Mais de 48 mil pessoas morreram por causa das ondas de calor no Brasil entre os anos 2000 e 2018, como mostra um estudo – divulgado em janeiro deste ano – realizado por cientistas brasileiros e portugueses, ligados a instituições como UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a Universidade de Lisboa.
Ondas de calor no país
O número de mortes por ondas de calor no período analisado pelo estudo é mais de 20 vezes maior que as mortes causadas por deslizamentos de terras, como afirmam os 12 cientistas envolvidos na pesquisa.
Foram analisadas 14 regiões mais populosas, que, somadas, concentram cerca de 35% da população brasileira, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Dentre os locais analisados, esteve Cuiabá, capital mato-grossense, onde as ondas de calor fizeram a temperatura atingir mais de 40°C por quatro dias consecutivos, em dezembro do ano passado.
Confira abaixo os locais analisados:
- regiões metropolitanas de Manaus e Belém (Norte);
- Fortaleza, Salvador e Recife (Nordeste);
- São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (Sudeste);
- Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre (Sul;
- Goiânia, Cuiabá e Brasília (Centro-Oeste).
Mapeamento das mortes
As ocorrências de eventos de calor extremos foram mapeadas através da aplicação do EHF (sigla em inglês traduzida para Fator de Excesso de Calor).
O índice permite identificar a classificar as ondas de calor de acordo com suas frequências, duração e intensidades, além de calcular os possíveis níveis de calor que podem representar riscos à saúde humana.
Com essas informações, foram calculadas as mortes relacionadas ao calor, utilizando a base de dados do DATASUS, site do Ministério da Saúde que disponibiliza informações que podem servir para auxiliar análises objetivas da situação sanitária, tomadas de decisão baseadas em evidências e elaboração de programas de ações de saúde.
Para chegarem ao resultado final, os cientistas analisaram todas as mortes por todas as causas, excluindo as que foram causadas por fatores externos como acidentes ou homicídios, em todos os municípios que pertencem às regiões analisadas.
Foram mais de 9,3 milhões de óbitos contabilizados. A partir daí, o próximo passo era calcular a “mortalidade em excesso” através da comparação entre mortes ocorridas durante cada onda de calor mapeada e as observadas na mesma época do ano, e durante a mesma quantidade de dias em situações normais.
O resultado concluiu que durante 18 anos, 48.075 pessoas morreram por causas ligadas aos efeitos das ondas de calor.
Para entender melhor como ocorre uma morte por esses fatores, os pesquisadores explicaram que doenças circulatórias, respiratórias e o agravamento de condições crônicas prévias diante do calor extremo são algumas das causas mais frequentes dos óbitos.
Perfil socioeconômico também é relevante
Entre 75% e 94% das mortes analisadas na pesquisa foram de pessoas com mais de 65 anos. Fator visto como perigoso, já que, considerando as mortes naturais de 2001 a 2018 os grupos mais velhos representam menos de 60% da mortalidade observada.
Ou seja, o estudo confirma que o idosos são desproporcionalmente afetados pelo calor extremo.
As diferenças regionais nas mortes foram outro ponto do estudo, indicando desigualdades entre o eixo Centro-Sul e as regiões Norte e Nordeste.
Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os subgrupos etários com menos de 65 anos representaram entre 6% e 19% das mortes relacionadas ao calor; já nas regiões Norte e Nordeste, o percentual dos mesmos subgrupos foi mais alto, alcançando de 17% a 25%.
Considerando o perfil socioeconômico de pessoas com 65 anos ou mais, o índice de mortes foi significativamente maior para o grupo de baixa escolaridade ( taxa de morte entre 1,21 e 1,86), segundo a pesquisa.
Já em relação aos cidadãos de alta escolaridade na regiões metropolitanas de Belém, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, a taxa fica entre 0,95 e 1,29 casos de morte.
Por fim, o estudo mostra que em nenhuma das regiões analisadas o aumento da mortalidade de pessoas brancas supera o de pessoas pretas e pardas.
Aumento das ondas de calor
Além das mortes causadas pelo calor extremo, o estudo ainda apontou o aumento na frequência das ondas de calor no Brasil.
Na década de 1970, o país registrou uma média de zero a três eventos desse tipo por ano. Já na década de 2010, esse número aumenta quase quatro vezes, com os registros de três a 11 ondas por ano.
Com esses resultados, os pesquisadores afirmam a importância de políticas públicas voltadas para o fortalecimento dos serviços de saúde, incluindo a preparação específica das regiões para ondas de calor, atendendo e amparando, principalmente, os grupos mais vulneráveis.
Fonte: primeirapagina