Todo presidente da RepĂșblica, sem qualquer exceção, deve ser seriamente cobrado pelo que diz e faz, nunca tratado como uma criança ingĂȘnua ou como um enxadrista que faz papel de bobo para depois surpreender com uma estratĂ©gia genial para o sucesso (que jamais aparece). Ele sempre serĂĄ um adulto que foi escolhido pela maior parte da população para, entre outras funçÔes, representar o paĂs perante a comunidade internacional.
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Ă um dado cada vez mais largamente reconhecido que o mundo experimenta um novo momento de tensĂŁo, com as forças e pretensĂ”es de um âOcidente democrĂĄticoâ cada vez menos capaz de cultivar suas melhores caracterĂsticas, de um lado, e, de outro, forças e pretensĂ”es autoritĂĄrias que tĂȘm em RĂșssia e China focos de atenção. Essa difusa âGuerra Friaâ, que tem no conflito ucraniano e na Faixa de Gaza pontos quentes, impĂ”e e seguirĂĄ impondo desafios a todas as naçÔes quanto Ă melhor maneira de se posicionarem, dosando prudentemente os imperativos do realismo e da dignidade.
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O Brasil de Lula passa longe de alcançar esse equilĂbrio. Alegando que sua intenção Ă© ser um agente da paz e do respeito entre todos, Lula, na prĂĄtica, se porta como um advogado das piores ditaduras do mundo. Advoga para Putin, pedindo que nĂŁo se tirem âconclusĂ”es precipitadasâ sobre mais uma entre as sucessivas mortes dos opositores de seu governo em uma RĂșssia com forte tradição autocrĂĄtica; advoga para os terroristas do Oriente MĂ©dio, particularmente para o Hamas, que inclusive o elogia por acusar Israel de nada menos que genocĂdio; advoga para as ditaduras latino-americanas, âpatrocinadasâ e chanceladas polĂtica e economicamente pelo ciclo de governo lulopetista e mantidas por parceiros de Lula no Foro de SĂŁo Paulo.
Em vez de aceitar os mĂnimos ditames de decĂȘncia e recolher-se Ă postura sĂłbria que o mandatĂĄrio brasileiro deveria adotar, sem arriscar-se a aventuras desnecessĂĄrias e que nĂŁo temos condiçÔes de enfrentar, mas, simultaneamente, sem enlamear-se no que hĂĄ de pior na face da Terra, Lula insiste em âdobrarâ sua aposta no pior. Ele agora finge acreditar que a polĂtica venezuelana MarĂa Corina Machado, declarada eleitoralmente inabilitada em seu paĂs, estĂĄ na mesma situação em que ele mesmo estava na penĂșltima eleição presidencial. : âFui impedido de concorrer Ă s eleiçÔes em 2018. Ao invĂ©s de ficar chorando, eu indiquei o outro candidato e ele disputou as eleiçÔesâ. AlĂ©m disso, quanto Ă s âeleiçÔesâ da Venezuela, Lula defende que Maduro seja tratado sob o princĂpio da âpresunção de inocĂȘnciaâ.
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Podemos começar pelo fato de que Ă© uma grande mentira que Lula nĂŁo âficou chorandoâ. NĂŁo apenas âchorouâ como seu esperneio teve repercussĂŁo internacional, com direito a transformarem-no em um imaculado âpreso polĂticoâ que, ao retornar absurdamente ao poder, mais nĂŁo faz que salivar com desejos de vingança contra os que o puniram em nome da vilipendiada lei brasileira.

MarĂa Corina Machado lidera a oposição a uma ditadura. Ela foi declarada inelegĂvel por um tribunal subjugado pelo regime chavista hoje capitaneado por NicolĂĄs Maduro, sem ter tido acesso Ă s acusaçÔes nem direito a defesa. O partido de Lula havia governado o Brasil por mais de uma dĂ©cada quando seu nome esteve envolvido em escĂąndalos monumentais de corrupção. Foi por isso que ele nĂŁo concorreu Ă presidĂȘncia em 2018.
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Um governante com poderes discricionĂĄrios, que convocou irregularmente uma Assembleia Nacional e se reelegeu sucessivamente sob condenaçÔes da comunidade internacional, forçando milhĂ”es a deixar seu paĂs e mantendo presos polĂticos, torturados e assassinados, nĂŁo pode ser objeto de nenhuma âpresunçãoâ. O que temos sobre Maduro sĂŁo certezas â assim como temos certeza de que Lula nĂŁo tem um pingo de carĂĄter.
Fonte: revistaoeste