Neste Dia de Finados, enquanto muitos visitam os cemitérios para lembrar quem partiu, há quem transforme a saudade em gesto vivo de amor. Em meio ao silêncio das lápides, histórias de dor se misturam a lições de esperança, como a de um homem que decidiu que o luto não seria o fim, mas o começo de um jardim.
No cemitério, o silêncio fala alto. Entre flores e lembranças, o Dia de Finados se transforma em reencontro para quem perdeu alguém que ama. E, no meio da dor, há histórias que florescem, literalmente. Uma delas é a de Jorge Zucchi, morador de Várzea Grande, que encontrou na ausência da esposa uma forma diferente de continuar amando.
Durante a pandemia, Jorge perdeu Neide, companheira de 38 anos. Sem poder se despedir, ele transformou o túmulo da esposa em um verdadeiro jardim. Plantou flores, refez a calçada, pintou o muro e até cavou um poço artesiano para que as plantas nunca morressem. Assim nasceu o Jardim da Neide, um espaço que se destaca entre tantas lápides simples e quebradas do cemitério.
“Ela adoeceu à noite e, quando foi de manhã, a gente levou ela na UPA. Pouco depois, disseram que ela tinha morrido. A única coisa que não deixaram foi fazer o velório”, lembra Jorge, emocionado.
“Até hoje eu não consigo me recuperar. Às vezes começo a falar e começo a chorar.”
O adeus negado fez a dor se prolongar, mas a saudade de Jorge é um sentimento que exige presença. Para ele, o cuidado com o jardim é uma forma de continuar convivendo com o amor de uma vida inteira.
A professora Marilene Aquino, que também perdeu familiares próximos, entende bem o sentimento.
“Eu perdi meu irmão há quatro anos, numa situação muito difícil. Eu não conseguia aceitar. Meu marido me disse: ‘Pensa que ele fez uma viagem’. E foi assim que aprendi a seguir”, conta.
O psicólogo Rodrigo Andrade explica que o luto é um processo natural, mas que pode se transformar em movimento de vida.“O luto não é igual pra todo mundo. É um caminho doloroso, mas que pode levar à resiliência. É usar a dificuldade pra continuar caminhando”, explica.
Entre flores e memórias, o Jardim da Neide se tornou símbolo da teimosia do amor, aquele que se recusa a ser apenas saudade. “Se eu pudesse conversar com a Neide agora, diria que nós não conseguimos esquecê-la”, diz Jorge.
Neste Dia de Finados, talvez a pergunta que fique seja simples, mas profunda: o que levamos do cemitério, a dor que partiu ou a dor que ficou?
No jardim de Jorge, a resposta parece brotar entre as flores: a morte leva o corpo, mas o amor permanece vivo.
Fonte: primeirapagina






