Depois de dirigir o denso Longlegs no ano passado, Osgood Perkins quis se divertir.
Mas faltou combinar com a distribuidora do filme. Quem vê o trailer de O Macaco, que estreou nesta semana nos cinemas brasileiros, assiste a momentos tensos, imagens que levam à expectativa de uma obra de terror feita para assustar.
Só que o filme é um terrir, um terror cheio de humor.
As cenas são feitas para rir. As mortes são tão exageradas que já vi gente comentar na internet que se parecem com os fatalities do jogo de videogame Mortal Kombat.
E é isso mesmo. Uma coleção de cabeças explodindo e de pessoas morrendo – se é que me entendem – de forma cômica. Em determinado momento do filme, o protagonista, Hal, vira para trás e vi, nitidamente, Ash Williams, de Evil Dead em cena.
Talvez, o diretor tenha pensado exatamente nisso. Em fazer um novo clássico do cinema de terror abusando do humor.
Mas não tem dado certo.
A aprovação do público no Rotten Tomatoes não passa dos 60% e, sinceramente, se ninguém avisar do que se trata o filme, esse ranking vai cair.
Eu presenciei ontem na sala do cinema pessoas entrando empolgadas e saindo antes mesmo de o filme terminar.
Um espectador, a cada morte, soltava um “não” lamentando pela forma que a obra era conduzida.
E o grand finale.
Quem assistiu ao filme na estreia, ganhou um mini poster do filme. Quando as luzes se acenderam, havia vários deles espalhados nas cadeiras. Quem vai querer pendurar na parede a lembrança de ter sido enganado?
O conto O Macaco é de 1982 e pode ser encontrado no livro Tripulação de Esqueletos, uma coletânea de contos de King que inclui, também, O Nevoeiro (este, também adaptado ao cinema, mas de forma série e com um dos melhores plot twists da história).
King conta a história de dois irmãos, Hal e Bill. No conto, têm a diferença de idade de dois anos entre eles. No filme, viraram gêmeos. O porquê? Não entendi até agora, talvez para economizar no cachê de um artista.
Os meninos vivem com a mãe, abandonada pelo pai. No conto, um marinheiro. No filme, um piloto de aviões que garante a cena de abertura graficamente legal, mas também sem continuidade nenhuma com a história.
Eles costumam mexer nas coisas do pai como forma de se aproximar da figura ausente. E, certo dia, descobrem uma caixa que traz um macaco de brinquedo dentro. O boneco é equipado com um instrumento musical.
No conto, a figura tem um par de címbalos (espécie de pratos) que, acionados por corda, fazem o bicho de pelúcia movimentar os braços e bater um no outro para emitir um som irritante e mortal. No filme, as mãos do macaco ganharam baquetas que batem num tambor.
Cada vez que alguém aciona o mecanismo, uma pessoa é assassinada.
No conto, King coloca Hal como um pai que tenta proteger os filhos da maldição do brinquedo, quando ele é reencontrado na casa onde ele e o irmão cresceram após uma infância de tragédias.
No filme, Perkins transforma Hall num pai ausente que só vê o filho uma vez por ano e que sai numa viagem de despedida desses encontros, já que o padrasto do garoto vai adotá-lo e não permitirá mais os encontros.
O padrasto é vivido por Elijah Wood, o Frodo de O Senhor dos Anéis, num papel que não passa de uma ponta constrangedora.
No conto, Bill, o irmão de Hall, quase nem aparece, a não ser para avisar o mais novo que a tia que os criou após a morte da mãe morreu. E que Hall precisa ir até a casa para cuidar dos móveis e objetos da falecida.
No filme, Bill se transforma num vilão caricato, mas sem graça.
O roteiro é bobo, inocente até. A motivação que o leva a tanta maldade é risível. Como se Osgood Perkins, que também escreveu o filme, quisesse fazer um desenho animado em live action.
Sinceramente, não sei o que passou pela cabeça do diretor ao tomar essa decisão.
Ao fazer Longlegs (leia mais aqui), ele deixou de ser apenas o promissor cineasta filho de Anthony Perkins, o lendário intérprete de Normam Bates, de Psicose, para subir um degrau na consideração de Hollywood.
Agora, pode, ele mesmo, ser amaldiçoado pelo macaco. E levar ainda James Wan junto.
Produtor do filme, Wan é responsável pela direção de Jogos Mortais, Sobrenatural, Invocação do Mal, Maligno mas, ultimamente, atuando mais como produtor, tem cometido deslizes como A freira 2, A Hora do Vampiro e até Megan pode entrar nessa conta.
A salvação de O Macaco é o público aceitar que o filme não é levado a sério nem por um minuto e foi feito justamente para diversão.
Talvez, Perkins tenha pensado que a ideia de um macaco de brinquedo que causa a morte das pessoas quando bate o tambor ou os címbalos seja tão absurda que só se justificaria num mundo de exageros.
O conto virou um clássico. O filme, quem sabe, torne-se um cult, tendo uma pequena, mas totalmente apaixonada legião de fãs que cultuarão a obra por toda a eternidade.
Só o futuro dirá.
Meu mini poster ficará guardado. Como o macaco no armário.
À espera.
À espreita.
De olho num futuro que dirá se Osgood merece ter esse adjetivo em inglês no nome ou não.
Fonte: primeirapagina