Após mais de uma década atuando como analista de gestão em uma empresa cuiabana, a Valéria Bento, de 38 anos, se interessou por uma oportunidade de emprego para trabalhar de casa. A mudança na rotina para conseguir atuar em home office não foi simples, mas, deu a ela liberdade para se equilibrar entre o trabalho, a família e o crescimento pessoal.
E quando o assunto é trabalho remoto, surge uma dúvida comum: como saber se eu me encaixaria e me sairia bem trabalhando de casa?
Trabalho remoto: vantagens e desvantagens
A possibilidade de trabalhar de casa nunca havia sigo cogitada pela Valéria durante os anos atuando no ambiente corporativo. Mas, ela esteve entre os milhares de trabalhadores que precisaram mudar a forma e o local de trabalho com o início da pandemia de covid-19.
Durante a pandemia, ela passou sete meses trabalhando remotamente e, ao fim desse período, retornou para o trabalho presencial.
Foi aí que a Valéria sentiu a diferença nos modos de atuação e, principalmente, no quanto gostaria de continuar trabalhando de casa, já que, dessa forma, ela sentia que possuía mais rendimento e poderia contar com mais benefícios, dentre eles, a possibilidade de estar mais presente na vida da família.
Ao Primeira Página, a profissional afirmou que estar mais próxima do filho de 6 anos foi um dos pontos principais na trajetória de mudança na forma de trabalhar.
“Todos os dias acordar, tomar um café junto, a possibilidade de levar para escola, de fazer e moldar os meus horários e continuar entregando os mesmos resultados… para mim fez toda a diferença, eu não pensei duas vezes. Quando a oportunidade veio, eu já estava pronta”, disse.
Mas, para conseguir trabalhar de casa, a Valéria não teve apenas que mudar de ambiente. Ela precisou se demitir do antigo emprego para aceitar a nova oportunidade que era de trabalho remoto.
Hoje, atuando como coordenadora de eventos em home office, ela afirma o quanto é importante organizar a rotina para não se perder ou se distrair com afazeres em casa – que não estejam relacionados ao emprego.
Para a Maressa Dias De David, psicóloga clínica e organizacional, ter autodisciplina e planejamento são os primeiros pontos para ter sucesso trabalhando em home office; assista abaixo:
Como o trabalho remoto é feito de dentro de casa, os profissionais precisam tomar cuidado com os horários de início e fim do expediente.
Segundo Maressa, trabalhando em casa, alguns profissionais tendem a expandir o horário, trabalhando mais do que deveriam – diferente do que acontece nas empresas, onde o trabalhador vai embora ao fim do expediente.
Outro ponto esclarecido pela psicóloga é a necessidade de autonomia e preparo emocional do profissional que decide trabalhar de casa. Longe dos gestores ou dos colegas, por exemplo, ele precisará ter independência para gerir o próprio tempo e tomar decisões relacionadas à profissão.
Sem o trabalho corporativo, momentos como a conversa durante um café, a proximidade física com outras pessoas, a convivência, de modo geral, deixam de existir.
Então, esse é um ponto que deve ser considerado por quem deseja trabalhar de casa, diante de uma autoanálise emocional, para saber lidar com a introspecção, o ambiente solitário do home office.
“Existem pessoas que são mais intrapessoais, que conseguem lidar mais com isso. Mas, as pessoas muito extrovertidas, muito interpessoais, elas têm um pouco de dificuldade, principalmente no início, para se adaptarem ao trabalho remoto, justamente por essa falta de conexão física”, explica Maressa.
Entretanto, a psicóloga faz um alerta para as pessoas que já possuem tendência à falta de sociabilidade.
Quando inseridas totalmente no ambiente remoto, o nível de isolamento social delas pode aumentar e, por isso, deve haver um olhar atento dos gestores, por exemplo, para que isso seja equilibrado com o trabalho híbrido – no qual a pessoa trabalha tanto em casa quanto na empresa.
“Ela vai ter uma dificuldade para olhar nos olhos, se comunicar, para se posicionar… Ela pode entrar até em uma fobia social”, explica Maressa.
Outro benefício do home office, segundo Valéria, foi a possibilidade de usar o tempo que, antes era gasto no trânsito da Capital até a firma onde atuava, para, agora, ir à academia e estudar, por exemplo.
Sem deixar de lembrar a importância da interação social, a profissional também tem a abertura para ir ao escritório encontrar com os colegas presencialmente. Mas, é no espaço criado dentro de casa, com uma mesa e um notebook, onde ela se sente mais “produtiva e criativa”.
“Fui agregando novas atividades, mantenho um ritmo bem metódico para conseguir cumprir e entregar todos os meus resultados…. Comecei até a fazer uma nova graduação, enxergar novas oportunidades” afirma.
A psicóloga clínica Maressa Dias De David lembra, ainda, que esse espaço criado por Valéria Bento em casa é outro exemplo de grande importância no home office, pois quando reservamos um local específico para funcionar como ambiente de trabalho, evitando constantes entradas e saídas ou interferências de familiares, pode aumentar a qualidade da função desempenhada.
“Dessa forma, nosso cérebro entende que, enquanto eu estiver ali naquele espaço de trabalho, eu não posso descansar, eu tenho que estar com a mente ativa”, afirma a psicóloga.
Além do ambiente físico, até a forma como nos vestimos pode prejudicar ou ajudar no home office.
Como explica Maressa, se trabalharmos de pijama, por exemplo, o cérebro vai entender que estamos em um ambiente relaxado e não de trabalho!
Além disso, o trabalho remoto conta, geralmente, com reuniões por chamada de vídeo, nas quais precisamos estar “apresentáveis”, pois, mesmo em casa, continuamos atuando profissionalmente, como lembra a psicóloga.
Fonte: primeirapagina