente. A partir de 23 de março, os anéis do planeta ficarão quase invisíveis quando vistos da Terra. Mas calma: não é o fim do mundo, e sim uma questão de perspectiva.

O fenômeno ocorre por causa das diferenças nas inclinações das órbitas  da Terra e de Saturno. Dependendo da posição de cada um, o planeta parece diferente no céu.

Às vezes, o ângulo faz com que Saturno pareça a gema de um ovo frito, quase centralizado no meio dos anéis. Mas ele também pode ficar “de perfil” em relação à Terra – e aí a observação dos anéis se complica. “Como eles são fininhos, a gente não consegue percebê-los”, explica Cássio Barbosa, professor do departamento de física da FEI (Fundação Educacional Inaciana). “Precisa ser um telescópio muito poderoso para poder conseguir ver uma faixa bem fininha onde estão os anéis.”

É como uma folha de papel. Se você alinhar a lateral do papel com a altura dos seus olhos, ela fica quase invisível de tão fina. A imagem abaixo ajuda a entender o fenômeno:

Imagem de Saturno, mostrando a diferença dos anéis de Saturno entre 2023, 2024 e 2025.

O efeito durará até novembro, quando os anéis voltarão a aparecer gradualmente. Mas, para azar dos astrônomos amadores, Saturno estará em conjunção com o Sol – ou seja, aparecendo no nosso céu bem mais pertinho do astro, que irá ofuscá-lo e dificultar ainda mais a observação.

Mas não se preocupe: em 2032, os anéis estarão novamente em sua posição mais favorável para observação da Terra.

Perdeu o cinturão

Daqui a alguns milhões de anos, Saturno pode realmente perder seus anéis de vez. Segundo pesquisas da NASA, os anéis estão desaparecendo a um ritmo alarmante, drenados pela influência gravitacional do próprio planeta.

Esse processo, chamado de chuva de anéis, ocorre quando partículas de gelo e poeira que compõem os anéis se tornam eletricamente carregadas pela luz ultravioleta do Sol e por impactos de micrometeoritos. Isso faz com que fiquem presas ao campo magnético de Saturno e sejam puxadas para sua atmosfera, onde acabam se desintegrando. 

“Estimamos que essa ‘chuva de anéis’ drena em meia hora o equivalente a uma piscina olímpica de água do gelo e de outras partículas presentes no cinturão”, disse James O’Donoghue, pesquisador da Nasa em entrevista ao portal de notícias da agência espacial.

Há algumas décadas, pesquisadores estimaram que os anéis poderiam levar entre 100 e 300 milhões de anos para desaparecer – mas, desde 2018, confirmaram que a dissolução está ocorrendo de acordo com a previsão mais apressada, de 100 milhões de anos.

O professor Cássio Barbosa explica que esses cálculos são feitos a partir de simulações da gravidade de Saturno e Júpiter, que é um vizinho próximo o suficiente para influenciar na trajetória dos anéis. “Pelas simulações, é possível ver que esta não é uma órbita estável. Aos poucos, esses elementos dos anéis vão caindo em direção ao planeta. É um fenômeno relativamente rápido em termos astronômicos, sobretudo em relação à idade do nosso Sistema Solar [que tem 4,6 bilhões de anos].”

Os anéis de Saturno foram descobertos em 1610 por Galileu Galilei. Com sua luneta, ele os descreveu como “orelhas” ao redor do planeta.

Hoje, sabemos que os anéis são compostos principalmente por pedaços de gelo e rochas que variam de minúsculas partículas de poeira a enormes blocos de vários metros. Eles desempenham um papel importante na ciência, ajudando a entender a dinâmica de formação de sistemas planetários.

Entretanto, a perda dos anéis não deve ser muito dramática para o planeta, que só os adquiriu recentemente. Apesar de Saturno ter sido formado há 4,6 bilhões de anos, os anéis foram formados há entre 400 e 100 milhões de anos. Se Saturno fosse uma pessoa de 30 anos de idade, é como se tivesse colocado um piercing entre os 27 e 29 anos. 

“Temos sorte de estar por perto para ver o sistema de anéis de Saturno, que parece estar no meio de sua vida útil. Entretanto, se eles são temporários, talvez tenhamos perdido a oportunidade de ver os sistemas de anéis gigantes de Júpiter, Urano e Netuno, que hoje têm apenas anéis finos” acrescentou O’Donoghue, na mesma entrevista.

Os anéis de Saturno continuam sendo um dos fenômenos mais fascinantes do Sistema Solar. Mas tanto a ilusão óptica que ocorrerá neste ano quanto a lenta dissolução ao longo de milhões de anos deixam uma certeza: o espetáculo é por tempo limitado.

Fonte: abril

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