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O aumento do suicídio: reflexo de um fim silencioso ou anunciado?

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O suicídio é sabidamente um sério problema de saúde pública mundial, com o qual nos preocupamos cada vez mais, ano após ano e enveredamos pelo caminho da prevenção com campanhas, que tem por objetivo a diminuição de casos fatais e mesmo de tentativas frustras de autoextermínio. Quase oitocentas mil pessoas ceifam suas próprias vidas a cada ano no mundo, o que equivale a um suicídio a cada 40 segundos.

Apesar deste número alarmante, ocorreu um freio no crescimento nas últimas três décadas, na maior parte do planeta. Infelizmente em outra parte, que inclui um pedaço das Américas, houve aumento dos casos, apesar do empenho das políticas de saúde nas campanhas preventivas.

Estatisticamente, o suicídio ocorre mais em homens, principalmente na faixa etária dos 15 aos 29 anos e depois dos 65 anos, onde a solidão é o principal fator desencadeante do ato contra a própria vida. A doença mental é responsável por mais de 96% dos casos e alguns estudiosos do assunto chegam a acreditar que 99% ou 100% dos casos de suicídio estão ligados aos transtornos mentais.

A depressão ocupa o primeiro lugar no ranking de riscos do ato suicida; segue-se a ela o transtorno bipolar; as dependências ou abuso de álcool e outras drogas; os transtornos da personalidade; e a esquizofrenia. No Brasil, houve um expressivo aumento registrado no estudo epidemiológico de casos entre 2010 e 2019, quando passamos de 9.000 casos por ano para 13.000 casos.

Isso se deve em parte à desinstalação de grande número de leitos psiquiátricos nas últimas décadas, por meio de uma política antimanicomial desenfreada, que impede o acolhimento e a internação de um expressivo número de doentes mentais por falta de vagas nas instituições hospitalares. Além do fechamento de hospitais psiquiátricos, os CAPS existentes ainda são em números insuficientes e não são adequados aos tratamentos hospitalares necessários em casos mais graves, como são os riscos maiores e as tentativas de suicídio. Pior ainda quando se fala na infância e adolescência, onde a carência de leitos é ainda maior ou inexistente.

O último estudo feito com referência a 2024 mostra que Mato Grosso do Sul foi o estado brasileiro que registrou a maior alta do país em relação ao ano anterior. É um dado deveras alarmante, mas talvez apenas estejamos notificando mais, principalmente os casos de intoxicação medicamentosa com o objetivo de dar fim à vida, que muitas vezes não aparecem como morte por suicídio, sendo computados apenas como intoxicação, sem o desejo do resultado morte. Por outro lado, o fato de sermos um estado com baixa notificação de violência no cenário nacional, nos chama a atenção o paradoxo que computa grande número de feminicídios e de suicídios, o que nos desperta a preocupação maior com a saúde mental da população do nosso estado.

Não podemos esquecer também que 2024 foi um ano pós-pandemia, em que muitos estavam elaborando suas perdas e, ao mesmo tempo, convivendo com uma polarização política maldosa de desagregação e ódio, fatores que contribuíram para o agravamento das doenças mentais e, consequentemente, das tentativas de suicídio e do autoextermínio consumado.

Não existe até hoje nenhum medicamento ou tratamento não medicamentoso que evite o ato suicida em sua totalidade. Tudo o que se sabe é que se pode estimar apenas o risco de suicídio, quando se devem tomar as medidas cabíveis, mas não se sabe quem vai ou não concretizar seu intento.

A Organização Mundial da Saúde tem como estratégia o guia “Viver a Vida”, que combina restrição a meios letais, engajamento comunitário e políticas de saúde mental integradas. Daí, há de se investir na saúde, com locais especializados e profissionais capacitados para atendimento de pacientes com riscos de suicídio; a família deve ser orientada à maior observação de seu membro doente e à restrição a meios letais dentro de casa; a escola com palestras e trabalhos de prevenção em grupo sobre o assunto; a empresa com apoio psicológico dentro do trabalho; a mídia com noticiários sem sensacionalismo e com informações preventivas por meio de profissionais especializados no assunto; políticas públicas com fortalecimento das redes de apoio, treinamento de familiares e professores, programas de prevenção ao suicídio e barreiras em viadutos e outros meios letais urbanos; a comunidade em geral precisa ter o olhar voltado aos riscos e intervir precocemente.

Se conseguirmos trabalhar em frentes mais amplas e unir forças, certamente conseguiremos dar mais valor à vida e reduzir as tentativas e os atos consumados de suicídio.

Fonte: primeirapagina

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