Atualmente, Thomas Sowell Ă© um dos maiores â se nĂŁo o maior â intelectual em ciĂȘncias humanas ainda vivo. Sua produção acadĂȘmica Ă© incontestavelmente de alto nĂvel; a seriedade e autonomia de suas pesquisas, algo realmente raro. A esses pontos agregam-se virtudes, sendo a principal delas a capacidade Ămpar de escrever complexamente, quando dialoga com um pĂșblico mais erudito, e tambĂ©m de forma mais simples e direta ao se dirigir ao grande pĂșblico. Nem todos os grandes pensadores â do presente ou do passado â tĂȘm essa versatilidade na exposição das ideias. Notemos que o mesmo escritor de obras de linguagem ampla e acessĂvel, como A Busca da Justiça CĂłsmica (LVM editora) e do lançamento FalĂĄcias da Justiça Social (Alta Cult), Ă© o escritor do colosso Conflito de VisĂ”es (Ă realizaçÔes), um estudo sociolĂłgico e prepositivo sobre ideologias; e de Raça e Cultura (LVM editora), lançado ontem (12/10) pelo Clube Ludovico, uma obra que investiga profundamente os elos entre sucesso econĂŽmico e raça, prosperidade â em suas mais diversas aplicaçÔes e origens Ă©tnicas e culturais. Publicadas nos EUA entre 1995 e 1998, essa trĂade sowelliana sĂł teve sua primeira tradução para o portuguĂȘs publicada em 2023 dentro do Clube Ludovico, da Editora LVM.
Ă notĂĄvel que o mercado editorial brasileiro estĂĄ dando ampla abertura Ă s ideias de Sowell, e julgo que isso estĂĄ ocorrendo por dois motivos em especial: Sowell Ă© uma antĂtese polĂtica em si mesmo, Ă© um negro nascido no Harlem, ex-marxista militante que se converteu ao liberalismo clĂĄssico e hoje defende abertamente ideias tidas como âconservadorasâ. AlĂ©m disso, seus livros sĂŁo de uma lĂłgica praticamente impecĂĄvel, dando ao leitor uma perspectiva explanativa muito assertiva com relação Ă condição de crescente autoritarismo polĂtico e jurĂdico no mundo, alĂ©m da alienação acadĂȘmica e midiĂĄtica que ele trata como uma espĂ©cie de doença parasitĂĄria. A tĂtulo de exemplo, quem estuda as suas ideias e se aprofunda em sua biografia sabe que, apesar de ter iniciado seu caminho acadĂȘmico voltado Ă economia, sua produção e pesquisa extrapolam o terreno econĂŽmico, por vezes pisando fortemente na sociologia, na filosofia polĂtica e atĂ© mesmo na geografia. O estudo tido como âda sua vidaâ foi realizado in loco, ao que o autor afirma âapĂłs realizar literalmente duas voltas completas no globoâ; tal estudo levou 15 anos de pesquisa profunda e reflexĂŁo apurada que nos legou trĂȘs livros, Race and Culture, Migrations and Culture, e Conquest and Culture, desses, dois a LVM jĂĄ lançou â Raça e Cultura e Conquistas e Cultura â, e promete lançar o Ășltimo a trilogia no ano de 2025.
Nessas trĂȘs magnĂąnimas obras, o autor estudou, a fim de investigar o desenvolvimento humano, polĂtico e econĂŽmico das naçÔes, a relação entre a ampla cultura e os trĂȘs fatores que ele julga mais significativos, a em seu sentido estrito, pensado como diferenciador social e Ă©tnico e nĂŁo em termos genĂ©ticos; as como fator de exportação e imposição de valores; e as como força motriz para restruturaçÔes geogrĂĄficas e geopolĂticas. Essa Ă©, sem nenhuma dĂșvida, uma das pesquisas mais completas e extensas jĂĄ realizadas sobre essa temĂĄtica, talvez sejam as pesquisas modernas mais conclusivas sobre a eterna dĂșvida das teses sociolĂłgicas sobre se hĂĄ um determinante meramente atĂĄvico ou contextual que levam grupos e indivĂduos a resultados sociais e econĂŽmicos dĂspares. Para Sowell, as crenças e valores enraizados, unidos Ă dialĂ©tica cultural de apreensĂŁo e absorção dos costumes de terceiros, constroem o tecido social e psicologia grupal, a novidade de suas conclusĂ”es, por sua via, estĂĄ em mostrar como as caracterĂsticas inatas a cada grupo ou nação assumem sim uma certa predominĂąncia nesse embate entre a influĂȘncia do contexto e o ingĂȘnito, o hereditĂĄrio.

Obviamente, suas teses gozam da impopularidade entre os multiculturalistas e identitaristas, os acadĂȘmicos e os midiĂĄticos, pois nĂŁo sĂł reafirmam uma dialĂ©tica completa entre o âinternoâ e âexternoâ, o hereditĂĄrio e apreendido na cultura â tudo isso muito bem fundamentado â, mas conclui ainda que o coletivo, o ambiente, na grande maioria das vezes, nĂŁo reestrutura nem tem poder para remodelar o que Ă© natural em cada tribo, comunidade e nação; conclusĂŁo geral essa que afronta o progressismo em sua mais arraigada crença sociolĂłgica bĂĄsica, demole as fundaçÔes primevas do identitarismo contemporĂąneo, e, ainda que â Ă© verdade â nĂŁo coloque uma pedra final sobre a temĂĄtica, oferece sĂłlidas vias contrĂĄrias Ă s afirmaçÔes ideolĂłgicas da grande maioria acadĂȘmica no Ocidente. NĂŁo somos tĂĄbulas rasas, o ambiente coletivo nĂŁo tĂȘm poder de redefinir valores, posturas e crenças arraigadas.
Atualmente, hĂĄ cerca de onze livros publicados de Sowell no paĂs, sem contar aqueles que falam sobre o economista. Para citar dois, Thomas Sowell e a Aniquilação de FalĂĄcias IdeolĂłgicas (LVM editora), organizado por Dennys Xavier, e Thomas Sowell: a biografia (Avis Rara), de Jason L. Riley. Thomas Sowell nĂŁo sĂł foi descoberto no Brasil, como suas ideias se tornaram populares, suas frases sĂŁo repetidas e sua vida Ă© usada como um caminho de libertação ideolĂłgica. NĂŁo sĂŁo poucos os negros âde direitaâ que nĂŁo apenas estudam Sowell, como usam sua biografia como esteio de liberdade na academia e na vida. A esquerda tenta ignorĂĄ-lo, os progressistas, sejam dos EUA como do Brasil, misturam raiva com escĂĄrnio para tentar apagar sua influĂȘncia. No entanto, como apagar as ideias de um genuĂno pensador que fez sua vida pessoal e acadĂȘmica longe de gulags ideolĂłgicos? Sowell, hoje, como diria minha avĂł, estĂĄ âpor cima da carne secaâ do mainstream acadĂȘmico e jornalĂstico.
Por isso e por outras, Sowell se tornou uma das figuras que mais incomodam a esquerda acadĂȘmica atualmente e, como jĂĄ falei, talvez isso nĂŁo seja vociferado de modo tĂŁo explĂcito, mas, internamente, com certeza o Ă©. Ele representa a liberdade intelectual em pessoa, Ă© a autonomia polĂtica que nĂŁo tem como ser negada. Hoje, o Brasil oficial, aquele dos polĂticos de ternos e togas, Ă© lar de tudo o que Sowell denuncia. Aqui, hĂĄ cabrestos intelectuais nas universidades, autoritarismo polĂtico e jurĂdico no Estado, ausĂȘncia de qualquer autonomia polĂtica nas mĂdias, e justamente por tudo isso hoje o Brasil Ă© o paĂs que mais precisa de Sowell â mais do que os prĂłprios EUA. NĂŁo Ă© Ă toa que ao menos quatro grandes editores, atualmente, editam seus livros por aqui, e como um dos editores dele no Brasil, responsĂĄvel ao menos por quatro de seus livros publicados â e um ainda a ser editado â, posso dizer que nos âleilĂ”esâ pelos direitos de tradução de seus escritos, as suas obras sĂŁo disputadas com cordialidade mas tambĂ©m com determinada Ăąnsia editorial. HĂĄ uma perceptĂvel necessidade intelectual de Sowell no Brasil e, aliado a isso, tem a boa e velha demanda editorial por seus textos. O brasileiro cada vez mais quer ler Sowell. E, Ă© claro, o mercado editorial nĂŁo Ă© cego a tais carĂȘncias, se hĂĄ livros de Sowell sendo lançados Ă© porque hĂĄ leitores ĂĄvidos por seus textos, estudos e opiniĂ”es, e mais, se suas teses e denĂșncias sĂŁo consumidas, Ă© porque muitos leitores encontraram em suas ideias respostas adequadas Ă s nossas pĂąndegas polĂticas e culturais.
Fonte: revistaoeste