Enfermeiros na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte iniciaram, nesta quinta-feira, 15, a primeira de duas greves de um dia para pressionar o governo por um aumento salarial. A segunda paralisação ocorrerá em 20 de dezembro.
Cerca de 100 mil membros do Royal College of Nursing (RCN) – o maior sindicato de enfermagem do Reino Unido – estão participando do movimento, na mais recente e sem precedentes onda de greves que varreu o Reino Unido nos últimos meses. Além disso, é a maior greve nos 106 anos de história do RCN.
O movimento ocorre depois de vários anos de dificuldades para os funcionários do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) – espécie de “pai” do SUS brasileiro –, uma instituição reverenciada, mas que está sofrendo devido à falta de pessoal, demanda altíssima e financiamento apertado.
A chefe do Royal College of Nursing (RCN), Pat Cullen, aifrmou que “este é um dia trágico para a enfermagem, é um dia trágico para os pacientes”.
A RCN está pedindo um aumento salarial de 5% acima da inflação do varejo, que nos números atuais equivale a um aumento de 19%. Segundo enfermeiras e enfermeiros em greve, aumentos do salário abaixo da inflação estão comprometendo os cuidados com pacientes, pois dificultam a atração e retenção de funcionários.
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Já o governo diz que a demanda do RCN é impossível, e que já atendeu às recomendações de órgãos independentes sobre a remuneração do setor.
Durante a greve, a equipe continuará trabalhando apenas em funções de “preservação de vida” e alguns cuidados urgentes. Quimioterapia e diálise renal devem funcionar normalmente, juntamente com unidades de cuidados intensivos, pronto-socorro e unidades neonatais.
Mas todos os serviços de rotina serão interrompidos. O maior impacto provavelmente ocorrerá em tratamentos pré-agendados e consultas em ambulatórios.
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O impasse segue anos de disputas sobre a remuneração dos funcionários do NHS. O salário dos enfermeiros caiu 1,2% a cada ano entre 2010 e 2017, de acordo com a Health Foundation, uma instituição de caridade do Reino Unido que faz campanha por melhores cuidados de saúde. Nos três primeiros anos, o pagamento foi congelado.
Enquanto isso, o número de pacientes à espera de atendimento disparou, uma tendência de anos que foi exacerbada pela pandemia. Um recorde de 7,2 milhões de pessoas na Inglaterra – mais de uma em cada oito pessoas – estão atualmente esperando por tratamento, de acordo com a Associação Médica Britânica. Sete anos atrás, o número era de 3,3 milhões.
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No início deste ano, o RCN rejeitou uma oferta do governo para aumentar o salário dos enfermeiros em pelo menos 1.400 euros (cerca de R$ 7.800) por ano, o que representou um aumento médio de 4,3%, bem abaixo da taxa de inflação de 11%.
O líder do Partido Trabalhista britânico, Keir Starmer, atacou o premiê conservador rishi sunak sobre a greve na quarta-feira, dizendo que “todo o país daria um suspiro de alívio” se ele interrompesse a greve fechando um acordo com o RCN e que a situação era “uma vergonha para este governo”.
Enfermeiros e enfermeiras se juntam, nesta quinta-feira, aos muitos outros funcionários de serviços públicos do país para exigir aumento de salários e melhores condições de trabalho, promovendo uma crescente onda de greves diferente de qualquer outra vista no Reino Unido em décadas.
Funcionários das ferrovias, ônibus, rodovias e fronteiras do Reino Unido já entraram em ação neste mês, paralisando várias formas de transporte público. Professores, funcionários dos correios, carregadores de bagagem e paramédicos também devem entrar em greve em dezembro.
Fonte: Veja