📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Atualmente, quase 7 milhões de americanos têm a doença de Alzheimer. As projeções indicam que esse número aumentará para 13 milhões até 2050, de acordo com a Alzheimer’s Association.
  • Um estudo utilizou microscopia de força atômica em meio líquido para visualizar o desenvolvimento da proteína beta-amiloide em tempo real, identificando fibrilas “superpropagadoras” que aceleram a progressão da doença pelo tecido cerebral.
  • As três principais toxinas que prejudicam a função mitocondrial são a ingestão excessiva de ácido linoleico (LA), produtos químicos desreguladores endócrinos de microplásticos e a exposição a campos eletromagnéticos (CEM) de dispositivos eletrônicos.
  • Certas cepas de bactérias patogênicas, como Collinsella, Lachnospira e Veillonella, aumentam o risco de Alzheimer, enquanto cepas probióticas, como Eubacterium nodatum, oferecem benefícios protetores por meio de ácidos graxos de cadeia curta.
  • As estratégias de prevenção incluem otimizar os níveis de vitamina D, manter os níveis de insulina em jejum baixos, evitar glúten e caseína, praticar exercícios físicos de forma regular e desafiar sua mente com novas habilidades.

🩺Por Dr. Mercola

De acordo com a Alzheimer’s Association, quase 7 milhões de americanos são atualmente diagnosticados com doença de Alzheimer, o tipo mais comum de demência. Além disso, espera-se que a situação piore — até 2050, cerca de 13 milhões de americanos devem ser diagnosticados com essa doença neurodegenerativa.

A doença de Alzheimer continua sendo um desafio para a medicina moderna em termos de diagnóstico e tratamento. No entanto, um estudo recente fez uma descoberta importante na compreensão de como a doença progride, criando uma base para que futuros clínicos e pesquisadores possam desenvolver planos de tratamento mais eficazes.

Um avanço significativo na observação da progressão da doença de Alzheimer

Em um estudo publicado na Science Advances, pesquisadores conseguiram visualizar o desenvolvimento de proteínas beta-amiloides para entender como a doença de Alzheimer se espalha. As proteínas beta-amiloide foram observadas por meio de diversos métodos, vários dos quais foram revisados no estudo:

“Avanços metodológicos foram capazes de resolver a ultraestrutura dos agregados de proteínas Aβ e tau formados ao longo da via de nucleação primária, utilizando microscopia crioeletrônica (crio-EM) e espectroscopia de ressonância magnética nuclear em estado sólido.

Da mesma forma, a cinética de agregação e a toxicidade dessas proteínas foram investigadas usando ensaios ultrassensíveis baseados em fluorescência, dispositivos de nanoporos e dicroísmo circular.

Detalhes sobre a morfologia, a montagem na superfície e a estrutura química dos agregados de proteínas Aβ e tau também foram disponibilizados usando microscopia de força atômica (FMA) padrão, FMA de taxa de vídeo e espectroscopia de infravermelho”.

Para contextualizar, as proteínas beta-amiloide se agregam no cérebro e são suspeitas de desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento do Alzheimer. Por isso, elas são o principal foco dos pesquisadores na busca por soluções terapêuticas. Os métodos de coloração anteriores utilizados para análise observacional distorcem as estruturas das proteínas.

Para encontrar novas maneiras de analisar os mecanismos da doença de Alzheimer, a equipe usou microscopia de força atômica (FMA) em meio líquido. Conforme os autores explicam:

“Com base nas observações de estudos anteriores de nucleação secundária, postulamos que deveria ser viável, com a FMA de alta resolução, registrar informações elementares, como tamanho, formato e local de adsorção dos oligômeros em fibrilas individuais com diâmetro inferior a 10 nm. Operar a FMA em um meio de solução aquosa permitiria a difusão de oligômeros na superfície da fibrila”.

Acompanhamento da progressão da doença de Alzheimer em tempo real

Depois que a equipe definiu a metodologia, eles passaram para a fase de testes. Para começar, eles agitaram amostras de beta-amiloide por 30 minutos em temperatura ambiente. Em seguida, eles montaram diferentes experimentos para observar o crescimento e a progressão dos agregados de proteínas, em períodos que variaram de 30 segundos a 250 horas:

“Imagens em nanoescala apoiadas por simulações moleculares em escala atômica rastrearam a adsorção e proliferação de conjuntos oligoméricos em locais catalíticos espaçados de forma não periódica na superfície da fibrila. Após confirmar que as bordas das fibrilas são locais de ligação preferenciais para oligômeros durante os estágios embrionários, as alterações secundárias no tamanho das fibrilas foram quantificadas durante os estágios de crescimento”.

A partir de suas observações do desenvolvimento de fibrilas proteicas em tempo real, eles conseguiram classificar algumas delas como “superpropagadoras” com base em sua anatomia de superfície. Especificando, essas superpropagadoras “apresentam extremidades e superfícies altamente ativas, onde novas moléculas de proteína se acumulam, até formarem fibrilas mais longas que podem se espalhar pelo tecido cerebral”.

À medida que se espalham, ocorre maior agregação de proteínas, progredindo as características da doença de Alzheimer de maneira efetiva. Em última análise, a equipe de pesquisa espera que esse avanço na análise de fibrilas possa ajudar a melhorar o diagnóstico e o monitoramento de doenças neurodegenerativas. “Este trabalho nos aproxima ainda mais de uma melhor compreensão sobre como essas proteínas se espalham no tecido cerebral da doença de Alzheimer”, diz Peter Nirmalraj, um dos autores do estudo.

A disfunção mitocondrial está no cerne da doença de Alzheimer

À medida que os pesquisadores continuam desenvolvendo novas ferramentas para ajudar a diagnosticar e tratar melhor o Alzheimer, seguir um estilo de vida saudável é importante para reduzir o risco. A prevenção é, de longe, a melhor opção. Acredito que tratar a disfunção mitocondrial é essencial para proteger a função cognitiva, o que é alcançado melhorando a saúde celular.

A primeira coisa a ser considerada é a sua alimentação. Um estudo publicado na Neurology observou que seguir uma dieta inflamatória aumenta o risco de demência. Além disso, acredito que há três toxinas principais que prejudicam a função mitocondrial ao afetar o cálcio intracelular, o que por consequência afeta a saúde celular.

Resumindo, quando o cálcio nas células aumenta, o corpo produz superóxido e óxido nítrico. Esses dois se combinam para formar o peroxinitrito, uma potente espécie reativa de oxigênio que contribui para a deterioração da saúde. As três toxinas disseminadas que aumentam os níveis de cálcio intracelular e estimulam a formação de peroxinitrito incluem:

1. Consumo excessivo de ácido linoleico (LA): O LA é uma gordura poliinsaturada ômega-6 (AGPI) encontrada em maior abundância em óleos de sementes, óleos vegetais e alimentos processados. Acredito que seja uma das toxinas mais perniciosas da dieta ocidental, causando inflamação e doenças crônicas na população.

O consumo excessivo de LA tem um impacto negativo na sua taxa metabólica e no microbioma intestinal, fatores essenciais para a saúde ideal. Para proteger sua saúde, recomendo manter sua ingestão de LA abaixo de 5g por dia.

Observe que é quase impossível evitar o LA, pois a maioria dos alimentos o contém de forma natural, e o corpo precisa de um pouco dele. O segredo é evitar excessos.

2. Produtos químicos desreguladores endócrinos (DEs) — Os microplásticos são tão comuns em nosso ambiente que os humanos ingerem o equivalente a um cartão de crédito em plástico por semana. Esses microplásticos contêm substâncias químicas desreguladoras endócrinas (DEs), em particular ftalatos e bisfenol A (BPA).

Quando essas substâncias entram no corpo, elas ativam e superestimulam os receptores de estrogênio. Essa atividade estrogênica aumentada eleva os níveis de cálcio intracelular, o que, por sua vez, leva à formação de peroxinitrito.

Para reduzir sua exposição, a primeira linha de defesa é minimizar sua dependência de produtos plásticos, como água engarrafada e embalagens de alimentos descartáveis. Levar um recipiente de vidro e um copo reutilizável para sua água quando sair de casa reduzirá bastante o uso de plástico.

3. Exposição a campos eletromagnéticos (CEM) — Os dispositivos que você usa todos os dias emitem CEMs que ativam receptores de canais de cálcio dependentes de voltagem (CCDV) dentro de suas células. Isso desencadeia o influxo de cálcio, catalisando a produção de peroxinitrito.

As principais fontes de CEMs incluem o celular, dispositivos Bluetooth, acessórios de computador sem fio e aparelhos smart que se conectam ao Wi-Fi da sua casa.

Mantenha sua flora intestinal saudável para proteger a função cognitiva

Seu microbioma intestinal é um dos aspectos mais cruciais para alcançar uma saúde ideal. Pesquisas mostram que ele desempenha um papel em várias funções, como modular o sistema imunológico, o metabolismo da glicose e reduzir a resistência à insulina. Além dessas descobertas, um estudo publicado na Scientific Reports mostrou que certas cepas bacterianas no intestino aumentam o risco de Alzheimer.

No estudo, os pesquisadores identificaram cepas como Collinsella, Lachnospira e Veillonella como contribuintes para o risco de Alzheimer. Segundo os autores do estudo:

“Em nossas análises, a Collinsella do filo Actinobacteria, foi identificada como um fator de risco para DA (doença de Alzheimer) tanto nas amostras de descoberta quanto de replicação… É importante ressaltar que uma abundância maior desse gênero também foi observada em camundongos transgênicos para DA e em pacientes com a doença. Nossas descobertas fornecem evidências no nível do genoma humano de uma conexão entre Collinsella e Alzheimer que reforça os estudos observacionais anteriores …

Além disso, identificamos dois gêneros de Firmicutes como fatores de risco para Alzheimer (Lachnospira e Veillonella), com Veillonella sendo validado na amostra de replicação. Há pouco tempo, foi relatado que pacientes com Alzheimer apresentam abundância de Veillonella em seu microbioma oral. No intestino, foi demonstrado que uma superabundância de espécies como V. parvula promove inflamação intestinal…

A associação dupla da abundância oral e intestinal de Veillonella com doenças aponta esse gênero como um alvo para terapias e uma potencial ponte entre condições como inflamação intestinal e periodontite com Alzheimer”.

Os pesquisadores também identificaram cepas que oferecem benefícios protetores contra a doença de Alzheimer, como Eubacterium nodatum e Eisenbergiella. Essas cepas produzem ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), em particular o butirato, a partir de carboidratos da dieta.

O butirato alimenta as células epiteliais do cólon, reforçando a barreira intestinal. Os AGCCs também estimulam a produção de mucina, criando uma barreira protetora contra bactérias nocivas. A akkermansia também produz AGCCs, e pesquisas mostram que pacientes com Alzheimer tendem a ter níveis muito baixos dessa importante espécie fundamental.

Carboidratos ajudam a manter a saúde intestinal

Cultivar bactérias benéficas intolerantes ao oxigênio, incluindo Akkermansia, fortalecerá o revestimento intestinal e ajudará a criar um ambiente que promove o bem-estar geral. Por outro lado, baixos níveis de bactérias intolerantes ao oxigênio levarão a um aumento da permeabilidade intestinal, também conhecido como intestino permeável.

Isso causa aberturas na barreira intestinal, permitindo que toxinas, partículas de alimentos não digeridos e micróbios prejudiciais entrem na corrente sanguínea, resultando em inflamação sistêmica e problemas crônicos de saúde.

Para criar um ambiente que permita que seu microbioma intestinal prospere, aumentar a ingestão de carboidratos é uma prioridade. Ashley Armstong fornece boas recomendações de carboidratos benéficos ao intestino, que incluem:

  1. Arroz branco bem cozido
  2. Pão de fermentação natural
  3. Legumes de raiz, como batata e batata-doce
  4. Frutas frescas e maduras
  5. Masa harina, ou tortilhas feitas de forma tradicional

Lembre-se também de incluir alimentos fermentados. Sou um grande defensor de fazer seus próprios vegetais fermentados em casa, porque eles são simples e econômicos de preparar. Não recomendo comprar vegetais fermentados do mercado, pois no geral, eles contêm adoçantes e aditivos artificiais, anulando os benefícios dos alimentos fermentados.

Estratégias adicionais para prevenir a doença de Alzheimer

Além de otimizar a saúde intestinal e a função mitocondrial, há uma infinidade de estratégias úteis para a prevenção do Alzheimer, várias das quais estão descritas abaixo:

Evite glúten e caseína (sobretudo trigo e laticínios pasteurizados, mas não gordura do leite, como manteiga): Como observado em um estudo de 2022,16 sua barreira hematoencefálica é afetada de forma negativa pelo glúten. Quando bactérias entram na corrente sanguínea, o risco de doença de Alzheimer aumenta. Outros distúrbios cognitivos também estão associados ao enfraquecimento da barreira hematoencefálica, como a doença de Parkinson, ansiedade e depressão.

Certifique-se de que você está obtendo gorduras ômega-3 suficientes de origem animal: As gorduras ômega-3, chamadas EPA e DHA, ajudam a prevenir os danos celulares causados pela doença de Alzheimer, retardando sua progressão e diminuindo o risco de desenvolver o distúrbio. Dito isso, os ômega-3 são AGPIs, então não exagere.

Otimize seu nível de vitamina D com exposição segura ao sol: Foram reveladas fortes relações entre baixos níveis de vitamina D em pacientes com Alzheimer e baixos resultados em testes cognitivos. Em um estudo de 2023, o aumento da vitamina D reduziu o risco de demência em 40%.

A melhor maneira de obter vitamina D é por meio da exposição sensata ao sol, visando um nível sanguíneo entre 60 ng/mL e 80 ng/mL. No entanto, você precisa eliminar os óleos de sementes do seu corpo antes de se expor ao sol do meio-dia. O LA na sua pele oxida quando exposto à luz solar, causando inflamação e danos à pele.

Para proteger a pele, evite a exposição ao sol durante o meio-dia por 4 a 6 meses enquanto você trabalha para eliminar o LA do seu corpo. Enquanto isso, tome sol no início da manhã e no final da tarde. Para proteção extra da pele, você pode tomar astaxantina, aspirina de baixa dosagem ou hidrogênio molecular. O creme de niacinamida também diminui o risco de danos à pele.

Mantenha seus níveis de insulina em jejum abaixo de 3: A resistência à insulina está relacionada ao envelhecimento acelerado do cérebro, assim como à neurodegeneração.

Tenha uma dieta nutritiva, rica em folato: Vegetais, sem dúvida, são sua melhor fonte de folato. Evite suplementos como o ácido fólico, que é a versão sintética inferior do folato. Pesquisas mostram que o folato é um fator de proteção contra a doença de Alzheimer.

Evite e elimine o mercúrio do seu corpo: As restaurações de amálgama, que contêm 50% de mercúrio em peso, são uma das principais fontes de toxicidade por metais pesados. Consulte um dentista biológico para remover o amálgama. As fontes de alumínio incluem antitranspirantes, utensílios de cozinha antiaderentes e adjuvantes de vacinas.

Certifique-se de que seu ferro não esteja elevado e doe sangue se estiver: Um estudo publicado na Aging Medicine mostra que o excesso de ferro aumenta o risco de doença de Alzheimer ao iniciar a reação de Fenton, levando ao aumento do estresse oxidativo.

Pratique exercícios regulares: Os exercícios físicos desencadeiam mudanças benéficas que dão suporte à função cognitiva. Em particular, foi demonstrado que o exercício melhora o fluxo sanguíneo para o cérebro, levando a um aumento nos biomarcadores relacionados à melhora da plasticidade neuronal e melhor sobrevivência celular.

Coma mirtilos e outros alimentos ricos em antioxidantes: Mirtilos silvestres, ricos em antocianinas e antioxidantes, são conhecidos por proteger contra doenças neurológicas.

Desafie sua mente todos os dias: A estimulação mental, como aprender a tocar um instrumento musical, está associada a um risco menor de Alzheimer.

Evite medicamentos anticolinérgicos e estatinas: Medicamentos que bloqueiam a acetilcolina, um neurotransmissor do sistema nervoso, demonstraram aumentar o risco de demência. Entre esses medicamentos estão analgésicos usados à noite, anti-histamínicos, auxiliares do sono, antidepressivos, remédios para incontinência e alguns analgésicos narcóticos.

Os medicamentos à base de estatinas são, em particular, problemáticos, pois suprimem a síntese de colesterol, esgotam os níveis de CoQ10 e precursores de neurotransmissores no cérebro, impedindo a entrega adequada de ácidos graxos essenciais e antioxidantes lipossolúveis para o seu cérebro, ao inibir a produção da biomolécula transportadora indispensável conhecida como lipoproteína de baixa densidade.