Nos últimos anos, o número de brasileiros que pedem ajuda para retornar ao Brasil depois de experiências frustrantes na Europa tem aumentado. A BBC ouviu brasileiros que tentaram a vida no Velho Continente, mas, agora, fazem o caminho inverso.
Silas Silva Mello, de 32 anos, é um deles, conforme noticiou a emissora britânica no último domingo, 4. Em abril de 2022, ele se mudou para portugal com a esperança de enviar dinheiro ao Brasil, mas retornou endividado.
“Meu sonho virou um pesadelo”, afirmou Silas à BBC, relatando que teve de enfrentar falta de moradia, aluguéis abusivos e exigência de uma caução exorbitante de € 3 mil [R$ 18 mil].
Ele conseguiu um emprego como supervisor em uma loja em Algarve, mas, sem visto de trabalho, enfrentou uma jornada exaustiva e um salário insuficiente para se manter e cheio de dívidas.
O brasileiro voltou ao seu país em dezembro do mesmo ano pelo programa Retorno Voluntário. Hoje, trabalha como fotógrafo, em São Paulo. “O que vivi lá não desejo para ninguém”, afirmou. “Não guardo mágoas, mas meu sonho foi frustrado. Não quero voltar a morar na Europa.”
Lucas Ferreira e sua experiência em Portugal
Lucas Ferreira, de 37 anos, recorreu ao programa da para retornar ao Brasil, em março de 2022, depois de quatro anos em Portugal. “Cheguei a pedir cesta básica, alimento em ONG, recebi ajuda de pessoas para comer”, relembrou, ao ser entrevistado pela BBC. “Passei por coisas lá que nunca tinha passado no Brasil.”
Com o auxílio da OIM, abriu a própria barbearia, em São Paulo. Em 2023, a OIM apoiou o retorno de 1,6 mil brasileiros em 34 países, número que triplicou desde 2016. Além da Europa, o programa ocorre em países como Austrália, Costa Rica, Japão, Marrocos, México e Uruguai.
Apoio da OIM
Desde 2016, cerca de 1,3 mil brasileiros receberam apoio financeiro da OIM para reintegração. A maioria investiu em empreendimentos próprios, despesas médicas ou educação.
Nos últimos anos, brasileiros lideram pedidos de retorno voluntário em Portugal, Irlanda e Bélgica. Em Portugal, 80% dos pedidos de retorno são de brasileiros, que representam a maior comunidade estrangeira no país.
Na Irlanda, 44% das solicitações de retorno voluntário são de brasileiros, apesar de serem apenas 4% dos imigrantes. Na Bélgica, 43% dos pedidos de retorno, em 2023, foram de brasileiros.
Já no Reino Unido, pessoas que saíram do Brasil foram os terceiros que mais solicitaram retorno voluntário em 2023. Na Espanha, 8,4% dos pedidos de retorno foram de brasileiros, que representam apenas 0,13% dos imigrantes no país. Na Alemanha, apenas 17 dos 10,6 mil pedidos de retorno em 2023 foram de pessoas que nasceram no Brasil.
O retorno não é mais visto como fracasso
Segundo o professor Leonardo Cavalcanti, da UnB, o retorno ao país de origem não é mais visto como fracasso, mas como uma etapa em um mundo dinâmico.
“Quem retorna ao Brasil traz consigo uma bagagem cultural e um conhecimento de mundo valiosos”, afirmou Cavalcante, também à BBC News. “Esse retorno representa um potencial e um diferencial para a sociedade brasileira.”
Fonte: revistaoeste