O cinema produzido em Mato Grosso voltou a ganhar projeção internacional ao ser o único representante brasileiro na programação do International Film Festival of India (IFFI), o mais tradicional festival de cinema da Índia e uma das principais vitrines do audiovisual asiático.
O longa Memória de Elefante, dirigido pelo cineasta mato-grossense Severino Neto, foi exibido em Goa com sessão lotada e despertou a atenção do público estrangeiro ao apresentar um retrato pouco usual do Brasil no circuito internacional: o cerrado, os conflitos agrários e a relação entre humanidade, território e natureza.
Durante a exibição no festival, o filme provocou debates entre espectadores e críticos indianos, especialmente pela abordagem sensível de temas ligados à memória, ao afeto e à regeneração ambiental — questões que atravessam diferentes realidades globais.
Inspirado no santuário de elefantes
Um dos aspectos que mais chamou a atenção da imprensa internacional é a origem da narrativa. Memória de Elefante tem como inspiração o Santuário de Elefantes Brasil (SEB), localizado em Chapada dos Guimarães.
Reconhecido como o único santuário de elefantes da América Latina, o espaço acolhe animais resgatados de circos e zoológicos e se tornou referência em recuperação ambiental. No local, áreas degradadas do cerrado passam por processos de regeneração, com retorno da fauna e das nascentes.
No filme, a simbologia dos elefantes — associados à memória, permanência e resistência — se conecta diretamente às trajetórias dos personagens e ao próprio território retratado.
Cerrado e conflitos
A recepção do público em Goa evidenciou a curiosidade diante de um Brasil distante do imaginário urbano mais comum nas produções nacionais exibidas no exterior.
O longa apresenta:
- uma mulher de 60 anos marcada por um luto que atravessa décadas;
- dois jovens do interior enfrentando desigualdades sociais e afetos reprimidos;
- e um cerrado que resiste à expansão do agronegócio, especialmente da soja.
A paisagem assume papel central na narrativa, funcionando quase como um personagem, ao conectar regeneração ambiental e sobrevivência emocional em meio às disputas por terra.
Cinema mato-grossense em circulação internacional
Com trajetória marcada por participação em laboratórios, WIPs e premiações, Memória de Elefante consolida Severino Neto como um dos nomes em ascensão do cinema autoral brasileiro. A exibição no IFFI representa uma nova etapa na circulação internacional do filme e amplia a visibilidade do audiovisual produzido fora do eixo tradicional Rio–São Paulo.
A boa recepção também está ligada à atualidade de seus temas, como conflitos territoriais, mudanças climáticas, relações intergeracionais e a paisagem como espaço de memória — pautas que dialogam diretamente com debates globais sobre meio ambiente, pertencimento e deslocamento.
Fonte: primeirapagina






