Operação policial investiga facção em Lambari D’Oeste (MT): detalhes da busca

No estado do Mato Grosso, o panorama da violência segue complexo: a taxa de homicídios dolosos está em cerca de 22,31 casos por 100 mil habitantes – acima da média nacional – apesar de recuo recente. Além disso, operações integradas de combate ao crime organizado registraram um crescimento de 67% em 2024.

Nesse contexto mais amplo, uma nova ação policial ganha destaque: na manhã do último sábado, as equipes da Polícia Civil de Mato Grosso e da Polícia Militar de Mato Grosso deflagraram a Operação Falso Amigo – cumprindo três mandados de busca e apreensão em endereços ligados a uma facção criminosa que opera no município de Lambari D’Oeste. As ordens judiciais foram expedidas pela Vara Única de Rio Branco (MT).

Segundo a investigação liderada pela Delegacia de Rio Branco, o grupo criminoso utilizava eventos de entrega de brinquedos – bicicletas, patinetes, bolas e outros itens – como fachada para consolidar influência social e recrutar apoio comunitário. Parte do material já havia sido transportado para Lambari D’Oeste, conforme informações de inteligência da PM. No mesmo local, os policiais buscavam drogas armazenadas e aparelhos eletrônicos (celulares, tablets, computadores) que poderiam evidenciar outros crimes cometidos pela organização.

Os mandados visavam tanto o fundo de um estabelecimento comercial quanto uma residência ligada ao tráfico no município. Na segunda localização, foram localizadas cestas básicas que, segundo os investigadores, fariam parte de mais uma ação de “assistencialismo” da facção – distribuídas para tentar ganhar aceitação local. A autoridade responsável irá representar ao poder judiciário pelo confisco dos brinquedos e cestas encontradas.

Contexto regional e legal

É importante observar que o combate a facções desse tipo se ampara em dispositivos como o art. 288 do Código Penal, que trata do crime de associação criminosa. A estratégia de vincular “assistência social” a ações de tráfico funciona como mecanismo de controle de território – algo que vem se tornando cada vez mais visível em regiões interioranas de Mato Grosso.

Vale destacar que, conforme o levantamento da SESP, em 2024 o número de operações integradas contra organizações criminosas em Mato Grosso saltou para 218, frente a 130 no ano anterior – um aumento de 67%. Também houve redução expressiva de roubos e furtos (queda de 19% e 7%, respectivamente, em 2024) no Estado. Essa combinação de repressão mais intensa e queda em crimes patrimoniais muda parcialmente o cenário, mas não elimina a complexidade dos crimes que se apoiam em redes de apoio e fachada social.

No caso de Lambari D’Oeste, a escolha de usar brinquedos associados a datas comemorativas revela um método sofisticado de infiltração comunitária por parte da facção. A operação mostra que as forças de segurança passaram a mirar esse tipo de estrutura híbrida (assistencial + delituosa) como parte do combate ampliado ao crime organizado.

Como analista que acompanha segurança pública há mais de 15 anos no estado, vejo que episódios como esse sinalizam mudança de patamar: não bastam ações pontuais, é preciso desmantelar a estrutura financeira e comunitária das facções – o que exige investigação longa e inteligência integrada.

Em resumo: a Operação Falso Amigo desvela como, em regiões do interior de Mato Grosso, o tráfico e o assistencialismo se entrelaçam – e mostra que o Estado está ampliando sua ofensiva. No entanto, desdobramentos como prisão dos dirigentes, bloqueio de bens, rastreamento de redes de apoio e controle de eventos públicos ainda são determinantes para garantir efeito duradouro.

Para denúncias ou envio de informações, é possível contatar a Polícia Civil local ou acessar o Disque Denúncia da SESP. Acompanhe os próximos passos dessa investigação para saber quem estava por trás das entregas e qual será o destino do material apreendido. Fonte das informações: dados da SESP-MT e da Polícia Civil estadual.