Água mole em pedra dura… o resto você já sabe, e foi o que rolou com o Grand Canyon, nos Estados Unidos – uma obra de arte natural que levou cerca de 5 ou 6 milhões de anos para ser esculpida pela erosão causada pelo rio Colorado.
Na Lua, aconteceu algo parecido, mas o processo foi bem mais fácil: dois cânions enormes, de tamanho parecido com o Grand Canyon, surgiram no “lado oculto” da Lua em menos de 10 minutos.
Esses cânions estão perto do polo sul lunar, onde a Nasa pretende levar seres humanos com a missão Artemis III, no meio de 2027. Eles surgiram praticamente juntos há cerca de 3,8 bilhões de anos, e fazem parte da bacia de Schrödinger, uma cratera gigante de 312 km de diâmetro formada pelo impacto de um grande objeto espacial.
Um novo estudo afirma que esse impacto de um objeto não identificado também foi o que causou a criação dos cânions: a colisão principal teria gerado detritos que, por sua vez, causaram impactos secundários, responsáveis por formar as estruturas.
A energia liberada pelo impacto foi cerca de 130 vezes maior do que se todo arsenal nuclear do mundo explodisse de uma vez. A pesquisa foi publicada na Nature Communications.
Um conto de dois cânions
Os cânions são chamados de Vallis Schrödinger e Vallis Planck. “Vallis” significa “vale” em latim, enquanto os segundos nomes homenageiam físicos do século 19: o austríaco Erwin Schrödinger e o alemão Max Planck.
As imagens dos cânions analisadas pelos pesquisadores foram produzidas pela sonda Orbitador de Reconhecimento Lunar (LRO, na sigla em inglês) da Nasa, que acompanha o satélite natural desde 2009. Os dados que essa espaçonave robótica coletou serviram para construir mapas da região da bacia e seus arredores.
O Vallis Schrödinger tem 270 km de comprimento e 2,7 km de profundidade, enquanto o Vallis Planck tem 280 km de comprimento e 3,5 km de profundidade. O Grand Canyon, correlato terráqueo dos cânions lunares, tem 446 km de comprimento e 1,8 km de profundidade.
Com esses dados, os pesquisadores conseguiram calcular o tamanho e a velocidade das pedras que precisaram se soltar do impacto principal para criar os cânions. Foram fluxos de pedra e detritos que causaram impactos secundários e crateras menores – ainda que gigantescas.
O objeto que atingiu a Lua provavelmente estava voando numa velocidade de quase 55 mil km/h. Já os detritos que abriram os cânions alcançaram velocidades de 3.600 km/h.
Missões futuras para a Lua, como a Artemis III, podem ir até a bacia de impacto Schrödinger e coletar amostras de pedra para entender melhor a história geológica da Lua – e até da Terra. Como eram as condições de asteroides no começo da história do Sistema Solar? Os processos geológicos apagaram essas marcas da Terra, mas não da Lua, que pode revelar o passado do planeta da sua perspectiva.
Fonte: abril