O ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe no país, mencionou a si mesmo como vítima pelo menos 12 vezes na delação do tenente-coronel .
Na terça-feira 18, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas nesse inquérito. Segundo a investigação, Moraes figurava como alvo em um plano que tinha o objetivo de assassiná-lo, assim como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Até agora, a Polícia Federal (PF) e a Procuradoria-Geral da República não apresentaram provas das acusações. .
Durante o depoimento, Cid relatou um pedido realizado em 16 de dezembro de 2022 pelo coronel Marcelo Câmara, também denunciado pela PGR, para que fosse informada a localização de Moraes.
“No dia da operação, o senhor trocou informação com o coronel Câmara exatamente para fornecer a ”.
Mauro Cid: “Isso foi no dia 16, um dia depois. Eu estava fora, em Itatiba, Campinas, e eles me pediram a localização do senhor”.
Em seguida, Moraes perguntou o motivo do pedido de localização:
“O senhor nem perguntou por que queriam a ?”
“Ministro, é um pouco a necessidade do saber, né? Na minha cabeça, talvez fosse fazer uma manifestação, alguma coisa. Não quis perguntar. Talvez não quisesse perguntar para que, talvez, não quisesse saber, mas não esmiucei o que seria”.
“Aí, o senhor participa da reunião com eles, e o general Braga Netto. O senhor é procurado de novo para arrumar dinheiro”.
“Sim, senhor”.
O tenente-coronel também mencionou um episódio de 2018, em que manifestantes jogaram tinta nas paredes do prédio da ministra Cármen Lúcia, do STF:
“Aí, o senhor fala com o general Braga Netto. O senhor vai até o PL: ‘Aqui não pode, não dá’. Depois, o senhor vê que o general Braga Netto arrumou o dinheiro. Obviamente, é porque aí o senhor sabe que alguma coisa está em curso. Aí pedem a . O senhor não fez uma ligação em relação a isso?”
“Ministro, digamos que eu estava ajudando, mas sem… Até porque senti que eles não queriam que eu me envolvesse, porque quanto mais sabe de alguma coisa, é pior… Quanto mais informação você passa a perguntar, é… ainda mais pelo WhatsApp. Então: o que você vai fazer? Que vocês estão fazendo? Eu não sabia. O dia do reconhecimento, que eles vieram, não sabia. Eu não sabia que eles estavam aqui. Então, o que foi acontecendo, não sabia, né? Não sabia se ele, sei lá, se eles iam tacar alguma coisa na casa do senhor como fizeram na casa da ministra, ou fazer foguetório, ou… Eu não tinha esse nível de detalhamento e ciência, nem quando ia acontecer e se ia acontecer, né, em cima disso aí”.
“O senhor falou: Como fizeram na casa da ministra. O que eles fizeram na casa da ministra?”
“Tem uns anos que tacaram tinta na casa da ministra Cármen Lúcia.”
“Ah, sim! Certo.”
“É. Achei que fosse, na minha cabeça, acontecer alguma coisa assim, né? Utilizando manifestantes, né? Eu não, não, não achei que fosse chegar a mais coisas, digamos assim, né?”
Em outro ponto do depoimento, o ministro perguntou sobre a origem do monitoramento:
“O já havia começado antes?”
“Ministro, a primeira vez que solicitei foi só nesse pacote. Não me lembro de ter pedido antes algum monitoramento do senhor para o coronel Câmara. Não estou me recordando”.
“A troca de mensagens entre o senhor e o Marcelo Câmara relativa ao , do presidente Lula, cerimônia de diplomação, que foi no dia 12”.
“É, essa mensagem, ministro, não me lembro. Quando li a mensagem, falei: não me lembrava dela”.
“E quando o presidente, o ex-presidente Jair Bolsonaro, pediu o , vocês fizeram, certo?”
“Solicitei ao coronel Câmara”.
O ministro então resumiu o depoimento:
“Vamos lá, Cristina [chefe de gabinete]: que o colaborador [Mauro Cid] recorda-se que, a primeira vez que pediram monitoramento , foi feita pelo então pelo presidente Jair Bolsonaro”.
“Não, desculpa, ministro. A primeira foi a pedido ou pelo Ferreira Lima, não me recordo quem foi, que foi ali no dia 16.”
“Então, que o colaborador recorda-se que a primeira vez que pediram monitoramento , que foi pelo coronel de Oliveira e Ferreira. O monitoramento, então, foi solicitado pelo colaborador ao Câmara, que era quem realizava essas ações. Isso ocorreu no dia 16 de dezembro. Posteriormente, às vésperas do Natal, quem solicitou o monitoramento foi o ex-presidente Jair Bolsonaro. O colaborador não se recorda de ter solicitado qualquer monitoramento no dia 12, o dia da diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva”.
“Está bem. Que, apesar de ter participado da reunião do dia 12 na casa do general Braga Netto e de ter presenciado a entrega do dinheiro pelo general Braga Netto ao coronel de Oliveira, o colaborador não fez ligação desses fatos com eventual prisão ou sequestro quando, no dia 16 de dezembro, solicitou-se novamente seu monitoramento. O colaborador esclarece que essa compartimentação das etapas faz parte do protocolo das Forças Armadas e nada mais específico foi-lhe dito quando pediram, no dia 16, a localização ”.
O magistrado, então, perguntou sobre a justificativa de Bolsonaro para solicitar o monitoramento:
“Vamos lá, que falta um pouco ainda. Coronel, o senhor já tinha dito, no depoimento anterior, e hoje disse novamente, que o pedido do presidente Bolsonaro para foi porque ele achou que eu pudesse me encontrar com o vice-presidente general Mourão”.
A PF acredita que os suspeitos estariam prontos para executar uma ação contra Moraes em 15 de dezembro de 2022. Segundo as autoridades, a prisão ou a execução do ministro estaria planejada para aquele dia.
O grupo, que se comunicava por meio do aplicativo Signal, mantinha um grupo denominado “Copa 2022”, no qual utilizavam codinomes inspirados em seleções de futebol, como Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana. A operação teria sido iniciada às 20h33, mas cancelada às 20h59, poucos minutos antes de sua execução.
Além do ex-presidente Jair Bolsonaro, . Eis os nomes:
- Ailton Gonçalves Moraes Barros;
- Alexandre Rodrigues Ramagem;
- Almir Garnier Santos;
- Anderson Gustavo Torres;
- Ângelo Martins Denicoli;
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira;
- Bernardo Romão Correa Netto;
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha;
- Cleverson Ney Magalhães;
- Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira;
- Fabricio Moreira de Bastos;
- Filipe Garcia Martins Pereira;
- Fernando de Sousa Oliveira;
- Giancarlo Gomes Rodrigues;
- Guilherme Marques de Almeida;
- Hélio Ferreira Lima;
- Marcelo Araújo Bormevet;
- Marcelo Costa Câmara;
- Márcio Nunes de Resende Júnior;
- Mário Fernandes;
- Marília Ferreira de Alencar;
- Mauro César Barbosa Cid;
- Nilton Diniz Rodrigues;
- Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho;
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira;
- Rafael Martins de Oliveira;
- Reginaldo Vieira de Abreu;
- Rodrigo Bezerra de Azevedo;
- Ronald Ferreira de Araújo Júnior;
- Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros;
- Silvinei Vasques;
- Walter Souza Braga Netto; e
- Wladimir Matos Soares.
Fonte: revistaoeste