O jornalista Jamil Chade descreve, em seu livro Tomara que você seja deportado: uma viagem pela distopia americana, a situação de desumanização enfrentada por imigrantes durante a gestão de Donald Trump nos Estados Unidos. A obra, lançada pela editora Nós, retrata um país marcado pela desigualdade social e pelo enfraquecimento das instituições democráticas.
Em entrevista exclusiva, Chade detalhou a trajetória da pesquisa que motivou o livro. Entre 2024 e 2025, percorreu milhares de quilômetros em mais de dez estados norte-americanos e visitou ambos os lados do muro que separa os EUA do México. O jornalista também contextualiza a influência dos EUA na América Latina, afirmando que o país busca consolidar sua hegemonia regional, com destaque para o Brasil como peça central de sua estratégia.
Jamil, correspondente internacional em Genebra há 25 anos, visitou 70 países e acompanhou diversos meios de comunicação. O título do livro faz referência a um episódio envolvendo seu filho em Nova York, usado como símbolo da cultura de hostilidade contra estrangeiros.
O autor explica que a distopia apresentada na obra não é apenas literária: cidades em estados como Arkansas mostram sinais de abandono e pobreza extrema, criando um cenário comparável a países subdesenvolvidos. Além disso, ele alerta que a desumanização é um mecanismo deliberado para retirar direitos de imigrantes, reforçando políticas de deportação e xenofobia.
Outro ponto central do livro é o papel da desinformação digital na ascensão de Trump, que, segundo Chade, teve a democracia “hackeada” por plataformas digitais. Essa estratégia foi complementada por veículos de mídia pró-Trump, como a Fox News, que validaram narrativas enganosas e teorias conspiratórias.
Chade também aborda as ações autoritárias do governo, como o uso da Guarda Nacional para intimidação e a manipulação de distritos eleitorais no Texas, medidas que questionam a integridade da democracia americana. Segundo ele, os instrumentos democráticos foram usados para manter um grupo no poder e desmontar garantias como a liberdade de expressão.
Sobre o cenário internacional, o jornalista destaca que Trump busca desestruturar a ordem mundial pós-Segunda Guerra, enquanto a aliança entre China, Rússia e Índia apresenta um contraponto multilateral. Na América Latina, o livro mostra como os EUA pressionam países da região, com especial atenção ao Brasil, considerado estratégico na disputa de hegemonia com a China.
Fonte: cenariomt