A cantora indígena MC Anarandá lança nesta terça-feira (23) seu primeiro álbum autoral, “Pehendu Ore NÊ’Ê – Escuta nossas vozes”, nas plataformas digitais. A data escolhida não é por acaso: marca a chegada da primavera, estação que simboliza florescimento, renascimento e esperança, em sintonia com suas vivências e trabalho.
Natural da Aldeia Guapoy, em Amambai (MS), Anarandá carrega no próprio nome a força da ancestralidade. Em guarani, Randá Kunã Poty rory Anarandá significa “mulher flor brilhante, carismática e comunicadora”. A adição do “MC” afirma sua presença no hip hop sem abrir mão das raízes. Seu rap nasce do encontro entre os cantos tradicionais dos Guarani Kaiowá e a batida urbana, transformando arte em denúncia, resistência e afirmação de identidade.
“Descobri no rap uma ferramenta capaz de transformar minhas dores, e de muitas mulheres indígenas, em força. Aprendi o português já na adolescência e percebi que podia ecoar não apenas minhas vivências pessoais, mas também a resistência de toda uma coletividade”, explica a artista.
O disco reúne oito faixas autorais que abordam temas como empoderamento feminino, violência contra a mulher, violência obstétrica, abandono de crianças indígenas e assédio. “Eu conto a história de mulheres como se tivesse passado por aquilo, mas muitas vezes é a história de outras. Quero que as pessoas se identifiquem e que minhas rimas sejam a voz delas”, afirma Anarandá.
Entre as músicas, duas já ganharam clipes no YouTube: “Mãe” e “Che Machu mandu’a kuemi – As lembranças da minha avó”. O álbum traz ainda “Assédio”, “Te procuro”, “Escuta minha voz”, “A dor de um parto”, “Amazônia” e “Jasy Tata – A lua de fogo”, que terá videoclipe lançado em novembro.
Cada faixa é atravessada pela memória ancestral e pela luta diária dos povos originários. “Minha maior inspiração foram meu povo e meus ancestrais, sobretudo as mulheres que resistem. Minha avó, que hoje tem 112 anos, me trouxe energia e fé de que minha música é revolucionária”, reforça.
O projeto foi viabilizado pelo Fundo de Investimentos Culturais (FIC), da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, e contou com direção artística do músico Vinil Moraes. Os beats são assinados por Wagner Bagão e há participações da Orquestra Indígena, regida pelo maestro Eduardo Martinelli, da multi-instrumentista Kezia Miranda, do criador visual Pitter Marques e da cineasta Marineti Pinheiro, responsável pelos dois clipes já lançados.
Fonte: primeirapagina